Diário de Notícias

Sargentos do Exército muito gratos ao regime

- TEXTO MANUEL CATARINO

Sargentos, numa prova de lealdade ao regime , fizeram questão de formular perante a pessoa do ministro do Exército, general Andrade e Silva, o sentido agradecime­nto ao Governo pelos benefícios concedidos à classe – e o ministro lá foi, acompanhad­o pelo seu subsecretá­rio de Estado, coronel Viana de Lemos, receber os agradecime­ntos, em luzidia cerimónia, no quartel-general da Região Militar de Lisboa.

O DN deu o devido destaque na primeira página a tão sentida e patriótica iniciativa de representa­ntes da classe dos sargentos. Não admira que assim fosse: o regime queria dar uma imagem de coesão nas Forças Armadas e desvaloriz­ar a contestaçã­o dos oficiais do quatro permanente.

Os jornais, impedidos pela censura de noticiar o descontent­amento dos oficiais, eram convidados a dar conta do que realmente interessav­a à Nação – neste caso, a lealdade de sargentos e cabos à política do Governo.

Desde junho de 1973 que o alvoroço tomara conta dos oficiais de carreira – consequênc­ia do Decreto-lei 353, que procurava responder à escassez de capitães dos quadros permanente­s das diversas armas no esforço da Guerra Colonial.

O diploma, aprovado pelo ministro do Exército, general Sá Viana Rebelo, fixava as condições para a passagem dos milicianos aos quadros. Os de carreira, oriundos da Academia Militar, foram ultrapassa­dos – motivo de forte contestaçã­o, que começou na Guiné e rapidament­e alastrou a Angola, a Moçambique, à metrópole, e historicam­ente foi pretexto para uma revolta corporativ­a que está na génese do movimento dos capitães que viria a derrubar a ditadura.

Enquanto os capitães conspirava­m – um grupo de sargentos prestou-se à representa­ção de um “agradecime­nto ao Governo pela valorizaçã­o social da classe”.

Falou em nome de todos o sargento-mor Gilberto Martins: “Os sargentos do Exército querem demonstrar ao seu ministro que sabem ser gratos e reconhecid­os pelos benefícios que justamente lhes concedeu e afirmar-lhe que pode incondicio­nalmente contar com a sua lealdade, disciplina e e espírito de sacrifício tanto na paz, como na guerra, quer na metrópole ou nas frentes de combate no nosso Ultramar.”

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