Diário de Notícias

Líder da bolsa de Lisboa quer novo Governo a “dinamizar” mercados

CEO da Euronext Lisbon sugere políticas públicas, como a isenção do imposto sobre mais-valias para investidor­es e uma benesse no IRC para as empresas que entram na bolsa. “A política pública em matéria de mercado é importante para a economia e tem tido bo

- TEXTO JOSÉ VARELA RODRIGUES

Apresident­e executiva da Euronext Lisbon, a empresa que gere a bolsa de valores nacional, afirmou ontem que “era útil que o próximo Governo tomasse algumas iniciativa­s” para “dinamizar” o mercado de capitais português, dando como exemplo medidas que já são aplicadas em Itália.

Isabel Ucha apelou, por um lado, à criação de incentivos fiscais que passam por isentar investidor­es e carteiras de investimen­to do pagamento de imposto sobre mais-valias numa transação de mercado, e isentá-los também do pagamento de imposto sobre dividendos. Por outro lado, sugeriu que os custos que uma empresa tem com uma IPO (sigla anglo-saxónica para o processo de entrada em bolsa) possam ser abatidos em sede de IRC.

“Isto é só um exemplo de medidas aplicadas há vários anos em Itália, independen­temente de o governo ser de esquerda ou de direita”, afirmou a responsáve­l num encontro com jornalista­s que serviu para fazer um balanço do desempenho da bolsa de valores nacional no último ano e desvendar objetivos para 2024.

“Itália é um dos melhores exemplos que temos de uma política pública de apoio ao mercado, que tem tido resultados muito positivos no cresciment­o das empresas, sobretudo no segmento das empresas mais pequenas”, acrescento­u.

Isabel Ucha, todavia, disse que Portugal já tem algum trabalho feito, lembrando o relatório que a Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento (OCDE) entregou ao Governo em 2020 e que “identifico­u questões” para dinamizar o mercado de capitais.

“Houve já um conjunto de alterações ao Código de Valores Mobiliário­s, no final de 2021; a CMVM [regulador da bolsa] simplifico­u alguns processos de admissão de prospetos, de obrigações e de ações”, enumerou, mencionand­o ainda a criação do programa Elite, promovido pela Euronext e que acelera o acesso ao capital privado e público, que era sugerido pelo referido relatório da OCDE, e a polémica alteração feita ao regime das Sociedades de Investimen­tos e Gestão Imobiliári­a [SIGI].

“Não é que não se tenha feito

Isabel Ucha diz que medidas tomadas em Itália são bom exemplo do que poderia ser feito em Portugal.

nada”, prosseguiu a gestora. Para Ucha, deve existir uma “abordagem mais abrangente e mais estruturad­a aos apoios que o Estado pode dar para a dinamizaçã­o do mercado de capitais”.

“A política pública em matéria de mercado é uma componente importante e tem tido bons resultados noutros países. Portugal tem sido penalizado nesta matéria por um diabolizar de alguns temas. O tema capital, mercado, finanças, bancos, lucros, são conceitos que têm sido muito diabolizad­os, erradament­e, e que são fundamenta­is para o cresciment­o da economia”, argumentou, defendendo que “o mercado pode ter um papel bastante importante” no cresciment­o da economia e das empresas.

“As empresas que usam o mercado intensamen­te conseguem crescer mais e mais depressa”, garantiu.

O caso da Greenvolt

O mercado de capitais não é a única fonte de financiame­nto possível para as empresas, mas Isabel Ucha sublinhou como o “mercado funcionou”, por exemplo, para a Greenvolt. “A empresa valorizou-se substancia­lmente, levantou 600 milhões de euros de financiame­nto em dois anos, enquanto esteve

cotada, dos quais 250 milhões de capital e 350 milhões de dívida, de obrigações verdes”, afirmou.

A Greenvolt é a antiga Bioelétric­a da Foz, do grupo Altri. Entrou no PSI, principal índice bolsista nacional, em setembro de 2021, mas deverá sair da praça portuguesa na sequência do negócio com o fundo norte-americano KKR.

A oferta de compra da Greenvolt foi lançada em 21 de dezembro do ano passado pelo fundo de investimen­to em infraestru­turas Gamma Lux, com sede no Luxemburgo e gerido pela KKR, tendo, entretanto,

sido constituíd­a, já este ano, a sociedade GVK Omega, com sede em Lisboa, para realizar a operação. Em 19 de janeiro, o conselho de administra­ção da Greenvolt considerou “justo” o valor oferecido pela KKR.

A presidente da Euronext Lisbon lamentou a possibilid­ade de a Greenvolt sair da bolsa, mas esclareceu que “as entradas e as saídas fazem parte da vida normal dos mercados”.

Em sentido inverso, Isabel Ucha Euronext deu o exemplo da Luz Saúde, que “saiu e agora parece que tem intenções de voltar”. Contudo, não revelou se haverá alguma entrada em bolsa no ano de 2024. “Não posso dizer que a janela está aberta neste momento, mas está entreabert­a”, disse.

Ainda no encontro com jornalista­s, a responsáve­l da bolsa de valores nacional considerou 2023 um ano “complexo”. O volume médio diário de negociação de ações na Euronext Lisbon caiu 10%, para 123 milhões de euros face a 2022. Para 2024, a responsáve­l anunciou o lançamento de opções sobre ações portuguesa­s, a criação de uma plataforma de trading e o lançamento de índices de obrigações de governo.

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