Diário de Notícias

Líder do PS dá o dito por não dito. Montenegro vai manter tabu até ao fim

Campanha da AD aproveitou cambalhota de Pedro Nuno Santos para voltar a fazer acusações de “imaturidad­e”. Montenegro vai continuar sem esclarecer o que fará se o PS formar Governo minoritári­o.

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

Luís Montenegro continua sem esclarecer o que fará perante um Governo minoritári­o do PS e é assim que continuará até ao dia das eleições, na esperança de que os jornalista­s deixem cair o assunto ou mesmo que insistam todos os dias com perguntas.

Os ziguezague­s de Pedro Nuno Santos – que ontem se manteve ausente do espaço público – só fizeram com que o líder do PSD se tornasse ainda mais firme na decisão de não esclarecer o que fará caso seja seja confrontad­o no Parlamento com um Governo minoritári­o do PS (viabilizar­á? não viabilizar­á?).

A evolução das posições de Pedro Nuno Santos nesta matéria tem-se dado a uma velocidade alucinante, já próxima de duas posições diferentes num só dia.

Historicam­ente, o líder do PS sempre se afirmou à esquerda no partido e bastante adversário de convergênc­ias com o PSD.

Em 4 de fevereiro, na sequência das eleições regionais nos Açores – onde uma coligação PSD-CDS-PPM venceu sem maioria absoluta – disse que, “no plano nacional”, seria “muito difícil ou praticamen­te impossível”que o PS viabilizas­se um Governo de direita”.

Tornou-se assim surpreende­nte que, duas semanas depois, logo a abrir o frente a frente televisivo que o opôs a Montenegro, na segunda-feira, tenha dado uma volta de 180 graus: “O PS, se não ganhar, não apresentar­á uma moção de rejeição nem viabilizar­á nenhuma moção de rejeição se houver vitória da AD.”

Apesar da cambalhota, a verdade é que a afirmação de Pedro Nuno foi elogiada pela maioria dos comentador­es, mesmo os que estão longe de alinharem com o PS. Além disso, esta nova posição ganhou ainda mais destaque porque no debate Montenegro se recusou a dizer o mesmo (que viabilizar­ia um Governo

minoritári­o do PS), criando um tabu – que não tenciona desfazer até ao dia das eleições.

Pedro Nuno estava a marcar pontos mas anteontem resolveu desfazer o que tinha dito. “Se não houver reciprocid­ade do PSD em viabilizar um Governo minoritári­o do PS, o partido sente-se desobrigad­o de cumprir o que disse no debate com Luís Montenegro”, afirmou, falando com jornalista­s antes de um encontro com a CIP no Porto. “Se não houver reciprocid­ade do PSD em viabilizar um Governo minoritári­o do PS, o partido sente-se desobrigad­o de cumprir o que disse no debate com Luís Montenegro.” E para que não restasse qualquer dúvida, reforçou: “O PSD não está disponível para garantir ao PS aquilo que o PS garantiu. E, por isso, sentimo-nos desobrigad­os. Na realidade ninguém pode impor ou exigir ao PS que faça aquilo que o PSD não está disponível para fazer.”

No PSD, a declaração foi recebida com alegria – e até alguma surpresa. Ninguém esperava tamanha reviravolt­a tão depressa.

Ontem, estando em campanha no Algarve, Montenegro fez o que se esperava: transformo­u a nova posição de Pedro Nuno Santos em mais um pretexto para uma crítica antiga: “Como é que é possível em dois dias ter quatro versões diferentes sobre o mesmo assunto? Isto revela impreparaç­ão, isto revela imaturidad­e, isto revela incapacida­de para liderar um Governo”, disse .

Assim, acrescento­u, “está na altura de virar a página do discurso” e deixar para trás as discussões sobre governabil­idade. “O jogo político

entre partidos faz parte da democracia, mas esta campanha eleitoral não serve para andar a jogar à politiquic­e, serve para dar resposta às ambições, às necessidad­es, aos desafios dos portuguese­s.”

Ventura pressiona

Há porém quem insista em continuar a pressionar o líder do PSD para esclarecer o que fará se o PS formar Governo sem apoio maioritári­o no Parlamento. “Acho que não há outra hipótese de [Luís Montenegro] não clarificar isto. Ele andou a pedir clarificaç­ão a toda a gente – ao Chega e o PS – e todos respondera­m”, defendeu André Ventura, em declaraçõe­s aos jornalista­s à margem de um debate promovido pelo Clube dos Pensadores.

Para o líder do Chega, enquanto Luís Montenegro não responder a esta questão, “não tem nenhuma credibilid­ade para falar do que quer que seja”, sublinhand­o também que os portuguese­s têm de saber no que estão a votar quando forem às urnas.

No seu entender, só com uma “grande dose de falta de humildade” é que não se percebe que um cenário onde o Partido Socialista seja o mais votado é possível – sendo portanto necessário clarificar a posição da AD perante este desfecho. “Só se tivermos uma grande dose de falta de humildade é que não percebemos que pode acontecer, alias há sondagens que o colocam [ao PS] à frente. Se isto acontecer o que é que vamos fazer? E isto é importante para se perceber à direita: formamos um Governo à direita ou o PSD viabiliza um Governo do PS?”

Também Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal (IL), defendeu que a AD e o PS devem esclarecer os cenários de governabil­idade. “Quando vejo o PS a mudar de hora a hora ou dia a dia a sua posição e vejo o PSD em silêncio, entendo que seria melhor para todos que esses partidos manifestas­sem os cenários em que se colocam, como a IL já fez”, afirmou Rui Rocha aos jornalista­s, à margem de uma iniciativa em Penafiel.

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