Casa Branca, Bruxelas e Kremlin em pugilato verbal
Novo insulto do presidente dos Estados Unidos ao congénere russo desencadeia mais farpas e ameaças. No mesmo dia, Medvedev chamou Biden de “senil” que quer começar uma guerra com a Rússia e voltou a ameaçar o Ocidente com um ataque nuclear.
As relações entre o regime russo e o Ocidente atingiram um novo marco mínimo nas vésperas do segundo aniversário da invasão à Ucrânia, depois de o presidente dos Estados Unidos ter insultado Vladimir Putin e de o porta-voz da diplomacia europeia ter posto em causa a saúde mental do ex-presidente Dmitri Medvedev.
Durante um jantar de angariação de fundos em São Francisco, na Califórnia, para a campanha de reeleição, Joe Biden tinha como tema as alterações climáticas e entusiasmou-se: “Temos um filho da mãe louco como Putin, e outros, e temos sempre de nos preocupar com conflitos nucleares, mas a ameaça existencial para a humanidade é o clima.”
Não é a primeira vez que o presidente norte-americano diz o que pensa do antigo agente do KGB. Quase um ano antes da invasão russa, respondeu de forma afirmativa se Vladimir Putin é um assassino. Um ano depois, já com a “operação militar especial” em andamento, Biden classificou o líder russo de “criminoso de guerra” e de “carniceiro” e desabafou: “Por amor de Deus, este homem não pode continuar no poder.”
Foi o porta-voz do Kremlin quem primeiro respondeu às declarações de Biden, mas horas depois Putin não quis deixar passar a oportunidade ao ser questionado sobre os comentários “rudes” pela TV pública. “Estamos prontos para trabalhar com qualquer presidente. Mas acredito que Biden é um presidente preferível para a Rússia e, a julgar pelo que acabou de dizer, tenho toda a razão”, disse Putin, em referência aos seus comentários da semana passada, nos quais mostrou distância para com Donald Trump ao alegar a previsibilidade do democrata.
Já Dmitri Peskov, o porta-voz do Kremlin, disse que as declarações de Biden, “provavelmente algum tipo de tentativa de parecer um cowboy de Hollywood”, “não são suscetíveis de afetar” Putin. “Mas isso rebaixa aqueles que usam esse vocabulário”, afirmou à Reuters. Fora do palácio do Kremlin não houve contenção verbal. Dmitri Medvedev, o fiel número dois de Putin, agora como vice-presidente
Joe Biden já tinha chamado Putin de “assassino” em 2021.
do Conselho de Segurança da Rússia, disse que a ameaça existencial ao mundo vinha de “velhos patetas inúteis, como o próprio Biden”, um “senil” que está “pronto para começar uma guerra com a Rússia”. Em julho, disse que o chefe de Estado norte-americano é um “velho doente com demência grave”.
Na véspera, em declarações aos jornalistas russos, o ex-presidente e ex-primeiro-ministro cavalgou a onda da tomada de Avdiivka, no leste da Ucrânia, para pedir a conquista de Odessa, no sul do país invadido, bem como de Kiev. Medvedev alegou que a cidade portuária é russa. Quanto à capital ucraniana, também é na sua perspetiva “russa nas suas raízes”, mas “dirigida por uma brigada internacional de inimigos da Rússia”, pelo que a sua captura é uma necessidade “se não agora, depois”. Medvedev envolveu-se também em controvérsia com a UE, ao repetir na quarta-feira as ameaças nucleares, agora a “Kiev, Berlim, Londres, Washington” e “outros locais históricos” a quem tente “devolver à Rússia as fronteiras de 1991”. O porta-voz do chefe da diplomacia dos 27, Peter Stano, recomendou “aconselhamento e cuidados mentais” ao “eterno número dois”.