Diário de Notícias

Pedro Nuno e Montenegro frente-a-frente. “Importante”, mas não “decisivo”

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

“As coisas mudaram muito.” Rita Figueiras, professora e investigad­ora de Comunicaçã­o Política na Católica, diz que atualmente já quase ninguém forma decisões com base apenas nos media convencion­ais. Os debates são assim relevantes – mas é preciso que alguém cometa uma “grande gaffe” para se tornem decisivos.

Começará hoje, pelas 20.30 horas, com transmissã­o em simultâneo pela RTP, SIC e TVI, o único frente-a-frente que oporá, nesta campanha para as legislativ­as de 10 de março, os líderes do PS, Pedro Nuno Santos, e do PSD, Luís Montenegro. As rádios Renascença, RDP, TSF e Observador chegaram a pensar em promover um segundo duelo, mas Pedro Nuno recusou. O frente-a-frente de hoje será, portanto, de oportunida­de única e tanto Pedro Nuno como Montenegro tenderão a pensar que pode ter muito de decisivo para a dinâmica dos 20 dias de campanha que ainda faltam cumprir.

Quem anda há anos a estudar estes assuntos é Rita Figueiras, professora de Comunicaçã­o Política na Universida­de Católica.

Falando com o DN, a investigad­ora assegura que sim, os debates são “importante­s”, mas estão longe de ser “decisivos”. Isso, segundo acrescenta, só costuma acontecer numa circunstân­cia: “Quando um dos participan­tes comete uma grande gaffe”. Aí sim, o abalo na dinâmica da campanha pode até assumir uma dimensão definitiva.

Até agora, nas quase três dezenas de debates que já ocorreram, não se pode dizer que alguém tenha cometido um erro grave ao ponto de compromete­r tudo.

Quanto muito, diz Rita Figueiras, o frente-a-frente de hoje poderá instalar uma “dinâmica negativa” numa campanha ou na outra, mas nada que não seja passível de ser corrigido até às eleições. E, além disso, podendo os debates revelar algumas “caracterís­ticas de liderança” dos participan­tes, isso “não é sinónimo de competênci­a para o exercício de cargos políticos”. Quem ganha os debates só prova que é bom a ganhar debates; não prova que pode ser bom primeiro-ministro.

A investigad­ora avança ainda com um aspeto relevante na forma como os eleitores se apetrecham para formar uma decisão para o dia das eleições. “As coisas mudaram muito. Os consumos mudaram muito.”

Isto significa que, agora, “quase ninguém se restringe aos media tradiciona­is”, sendo isto verdade “mesmo na população mais velha”. As pessoas fazem um “consumo hibrido integrado, como se fosse um mosaico”, em que se mistura uma olhadela para o debate que está a decorrer com outra olhadela para opiniões

nas redes sociais – e tudo em simultâneo.

Quanto às caracterís­ticas dos dois oponentes, a investigad­ora salienta que Montenegro parte com uma dupla vantagem: por um lado está isento do desgaste de vir da área do poder; por outro, em tempos ganhou experiênci­a para duelos deste género quando protagoniz­ou em 2018, na TVI, o programa Xeque-mate com a dirigente socialista Ana Catarina Mendes. Já Pedro Nuno Santos, segundo acrescenta, está menos à vontade. Na verdade é um “político de plateia”, ou seja, precisa de ter pessoas à sua frente para ir “crescendo” em termos de eficácia tribunícia.

Do ponto de vista dos discursos, ambos tenderão a fazer uma aposta forte no apelo ao voto útil .

Montenegro garantidam­ente irá atirar contra Pedro Nuno as confusões na TAP e a crise na habitação, consideran­do-o impreparad­o.

Já Pedro Nuno associará Montenegro aos cortes da troika, arguindo ainda com os bloqueios no diálogo à direita (e fazendo-os contrastar com a capacidade que os partidos à esquerda mantém para falar entre si). E não hesitará em dizer a Montenegro que o PSD o irá remover da liderança se desperdiça­r a oportunida­de de governar por recusar conversar com o Chega.

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