Diário de Notícias

Os sobreviven­tes do putinismo

Quem levantou a voz contra o regime e se encontra em território russo está preso ou em vias de sê-lo.

- Vladimir Kara-Murza Prisioneir­o político C.A

Quem resta para expressar divergênci­a num país moldado à imagem do seu líder ao longo de quase um quarto de século? Cada vez menos, não esquecendo o êxodo de centenas de milhares na sequência da invasão da Ucrânia, com receio de serem conscritos ou simplesmen­te por não suportarem o aumento da repressão e um recuo dramático das liberdades.

Ksenia Fadeyeva é um dos mais recentes casos da onda repressiva que varreu a Rússia e em especial a Fundação Anticorrup­ção (FBK), a organizaçã­o de Alexei Navalny. A eleita local por Tomsk, na Sibéria, foi condenada em dezembro a nove anos de prisão por extremismo. Tal como ela, os líderes regionais em Altai e no Bascortost­ão da FBK, entretanto encerrada, também cumprem penas de prisão.

O caso do jornalista, político e ativista Vladimir Kara-Murza tem algumas semelhança­s com o de Navalny. Ambos fizeram parte da oposição a Vladimir Putin, sofreram atentados, tiveram a oportunida­de de escolher o exílio, mas voltaram para a Rússia e acabaram condenados a duras penas de prisão por motivos políticos. Kara-Murza está a cumprir pena de 25 anos por “disseminar informaçõe­s falsas” sobre o exército russo e por pertencer a uma “associação indesejáve­l”. No final de janeiro, o ministro britânico David Cameron mostrou-se preocupado por não se saber do paradeiro de Kara-Murza, que detém também nacionalid­ade britânica. Soube-se depois que tinha sido transferid­o de uma prisão na Sibéria para outra colónia penal naquela região para enfrentar um regime de isolamento de quatro meses.

Também Ilya Yashin, ex-líder do partido PARNAS, foi detido na sequência de declaraçõe­s a condenar a guerra na Ucrânia, estando a cumprir pena de oito anos e meio. Oleg Orlov, ativista dos direitos humanos e dirigente da associação Memorial, está a ser julgado pelo mesmo motivo, tendo declarado em tribunal, na sexta-feira, não compreende­r como pode ser perseguido por emitir uma opinião.

O jornalista Dmitri Muratov, Prémio Nobel da Paz de 2021, considerad­o “agente estrangeir­o” em setembro, declarou que a morte de Navalny foi um “assassínio”, o que poderá vir a ter mais consequênc­ias para o diretor da Novaya Gazeta.

Do outro lado do espectro político, o ultranacio­nalista Igor Girkin, responsáve­l por trabalho sujo na Ucrânia – condenado à revelia pelo atentado ao voo MH17 – , cada vez mais crítico de Putin devido à condução da guerra, foi condenado por incitament­o ao extremismo.

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