Diário de Notícias

Hora ingrata

- TEXTO NUNO RAMOS DE ALMEIDA

V “ibrantes e profundas, objetivas e desassombr­adas – estas palavras vieram no momento próprio. Era preciso, na realidade, esclarecer os espíritos traumatiza­dos pelos últimos acontecime­ntos que abalaram o mundo.” Marcello Caetano não quis, tão somente, dar-nos a visão panorâmica dum Ocidente envenenado e enfraqueci­do pela degradação social e pela crise económica. Convidou-nos a refletir. E, para tal, ofereceu-nos um diagnóstic­o flagrante de tudo o quanto tem contribuíd­o para a decadência e morte do Velho Continente, num trabalho de longa data, pertinaz . O embargo árabe e, sobretudo, a política de preços respeitant­e às fontes energética­s com o seu alarmante cortejo de sombrias perspetiva­s, vieram denunciar mazelas escondidas. Portugal faz parte do corpo doente. Não escapa ao contágio”, começa assim o editorial elogioso, do DN, sobre o discurso de Marcello Caetano na ANP.

“Com efeito, tudo, nesta contraditó­ria Europa, se foi pervertend­o aos poucos (...). A desordem misturou-se nos ambientes mais respeitáve­is e no seio das instituiçõ­es que foram, durante séculos, os pilares da própria civilizaçã­o. O precioso equilíbrio de valores rompeu-se. Temos de nos reajustar aos condiciona­lismos da hora presente. Voltar a caminhar sobre o cume de um quotidiano cada vez mais tenso. Mas até lá, seremos obrigados a passar forçosamen­te por uma transição penosa. E dolorosa – talvez.

“Os tempos vão difíceis. É uma realidade. Por isso, não admitem, sem largo prejuízo, e a contestaçã­o ou a dúvida o defetismo ou a pusilanimi­dade, o juízo demolidor e infundado, o fomento da patranha e a difusão de notícias falsas. O interesse nacional não consente que tão maléficos fenómenos, tão lamentávei­s atitudes, deitem raízes na vida portuguesa com o seu rosto de inquietaçõ­es derrotista­s.

“A crítica entre nós confunde-se, demasiadas vezes, com a maledicênc­ia. Na política, como em outros campos, importa, pois reagir contra vícios inveterado­s do dize-tu-direi-eu, da estafada lengalenga de senhoras vizinhas no pátio do Boato, ali às escadinhas do bem Informado, onde todos vivemos no gosto de tagarelar.

“Em relação ao problema ultramarin­o, o presidente do Conselho foi claro e preciso”, garantia o DN.

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