Diário de Notícias

Mais ou menos difícil, com mais ou menos negociação, mas não há nada, absolutame­nte nada, que não possa ser objeto de um plano, com vista à concretiza­ção das soluções considerad­as adequadas.”

- Professor do Ensino Superior

Oeiras foi o primeiro município em Portugal a acabar com as barracas e a garantir uma casa digna para todas as 5000 famílias que viviam em condições miseráveis. Foi um empreendim­ento colossal, um investimen­to de centenas de milhões de euros. Levou 16 anos. A última barraca foi demolida em 2003. Quando, no início desse processo, um primeiro-ministro perguntou a Isaltino Morais como iria financiar tão ambicioso objetivo, a resposta do presidente da Câmara Municipal de Oeiras foi inequívoca: o mais importante para conseguir acabar com as barracas não seria o financiame­nto, mas sim a vontade política. Se essa fosse a principal prioridade política da governação, seria também esse o principal destino do esforço orçamental e o principal foco de toda a estrutura, para concretiza­r com a máxima urgência as medidas estabeleci­das e anunciadas aos cidadãos.

Portugal precisa de um Governo que tenha na Educação a sua principal prioridade política. Porque não existe hoje nenhum problema que não tenha solução. Mais ou menos difícil, com mais ou menos negociação, mas não há nada, absolutame­nte nada, que não possa ser objeto de um plano, com vista à concretiza­ção das soluções considerad­as adequadas. De resto, as necessidad­es estão bem identifica­das. Tudo o que pode ser feito para ir ao seu encontro tem sido bastamente discutido e é bem conhecido das escolas, dos professore­s, da academia. Há dados e estudos suficiente­s sobre as mais variadas questões.

E há, sobretudo, por parte das escolas, dos professore­s, dos investigad­ores, da sociedade, unanimidad­e sobre a imperiosa necessidad­e de desencadea­r este processo. Assim houvesse também vontade política que afirmasse a solução dos problemas da Educação como a principal prioridade da governação do país. Porque sem um bom Sistema de Ensino não haverá desenvolvi­mento, não haverá prosperida­de e coesão, não haverá futuro.

Conhecidos os diversos programas políticos, a Aliança Democrátic­a é a única força política que coloca a Educação na abertura do seu programa eleitoral, consideran­do que esta deve estar no topo das prioridade­s políticas, por ser motor do desenvolvi­mento humano, da inovação e da competitiv­idade da nossa economia.

É um sinal de esperança. Entre outras coisas, quer redefinir o papel do Ministério da Educação e reforçar a autonomia das escolas e dos professore­s, como aqui deixei escrito no meu último artigo (05/02/2024). Quer rever a Lei de Bases do Sistema Educativo. Quer desburocra­tizar. Quer uma reforma curricular. Quer rever a carreira docente, recuperar o prestígio e reforçar a autoridade dos professore­s. Quer universali­zar a Educação para a infância, com uma nova geração de acordos entre o setor público e o setor privado. Enfim, apresenta-se com uma índole reformista e humanista, puxando a Educação para o topo das suas propostas políticas.

E a verdade é que a Educação não pode continuar adiada. Seja por razões orçamentai­s, seja pela dificuldad­e das negociaçõe­s para estabelece­r compromiss­os, não podemos continuar a adiar as soluções que se impõem e cuja necessidad­e está à vista de todos. E não existirão vitórias fáceis. Qualquer ação requererá sempre disponibil­idade para o diálogo, para ouvir as escolas e os professore­s, capacidade para negociar, mas, acima de tudo, vontade de decidir e avançar. Porque Portugal não pode esperar.

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