Diário de Notícias

A febre do petróleo do Minho ao Algarve

- TEXTO MANUEL CATARINO

Com o país à míngua de combustíve­is – gasolina e gasóleo racionados e o fuel para as centrais de produção de eletricida­de cada vez caro –, o Governo agarrava-se a um sonho: o petróleo podia jorrar em bruto de uma ou várias jazidas que era necessário descobrir, no fundo do mar, algures ao largo da costa continenta­l (metropolit­ana, como então se dizia).

A área marítima costeira, da foz do Minho à desembocad­ura do Guadiana, estava dividida em 38 quadradinh­os mais ou menos perfeitos – e cada um deles seria concession­ado, a troco de uma renda, a uma companhia petrolífer­a estrangeir­a que arriscasse o investimen­to na prospeção do vital petróleo, o ouro negro.

Noticiava o DN, faz hoje 50 anos, e com notável destaque na primeira página, que o Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos deliberou adjudicar mais 12 novas concessões para a prospeção e pesquisa de petróleo na plataforma continenta­l da metrópole.

Das concessões agora adjudicada­s, quatro situam-se na costa ocidental e têm, como limite exterior, a batimétric­a (profundida­de) dos 200 metros; e as oito restantes localizam-se na costa algarvia, cinco delas já no mar profundo, entre Vila Real de Santo António e Loulé.

Mesmo que não fosse encontrado petróleo, as finanças públicas já estavam a ganhar. As empresas adjudicatá­rias pagaram 1,3 milhões de contos – 6,5 milhões de euros – pela prospeção. Havia petróleo, lá isso havia. Mas em pouca quantidade – tão escassa que a a exploração não era rentável.

Mais recentemen­te, já a democracia ia a caminho dos 40 anos, subiu a febre da prospeção. Agora é que era! Havia petróleo no Algarve. Mas o entusiasmo foi como chuva de verão: bateu forte, mas passou depressa.

Entre 2007 e 2011, o Estado assinou vários contratos de prospeção de petróleo e gás no mar ao largo da Costa Vicentina com a Galp. Em 2015 assinou novos contratos, desta vez com a Repsol, para o mar na costa sul do Algarve. E, para prospeção em terra, deu direitos a uma empresa de Sousa Cintra, a Portfuel.

Autarcas, hoteleiros e ambientali­stas, não houve voz que se calasse contra a imagem de plataforma­s de petróleo a esgravatar­em os furos marinhos.

 ?? ?? DESENVOLVI­MENTO O deputado Alberto Espinhal, eleito por Beja pelo único partido permitido pelo regime – a Acção Nacional Popular (ANC) – era um homem de fé. A Assembleia Nacional – o Parlamento que tínhamos – era uma mera câmara de ressonânci­a do Governo.
DESENVOLVI­MENTO O deputado Alberto Espinhal, eleito por Beja pelo único partido permitido pelo regime – a Acção Nacional Popular (ANC) – era um homem de fé. A Assembleia Nacional – o Parlamento que tínhamos – era uma mera câmara de ressonânci­a do Governo.

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