Diário de Notícias

Egito está a preparar-se para fuga de palestinia­nos da Faixa de Gaza

Iminência da ofensiva israelita em Rafah levou o Egito a construir um muro um campo de acolhiment­o junto à fronteira. Telavive garante que está a coordenar ação com o Cairo.

- TEXTO ANA MEIRELES

OEgito está a construir um muro junto à sua fronteira com a Faixa de Gaza, mas também a preparar uma área que poderá acolher palestinia­nos em fuga, numa altura em que está cada vez mais próximo um ataque terrestre das forças israelitas na cidade de Rafah, noticiaram ontem a agência de notícias AP e o Wall Street Journal. Estes preparativ­os não foram confirmado­s pelas autoridade­s egípcias.

As imagens de satélite analisadas ontem pela AP, e captadas na quinta-feira, mostram os trabalhos de construção de um muro localizado ao longo da Estrada Sheikh Zuweid-Rafah a cerca de 3,5 quilómetro­s da fronteira com a Faixa de Gaza, e nas quais podem ser vistos guindastes, camiões e barreiras de betão a serem colocadas ao longo da via. A AP pediu um comentário ao Governo egípcio sobre esta infraestru­tura, mas sem sucesso.

Num vídeo divulgado segunda-feira pela Fundação Sinai para os Direitos Humanos já se podiam ver guindastes a colocarem blocos de betão formando uma muralha. Segundo esta organizaçã­o sedeada em Londres, a construção “destina-se a criar uma área isolada e fechada de alta segurança perto das fronteiras com a Faixa de Gaza, em preparação para a receção de refugiados palestinia­nos no caso de um êxodo em massa”.

Não muito longe deste muro, o Egito construiu um campo fechado e seguro para acolher os palestinia­nos de Gaza em fuga, em caso de ofensiva israelita em Rafah. Segundo o Wall Street Journal, citando responsáve­is e peritos em segurança, “um recinto fechado de 13 quilómetro­s quadrados” foi construído na fronteira com o sul da Faixa e Gaza.

Este campo faz parte dos “planos de emergência” para acolher refugiados, após o anúncio do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de uma próxima ofensiva militar no sul de Rafah, e poderá receber “mais de 100 000 pessoas”, adianta o mesmo jornal.

No relatório que publicou no início desta semana, além das informaçõe­s sobre o muro, a Fundação do Sinai para os Direitos Humanos afirmou que o Egito construiu “uma zona fechada de alta segurança e isolada” para os refugiados palestinia­nos, “em caso de êxodo em massa”. Uma informação desmentida pelo governador do Norte do Sinai, Mohamed Abdel Fadil Choucha, mas a ONG egípcia sublinhou que dois chefes de empresas locais confirmara­m a obtenção dos contratos para construir uma área fechada “rodeada por muros de sete metros de altura”.

Não atravessar a fronteira

Estes relatos surgem no dia em que o alto comissário da ONU para os refugiados (ACNUR) defendeu que é essencial evitar que os habitantes do sul de Gaza fujam para o Egito, porque isso pode destruir o processo de paz. “As pessoas não devem atravessar a fronteira”, apelou Filippo Grandi a partir do Fórum de Segurança de Munique.

“Seria catastrófi­co para os palestinia­nos, especialme­nte para aqueles que seriam forçados a deslocar-se mais uma vez. Seria catastrófi­co para o Egito em todos os sentidos. E, mais importante do que qualquer outra coisa, uma nova crise de refugiados significar­ia a sentença de morte de um futuro processo de paz”, afirmou o líder do ACNUR.

Grandi disse ainda acreditar que, uma vez fora de Gaza, os refugiados não poderiam mais regressar para as suas casas, como aconteceu com o grande êxodo de 1948, e arruinaria­m a possibilid­ade de uma solução de dois Estados na região. Por isso, este responsáve­l considera que um novo êxodo “deve ser evitado a todo o custo”, informando que o ACNUR não está envolvido nos preparativ­os que os egípcios parecem estar a fazer para acolher os palestinia­nos de Gaza.

Falando também a partir de Munique, o ministro dos Negócios Estrangeir­os de Israel disse à Reuters que Telavive está a trabalhar em parceria com o Cairo a questão dos refugiados palestinia­nos e que encontrará uma forma de não prejudicar os interesses do Egito. “O Estado de Israel terá de lidar com Rafah porque não podemos simplesmen­te deixar o Hamas lá”, afirmou Israel Katz.

Sobre o destino do refugiados que se encontram em Rafah, Katz sugeriu a segunda maior cidade da Faixa de Gaza, Khan Yunis, voltando a reforçar a ideia de que Israel se coordenará com o Egito.

Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, pediu para os palestinia­nos evitarem fugir para o Egito, pois, saindo de Gaza, podem não conseguir regressar a suas casas, arruinando a possibilid­ade de uma solução de dois Estados na região.

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Palestinia­nos na praia perto da fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, no campo de refugiados de Rafah.

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