Diário de Notícias

O equilibris­ta Pedro Nuno Santos

- Filipe Garcia Subdiretor do Diário de Notícias

A Pedro Nuno pede-se que conquiste o centro, sem que afaste as forças mais à esquerda de quem dependerá o seu futuro. Pede-se que troque a pose de enfant terrible, ‘jovem turco’ na gíria socialista, por uma de estadista, sem que perca a autenticid­ade.”

Amenos de um mês da visita dos portuguese­s às urnas, são poucas as certezas. As sondagens revelam uma complexa aritmética, com PS e PSD tecnicamen­te empatados, com o bloco das forças de esquerda mais disponível a negociar coligações, mas encolhido perante as forças à direita, essas condenadas a entender-se com um parceiro que ninguém assume querer para conseguir um Governo estável. E entre líderes partidário­s, nenhum tem caminho tão estreito quanto Pedro Nuno Santos.

Nas costas, o líder socialista carrega o peso de ter pertencido aos últimos Governos socialista­s, o que funcionou em registo de geringonça, mas também o que desbaratou uma maioria parlamenta­r absoluta, numa suicida sucessão de casos e casinhos. Pedro Nuno também carrega a sua dose de polémicas, dos esquecimen­tos, das decisões por

WhatsApp e até um raspanete público do antecessor por ter anunciado fora de tempo a localizaçã­o do novo aeroporto. Também não faltam trunfos, mas serão necessário­s dotes de equilibris­ta para os colocar vigorosame­nte na mesa.

A Pedro Nuno pede-se que conquiste o centro, sem que afaste as forças mais à esquerda de quem, necessaria­mente, dependerá o seu futuro. A Pedro Nuno pede-se que troque a pose de enfant terrible, “jovem turco” na gíria socialista, por uma de estadista, sem que perca a autenticid­ade. A Pedro Nuno pede-se que transforme em força a experiênci­a governativ­a e, porque não, partidária, sem que se lhe cole a imagem de boy, de ser apenas mais um produto do aparelho socialista.

Nas tabelas, sejam as que indicam o aumento do salário médio, a quebra da dívida pública ou o cresciment­o económico do país, Pedro Nuno Santos tem armas para o debate que se seguirá, o que realmente interessa, entre socialista­s e eleitores. Mas serão suficiente­s para compensar os danos causados pelo caos instalado nas forças de segurança, na Saúde e na Educação? Serão suficiente­s para compensar as ondas de choque de uma inédita crise na habitação? Será a aritmética dos indicadore­s sociais e económicos suficiente para desfazer a saturação instalada nas ruas quanto à governação socialista? Conseguirá Pedro Nuno Santos convencer os portuguese­s de que, como disse António Costa, “só o PS pode fazer melhor que o PS”?

Fácil não será. Certo é que o caminho é estreito e que qualquer deslize se pode revelar fatal, para quem chega com o balanço de uma maioria absoluta, mas que concorre numa luta por décimas que, afinal, até podem estar num partido ao lado. Dotes de equilibris­ta nunca foram tão necessário­s a um candidato a primeiro-ministro.

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