E depois de Avdiivka? Sem armas e cansados, ucranianos pedem ajuda
O presidente russo Vladimir Putin congratulou-se com “importante vitória”, enquanto o norte-americano Joe Biden apontou o dedo à “inação do Congresso” dos EUA em aprovar apoio.
ARússia reivindicou ontem o controlo total da cidade de Avdiivka mesmo a tempo do segundo aniversário da invasão da Ucrânia, naquela que é a sua maior vitória desde a conquista de Bakhmut, há nove meses, diante de tropas ucranianas cansadas (Kiev está a estudar alterações ao recrutamento para renovar as suas forças), a falta de armas e munições (à espera que o Congresso dos EUA desbloqueie a ajuda) e com uma linha da frente de mais de 900 quilómetros, as notícias não são boas para o presidente Volodymyr Zelensky. Qual será o próximo alvo de Moscovo?
O presidente russo, Vladimir Putin, congratulou as suas tropas pela conquista de Avdiivka, falando de uma “importante vitória”. Depois de meses em que conseguiram evitar o cerco à cidade, os ucranianos acabaram por recuar para evitar a perda de mais vidas. Moscovo alega que a retirada ucraniana foi apressada e caótica, com alguns soldados a ficarem para trás numa antiga fábrica. O Exército ucraniano admitiu baixas.
O presidente norte-americano, Joe Biden, após um telefonema com Zelensky na noite de sábado, culpou o Congresso dos EUA pela queda da cidade. “O Exército da Ucrânia viu-se obrigado a retirar-se de Avdiivka depois de os militares ucranianos terem de racionar munições por falta de fornecimento resultante da inação do Congresso”, lia-se num comunicado da Casa Branca.
O pacote de ajuda a Kiev, no valor de 60 mil milhões de dólares, passou no Senado, mas está preso na Câmara dos Representantes devido à relutância dos republicanos em apoiar a Ucrânia sem que haja mais investimento para travar a imigração ilegal na fronteira entre EUA e México.
“Esperamos que a Câmara dos Representantes adote decisões que garantam o apoio adicional necessário à Ucrânia por parte dos EUA. Devemos vencer esta guerra. E devemos fazer isto em união, protegendo os nossos valores partilhados”, escreveu ontem Zelensky no Telegram, após encontrar uma delegação de congressistas democratas e republicanos na Conferência de Segurança de Munique.
Na véspera, o presidente ucraniano tinha denunciado um “défice artificial” de armas e munições – estimativas indicam que a Rússia dispara cerca de dez mil munições de artilharia por dia, contra apenas duas mil dos ucranianos.
O conselheiro de Zelensky, Mykhailo Podolyak, desvalorizou numa entrevista à Agência Lusa a retirada de Avdiivka, dizendo que as forças de Kiev recuaram “100 ou 200 metros”. Mas as agências de notícias russas dizem que o avanço na região foi de 8,6 quilómetros. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que as unidades russas “continuam na ofensiva”, e “não permitem que o inimigo ganhe posições em novas linhas”.
Avdiivka tinha sido brevemente conquistada por rebeldes separatistas pró-russos na guerra de 2014, tendo sido desde então fortificada. Não é claro onde estará a segunda linha de defesa ucraniana. O terreno que os cerca de 50 mil soldados russos têm agora pela frente é, na sua maioria, plano, com os ucranianos a arriscar ter que recuar ainda mais, segundo os especialistas ouvidos pelo New York Times. A próxima grande localidade fica a menos de 60 quilómetros.
“Onde a Rússia vai tentar agora avançar ainda não sabemos. A cidade do nordeste de Kupiansk, a cidade de leste de Chasiv Yar e a vila a sul de Robotyne estão todas ameaçadas, ainda o fumo não se apagou nas ruínas de Avdiivka”, escreveu o jornal norte-americano. Os ucranianos disseram ontem ter conseguido travar um ataque russo no setor de Zaporíjia.
A linha da frente estende-se por mais de 900 quilómetros e há muitos locais onde os russos podem concentrar os seus esforços, face ao cansaço das tropas ucranianas dois anos após a invasão de 24 de fevereiro e depois de uma contraofensiva que não trouxe os resultados esperados na primavera passada. Os maiores sucessos têm ocorrido no Mar Negro, com vários navios russos destruídos por drones – o último na semana passada.
Entretanto, o Parlamento ucraniano está a estudar alterações à recruta e à mobilização, prevendo inclusivamente sanções para quem tentar resistir. Uma das propostas, defendidas esta semana pelo ministro da Justiça, passa por enviar presos e cidadãos com antecedentes criminais para o Exército, mesmo contra a sua vontade. Os deputados ainda estão a debater.