Joacine Katar Moreira empenhada em “impedir governação pelo ódio”
Manifestação Nacional contra o Racismo e a Xenofobia terá a ex-deputada entre os que neste sábado sairão à rua, em Lisboa e em mais sete cidades, contra “atentado à democracia”. Os organizadores da manifestação nacional têm uma série de exigências que inc
Aex-deputada Joacine Katar Moreira estará entre os participantes na Manifestação Nacional contra o Racismo e a Xenofobia, que se realiza amanhã em Lisboa, no Porto e em mais seis cidades portuguesas, enfatizando que esse protesto apela ao voto consciente nas legislativas de 10 de março, “pela defesa da democracia e de uma sociedade mais igualitária e diversa”.
“Penso que temos visto ao longo do tempo que nada está assegurado e que devemos levantar-nos pelos nossos ideais e por um modelo de sociedade que não exclua nem diminua quem vem de fora”, disse ao DN a historiadora e ativista, eleita pelo Livre em 2019, terminando a legislatura enquanto deputada não inscrita. E que, em linha com o Grupo de Ação Conjunta contra o Racismo e Xenofobia, organizador da manifestação nacional marcada para as 15.00 de amanhã, considera que “corremos todas e todos sérios riscos com a proliferação do discurso de ódio e com o ambiente de descrédito social e institucional criados pela extrema-direita”.
“O nosso voto conta muitíssimo para travarmos este cenário desolador e impedirmos a governação pelo ódio e a discriminação, mas também para impedirmos a destruição do Serviço Nacional de Saúde e da escola pública”, defende Joacine Katar Moreira, que voltará a fazer uma recomendação de voto em cada um dos círculo eleitorais, tal como nas legislativas de 2022. “Farei em breve, apelando ao voto à esquerda, naturalmente.”
Sem “qualquer ligação partidária nem ideológica” e procurando reunir “todos aqueles que acham urgente marcar uma posição contra os discursos de ódio que começam a ecoar em alguns partidos do espetro político nacional e internacional”, o Grupo de Ação Conjunta junta 60 organizações antirracistas, antifascistas, feministas, a favor da justiça climática e pelos direitos LGBTQI+, sindicatos, associação de imigrantes, associações de minorias racializadas e movimentos de cidadãos, unidos por “uma visão intersecional da luta que reconhece o racismo e a xenofobia como um dos maiores atentados ao estado democrático”.
Joacine Katar Moreira foi eleita para a Assembleia da República pelo Livre, mas passou a não inscrita.
Considerando bem-vindos “todos os partidos que se revejam nos princípios da democracia e de combate ao racismo”, José Rui Rosário, da Kilombo – Plataforma de Intervenção Anti-Racista esclarece, em declarações ao DN, que esse critério exclui o Chega, o Ergue-te, o ADN e a Nova Democracia. Isto apesar de esse último partido ser o único dos que vão agora a votos a ser liderado por uma mulher negra, Ossanda Liber. “Ter uma pessoa racializada num partido não é um reflexo de que esse partido defenda as questões que afetam a comunidade”, defende o ativista, dizendo que é preciso reconhecer o racismo estrutural. E o mesmo se aplica à elevada possibilidade de o Chega reeleger o deputado Gabriel Mithá Ribeiro, de origem moçambicana, ou às hipóteses de eleger Marcus Santos, natural do Brasil e negro.
“Não é só a melanina que nos representa”, diz José Rui Rosário, apontando a questão da falta de representatividade na política como algo que vai além dos partidos de esquerda. Recordando a legislatura em que a Assembleia da República teve três deputadas negras, com a socialista Romualda Fernandes (que se manteve mais dois anos, mas não integra as listas do
PS que irão a votos a 10 de março) e a bloquista Beatriz Gomes Dias a juntarem-se a Joacine Katar Moreira, o ativista admite que os “partidos que se posicionam mais à esquerda devem fazer uma autorreflexão”, pois a forma como os seus lugares se viram comprometidos mostra que foram “incómodas
mesmo para alguns partidos do espetro progressista”.
Além do aumento de representação política, os organizadores da manifestação nacional têm uma série de exigências que incluem a criminalização do racismo, restrições à intervenção policial nos bairros, a existência de formação antirracista na saúde e na polícia, quotas étnico-raciais no recrutamento para a Administração Pública, direito à nacionalidade, direito de voto aos imigrantes, reagrupamento familiar e medidas de afirmação positiva. Algo que, para os coletivos que estão a organizar este protesto, deve ser colocado a “qualquer que seja o partido a governar” Portugal após as legislativas.
A manifestação de Lisboa inicia-se na Alameda, às 15.00, tal como as restantes, enquanto no Porto a concentração será na Praça da Batalha. Outras localizações da Manifestação Nacional contra o Racismo e a Xenofobia são o coreto da Avenida Central, em Braga; a Praça 8 de Maio, em Coimbra; o coreto do Jardim Manuel Bívar, em Faro; o coreto da Alameda de São Dâmaso, em Guimarães; a Loja da Nave Mãe, em Portalegre; e o Parque Aquilino Ribeiro, em Viseu.