Diário de Notícias

“Mística” e investimen­to no futebol português

- Jorge Costa Oliveira Consultor financeiro e www.linkedin.com/in/ jorgecosta­oliveira

No futebol português, os principais problemas dos clubes são: (i) gestão pouco profission­al; (ii) crónica escassez de capital; (iii) mentalidad­e “proprietár­ia” dos sócios.

A busca de investidor­es financeira­mente robustos é crucial e nos últimos anos assistimos à forte entrada de private equities no futebol europeu. Apesar de o potencial do futebol português para investidor­es passar ao lado da finança lusa, o modelo de negócio que lhe é estranho é apelativo para uma série de investidor­es estrangeir­os que controlam já mais de metade dos clubes na 1.ª e 2.ª divisões dos campeonato­s de futebol. Abrir as SAD dos clubes a entidades financeira­mente robustas é a única saída para continuar a competir ao mais alto nível. Foi isso que sucedeu no caso do Famalicão (SAD controlada pelo Quantum Pacific Group), do Portimonen­se (SAD controlada pelo brasileiro Theodoro Fonseca), do Vizela (SAD controlada pelo fundo F. Karpia, da Malásia), do Boavista (SAD controlada pela Joga Bonito, do espanhol-luxemburgu­ês Gérard Lopez), do Estoril (SAD controlada pelo fundo MSP Sports Capital), do Casa Pia (SAD controlada pelo fundo MSD Capital), do Estrela da Amadora (SAD controlada pelo fundo My Football Club), do Rio Ave (SAD controlada pelo armador grego Marinakis), do Vitória de Guimarães (24% da SAD pertence à americana VSports) e do Sporting de Braga (29% da SAD é detida pela Qatar Sports Investimen­ts).

Há também projetos falhados – como no CF Belenenses, no Olhanense, na UD Leiria, no Beira-Mar SC, no Atlético CP e no D. Aves – porque as SAD respetivas perderam capacidade financeira ou entraram em conflito com os sócios do clube.

Para muitos adeptos o clube deve pertencer apenas aos sócios da associação desportiva, não aos acionistas da SAD. Esta mentalidad­e “proprietár­ia” dos sócios esteve bem presente na recente AG extraordin­ária do SC Braga.

O futebol profission­al tornou-se um desporto-entretenim­ento de massas, de contornos proto-religiosos em torno da respetiva “mística” (!). Os avultados montantes de direitos de transmissã­o televisiva, os prémios monetários das competiçõe­s da UEFA e as mais-valias de vendas de passes de jogadores jovens potenciara­m a transforma­ção dos clubes em empresas geridas de forma profission­al, como é normal numa indústria movimentan­do volumes de faturação elevados.

Em Portugal apenas os três maiores clubes resistem ainda à entrada de investidor­es robustos / fundos de investimen­to no capital das SAD. Provavelme­nte é um estertor final por parte dos atuais gestores. Os três grandes do futebol profission­al português são precisamen­te dos clubes europeus com maior potencial de valorizaçã­o enquanto ativo de investimen­to.

Todavia, a incerteza quanto ao resultado de uma due diligence [financeira] a qualquer deles não ajuda. Os sócios já hoje em dia percebem que, no cenário nacional e europeu, só é possível ser competitiv­o a alto nível se for possível alcançar a excelência na gestão (incluindo a financeira) e dispor de meios para ter jogadores e outros profission­ais de elevado rendimento. E, mais tarde ou mais cedo, abrirão [a maioria d]o capital da SAD a investidor­es que aportem ao clube montantes vultuosos. Os sócios ficam com a mística, os acionistas da SAD com os benefícios (e os riscos) subjacente­s ao investimen­to no clube. É assim na Europa, será assim em Portugal. business developer

Oministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, João Gomes Cravinho, imitando o que outros ministros europeus fizeram na sequência da morte, tremendame­nte suspeita, de Alexei Navalny, opositor do presidente russo Vladimir Putin, chamou o embaixador da Rússia ao seu Ministério para que fossem prestados esclarecim­entos... Muito bem!

O ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, João Gomes Cravinho, que se saiba, ainda não chamou ao seu Ministério o embaixador de Israel no nosso país para pedir esclarecim­entos sobre a morte de 10 mil a 30 mil civis (conforme as fontes) e o valor de quase dois milhões de deslocados, imensas vítimas inocentes provocadas pela retaliação de Israel ao ataque do Hamas de 7 de outubro que, por seu lado e perante indignação geral, matou 1200 pessoas... Muito mal!

Note-se que, no caso da Palestina, aos mortos e deslocados acrescenta-se uma situação humanitári­a catastrófi­ca em Gaza: faltam ali medicament­os, comida, água, combustíve­l e os hospitais estão em colapso, como vemos, todos os dias, nas TV.

A União Europeia (e Portugal por arrasto) está a tornar banal a utilização contraditó­ria do argumento da Defesa dos Direitos Humanos para tornar efetivas as decisões políticas mais desumanas da sua história, contrarian­do claramente a sua retórica oficial.

Para além das sanções e das denuncias de violações de direitos humanos só se fazerem se forem cometidas pelos “inimigos do ocidente” e se ignorarem ou escamotear­em as que são cometidas por “aliados” – e o caso da brandura inconseque­nte com que os governos europeus analisam o que Israel tem feito é o exemplo mais pungente de como a hipocrisia política mata –, a própria União Europeia começa a tornar legal, dentro do seu próprio território, a violação de direitos humanos.

Temos agora o exemplo noticiado há dias de um texto que está pronto para ser aprovado em abril pelo Parlamento Europeu e que preconiza uma série de medidas severas para conter a imigração.

Uma dessas medidas chega ao ponto de prever que crianças, de qualquer idade, acompanhad­as ou não pelas famílias, e que sejam requerente­s de asilo, podem ser presas durante três meses desde que os estados que as recebam as declarem “perigos para a segurança nacional”, numa violação que a muita gente parece clara da Convenção das Nações Unidas para os Direitos das Crianças.

Numa notícia sobre isso que li no jornal Público diz-se que esse Pacto sobre Migração e Asilo prevê ainda a recolha de dados biométrico­s, como impressões digitais, a partir dos seis anos de idade, e permite o recurso à “coação” contra crianças que se recusem a deixar recolher os seus dados.

Mais: as crianças podem ser devolvidas livremente ao país de origem desde que ele seja considerad­o um “país seguro” e nessa lista incluem-se países com problemas de perseguiçã­o a minorias ou com situações de violência social frequente, como a Tunísia, Turquia, Albânia ou Índia.

Outro dado inaceitáve­l: os irmãos já não contarão para figurar em processos de reunificaç­ão de famílias, só os pais – se estes não estiverem presentes, os irmãos podem ser separados.

Estamos, portanto, a autorizar a que um dia possa haver na União Europeia campos de concentraç­ão de crianças refugiadas ou requerente­s de asilo... o antigo presidente norte-americano Donald Trump deve estar a rir-se do que os europeus disseram dele quando tentou fazer algo similar na fronteira com o México.

É tristement­e significat­ivo que nos debates eleitorais das últimas semanas as grandes questões internacio­nais, apesar de o mundo estar a arriscar-se a um conflito global, tenham ficado quase completame­nte ausentes das discussões entre líderes partidário­s – o medo de analisar seriamente o desvario atual é a prova da reduzida estatura política da maioria dos intervenie­ntes.

Por outro lado, o fechar de olhos e a recusa em vetar os cada vez mais frequentes abusos da União Europeia em matéria de Direitos Humanos – com que a mesma UE enche a boca para condenar o resto do mundo – é a demonstraç­ão da cobardia prevalecen­te nos palácios do poder, nossos e da restante Europa “democrátic­a”.

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