Proclama-se agnóstico e de esquerda, mas não esconde ter ficado impressionado com os vira-casacas do PREC, que na véspera estavam com o Estado Novo e depois surgiram como os mais inflamados dos revolucionários.”
mente a tem, associada a uma não menor curiosidade, manifestada desde tenra infância. Nos seus relatos de menino em Luanda, o que mais surpreende e desvanece é a forma com que ele, muito miúdo, absorvia avidamente tudo quanto os adultos lhe mostravam: os livros de Sandokan, de Sherlock Holmes e Júlio Verne da biblioteca do senhorio dos seus pais, o Sr. Faia (e D.ª Eduarda, sua mulher, “um casal maravilhoso”), que o ensinou a escrever à máquina no teclado de uma Royal e que, mais tarde, o dissuadiu de Histórico-Filosóficas em favor das engenharias do Técnico; os bailes e o basquetebol no Clube União São Paulo; a cinefilia descoberta com o Sr. Ramos, dono do Cinema Colonial, onde o pequenito Carlos passava horas a ajudar o projeccionista; a aprendizagem da revelação no laboratório do Sr. Adriano, dono de uma loja de fotografia; o convívio com colegas de liceu de classes mais elevadas, cujos modos à mesa observava atentamente, sempre a estudar, sempre a aprender; o cineclubismo e a música pop, ouvida nas festas e na telefonia, as leituras dos clássicos russos e de
do grande Martin Du Gard; a rejeição do existencialismo de Sartre, em favor da vida boa de Angola, com mergulhos na piscina do Clube Nun’Álvares e os camarões e as
da ilha, ou a tertúlia no Café Monte Carlo, com Luandino Vieira e outros, onde recebeu as primeiras luzes de oposicionismo e de anticolonialismo, as quais, todavia, não o impediriam de colaborar num programa semanal da Mocidade Portuguesa, A Voz
a sua estreia aos microfones da rádio, em 1956. Tinha então 14 anos.
Pouco depois, e nesse mesmo ano mágico de 1956, ocorreu aquele que foi, muito provavelmente, o instante decisivo da sua vida, mil vezes contado: desejando ardentemente assistir ao jogo de futebol entre a selecção militar portuguesa e a selecção de Luanda, meteu uma cunha ao padre José Maria Pereira, seu professor de Religião e Moral no liceu e grande patrão da Rádio Ecclesia, Emissora Católica de Angola, para que este o autorizasse a entrar no estádio com a carrinha da emissora. Aconteceu que, a meio do jogo, ou coisa que o valha, o locutor Rui Romano passou-lhe o microfone para as mãos e anunciou que ele ia prosseguir o relato. Desenvencilhou-se com garbo e presteza, o que lhe valeu um convite imediato para ingressar nos quadros da Emissora Católica. Com apenas 14 anos, começava a sua carreira na rádio, na qual fez dezenas de relatos desportivos e, entre o mais, a cobertura de uma viagem promocional da Força Aérea a
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