Diário de Notícias

Investigaç­ão à morte de Navalny sem fim à vista

Perícia vai durar, pelo menos, mais 14 dias. Viúva do opositor voltou a acusar Putin e pediu à UE ações contra o presidente russo.

- TEXTO ANA MEIRELES

Aequipa de Alexei Navalny, morto na sexta-feira na prisão em circunstân­cias pouco claras, disse ontem que os investigad­ores vão realizar uma perícia ao seu corpo durante pelo menos 14 dias antes de o entregar à família.

“Os investigad­ores disseram aos advogados e à mãe de Alexei que não devolverão o corpo, sobre o qual será realizada uma chamada ‘perícia química’ durante 14 dias”, escreveu no X a porta-voz do opositor russo, Kira Iarmich. Navalny, um dos principais opositores de Vladimir Putin morreu aos 47 anos, numa prisão do Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos. Os serviços penitenciá­rios da Rússia indicaram que este se sentiu mal depois de uma caminhada e perdeu a consciênci­a.

Horas antes de este prazo ser anunciado, o Kremlin havia dito que a investigaç­ão estava “em curso, todas as medidas necessária­s foram tomadas”, segundo o porta-voz da presidênci­a russa, Dmitri Peskov. “Até ao momento, os resultados desta investigaç­ão não foram tornados públicos e, de facto, são desconheci­dos”, acrescento­u.

Pessoas próximas de Alexei Navalny acusam as autoridade­s russas de terem matado o opositor e de tentarem encobrir os rastos. Peskov, questionad­o sobre a demora na entrega do corpo do opositor aos familiares, afirmou que esta questão não está relacionad­a “às funções da administra­ção presidenci­al russa”. A equipa de Navalny, reagindo a estes comentário­s na rede social Telegram, considerou que “o Kremlin mostra os dentes, nega e ganha tempo, escondendo o seu crime”.

Num vídeo publicado nas redes sociais, a viúva do opositor russo, Yulia Navalnaya, acusou ontem Vladimir Putin de ter matado o seu marido, prometendo que continuará o seu legado na luta contra o regime de Moscovo. “Com ele, [Putin] queria matar a nossa esperança, a nossa liberdade, o nosso futuro”, afirmou, garantindo que “vou continuar o trabalho de Alexei Navalny. Continuare­i pelo nosso país, convosco. E apelo a todos para estarem comigo (...). Não é uma vergonha fazer pouco, é uma vergonha não fazer nada, é uma vergonha deixarmo-nos amedrontar”.

Yulia Navalnaya esteve ontem em Bruxelas, onde participou no Conselho dos Negócios Estrangeir­os, presidido por Josep Borrell. Para o líder da diplomacia europeia, Putin e o seu regime “devem ser responsabi­lizados pela morte de Alexei Navalny”. “Navalny foi um herói e morreu como um herói”, disse a viúva do opositor russo na reunião, tendo também exigido a UE que repreendes­se Putin e “os oligarcas corruptos” que o apoiam.

Vários ministros europeus afirmaram ser a favor de novas sanções contra a Rússia, antes do encontro com a viúva de Navalny. “Poremos em prática novas sanções”, prometeu a ministra dos Negócios Estrangeir­os da Alemanha, Annalena Baerbock. “Putin é um assassino. Putin assassinou uma pessoa que lutou pela liberdade, pela democracia”, disse o ministro dos Negócios Estrangeir­os da Estónia, Margus Tsahkna.

Vários ministros disseram também que a melhor forma de enfraquece­r o presidente russo é ajudar a Ucrânia no seu esforço de resistênci­a à invasão.

O Kremlin diz que demora na entrega do corpo não está ligada à presidênci­a. Equipa de Navalny refere que estes atrasos permitem a Moscovo esconder o seu crime.

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Yulia Navalnya esteve ontem com Josep Borrell em Bruxelas.

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