Sargentos do Exército muito gratos ao regime
Sargentos, numa prova de lealdade ao regime , fizeram questão de formular perante a pessoa do ministro do Exército, general Andrade e Silva, o sentido agradecimento ao Governo pelos benefícios concedidos à classe – e o ministro lá foi, acompanhado pelo seu subsecretário de Estado, coronel Viana de Lemos, receber os agradecimentos, em luzidia cerimónia, no quartel-general da Região Militar de Lisboa.
O DN deu o devido destaque na primeira página a tão sentida e patriótica iniciativa de representantes da classe dos sargentos. Não admira que assim fosse: o regime queria dar uma imagem de coesão nas Forças Armadas e desvalorizar a contestação dos oficiais do quatro permanente.
Os jornais, impedidos pela censura de noticiar o descontentamento dos oficiais, eram convidados a dar conta do que realmente interessava à Nação – neste caso, a lealdade de sargentos e cabos à política do Governo.
Desde junho de 1973 que o alvoroço tomara conta dos oficiais de carreira – consequência do Decreto-lei 353, que procurava responder à escassez de capitães dos quadros permanentes das diversas armas no esforço da Guerra Colonial.
O diploma, aprovado pelo ministro do Exército, general Sá Viana Rebelo, fixava as condições para a passagem dos milicianos aos quadros. Os de carreira, oriundos da Academia Militar, foram ultrapassados – motivo de forte contestação, que começou na Guiné e rapidamente alastrou a Angola, a Moçambique, à metrópole, e historicamente foi pretexto para uma revolta corporativa que está na génese do movimento dos capitães que viria a derrubar a ditadura.
Enquanto os capitães conspiravam – um grupo de sargentos prestou-se à representação de um “agradecimento ao Governo pela valorização social da classe”.
Falou em nome de todos o sargento-mor Gilberto Martins: “Os sargentos do Exército querem demonstrar ao seu ministro que sabem ser gratos e reconhecidos pelos benefícios que justamente lhes concedeu e afirmar-lhe que pode incondicionalmente contar com a sua lealdade, disciplina e e espírito de sacrifício tanto na paz, como na guerra, quer na metrópole ou nas frentes de combate no nosso Ultramar.”