A febre do petróleo do Minho ao Algarve
Com o país à míngua de combustíveis – gasolina e gasóleo racionados e o fuel para as centrais de produção de eletricidade cada vez caro –, o Governo agarrava-se a um sonho: o petróleo podia jorrar em bruto de uma ou várias jazidas que era necessário descobrir, no fundo do mar, algures ao largo da costa continental (metropolitana, como então se dizia).
A área marítima costeira, da foz do Minho à desembocadura do Guadiana, estava dividida em 38 quadradinhos mais ou menos perfeitos – e cada um deles seria concessionado, a troco de uma renda, a uma companhia petrolífera estrangeira que arriscasse o investimento na prospeção do vital petróleo, o ouro negro.
Noticiava o DN, faz hoje 50 anos, e com notável destaque na primeira página, que o Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos deliberou adjudicar mais 12 novas concessões para a prospeção e pesquisa de petróleo na plataforma continental da metrópole.
Das concessões agora adjudicadas, quatro situam-se na costa ocidental e têm, como limite exterior, a batimétrica (profundidade) dos 200 metros; e as oito restantes localizam-se na costa algarvia, cinco delas já no mar profundo, entre Vila Real de Santo António e Loulé.
Mesmo que não fosse encontrado petróleo, as finanças públicas já estavam a ganhar. As empresas adjudicatárias pagaram 1,3 milhões de contos – 6,5 milhões de euros – pela prospeção. Havia petróleo, lá isso havia. Mas em pouca quantidade – tão escassa que a a exploração não era rentável.
Mais recentemente, já a democracia ia a caminho dos 40 anos, subiu a febre da prospeção. Agora é que era! Havia petróleo no Algarve. Mas o entusiasmo foi como chuva de verão: bateu forte, mas passou depressa.
Entre 2007 e 2011, o Estado assinou vários contratos de prospeção de petróleo e gás no mar ao largo da Costa Vicentina com a Galp. Em 2015 assinou novos contratos, desta vez com a Repsol, para o mar na costa sul do Algarve. E, para prospeção em terra, deu direitos a uma empresa de Sousa Cintra, a Portfuel.
Autarcas, hoteleiros e ambientalistas, não houve voz que se calasse contra a imagem de plataformas de petróleo a esgravatarem os furos marinhos.