Hora ingrata
V “ibrantes e profundas, objetivas e desassombradas – estas palavras vieram no momento próprio. Era preciso, na realidade, esclarecer os espíritos traumatizados pelos últimos acontecimentos que abalaram o mundo.” Marcello Caetano não quis, tão somente, dar-nos a visão panorâmica dum Ocidente envenenado e enfraquecido pela degradação social e pela crise económica. Convidou-nos a refletir. E, para tal, ofereceu-nos um diagnóstico flagrante de tudo o quanto tem contribuído para a decadência e morte do Velho Continente, num trabalho de longa data, pertinaz . O embargo árabe e, sobretudo, a política de preços respeitante às fontes energéticas com o seu alarmante cortejo de sombrias perspetivas, vieram denunciar mazelas escondidas. Portugal faz parte do corpo doente. Não escapa ao contágio”, começa assim o editorial elogioso, do DN, sobre o discurso de Marcello Caetano na ANP.
“Com efeito, tudo, nesta contraditória Europa, se foi pervertendo aos poucos (...). A desordem misturou-se nos ambientes mais respeitáveis e no seio das instituições que foram, durante séculos, os pilares da própria civilização. O precioso equilíbrio de valores rompeu-se. Temos de nos reajustar aos condicionalismos da hora presente. Voltar a caminhar sobre o cume de um quotidiano cada vez mais tenso. Mas até lá, seremos obrigados a passar forçosamente por uma transição penosa. E dolorosa – talvez.
“Os tempos vão difíceis. É uma realidade. Por isso, não admitem, sem largo prejuízo, e a contestação ou a dúvida o defetismo ou a pusilanimidade, o juízo demolidor e infundado, o fomento da patranha e a difusão de notícias falsas. O interesse nacional não consente que tão maléficos fenómenos, tão lamentáveis atitudes, deitem raízes na vida portuguesa com o seu rosto de inquietações derrotistas.
“A crítica entre nós confunde-se, demasiadas vezes, com a maledicência. Na política, como em outros campos, importa, pois reagir contra vícios inveterados do dize-tu-direi-eu, da estafada lengalenga de senhoras vizinhas no pátio do Boato, ali às escadinhas do bem Informado, onde todos vivemos no gosto de tagarelar.
“Em relação ao problema ultramarino, o presidente do Conselho foi claro e preciso”, garantia o DN.