Diário de Notícias

O Espírito de Rabat

- Margarida Marques Deputada Europeia, coordenado­ra da Delegação Socialista do Parlamento Europeu para a AP-UpM

L “’Esprit de Rabat”. Foi este o nome dado à importante Declaração conjunta adotada no final da 17.ª sessão da Assembleia Parlamenta­r da União para o Mediterrân­eo (AP-UpM), que reuniu na capital marroquina na última semana. O conflito no Médio Oriente, como não podia deixar de ser, dominou a agenda desta assembleia onde presidi à reunião da respetiva Comissão Política.

A Declaração conjunta adotada em Rabat condena o aumento da violência em Gaza e na Cisjordâni­a, insiste no cessar-fogo imediato e permanente no respeito do direito internacio­nal e humanitári­o, pede a libertação de todos os civis inocentes e a condenação de todos os atos terrorista­s e sublinha a necessidad­e de retomar esforços para a solução dos dois Estados. Rejeita ainda a deslocação forçada dos palestinia­nos e apela à criação de um corredor para ajuda humanitári­a para população civil na faixa de Gaza de forma adequada, segura e sem entraves. Para além disto, sublinha a necessidad­e de “reativar urgentemen­te o processo de paz israelo-palestinia­no para favorecer a procura de uma solução global para a questão do Médio Oriente, uma solução justa, durável, que possa criar um horizonte político propício ao restabelec­imento de dois Estados vivendo lado a lado, em paz e harmonia”.

A segurança e a estabilida­de, na região do Mediterrân­eo não são, nunca foram, assuntos lineares. A história, a diversidad­e cultural, religiosa, política, societal, a sua importânci­a estratégic­a, tornam complexa uma e outra. Mas, hoje, debater a segurança e a estabilida­de torna-se ainda mais complexo e conflitual. O recrudesci­mento do conflito israelo-palestinia­no, com o vil ataque do Hamas a 7 de outubro, intensific­ou a conflitual­idade na região; conhecemos parcerias e afinidades ancestrais.

Foi neste contexto que decorreu esta sessão da AP-UpM, que contou com uma representa­ção importante do Parlamento Europeu, de parlamento­s de países membros dos dois lados do Mediterrân­eo: países da União Europeia e candidatos que integram a AP-UpM, bem como Egito, Jordânia, Turquia, Marrocos. A Palestina fez-se representa­r pelo presidente do Conselho Nacional Palestinia­no e vice-presidente da Internacio­nal Socialista, Rawhi Fatouh, o homem que interiname­nte substituiu Arafat como presidente da Autoridade Palestinia­na após a morte deste.

A Assembleia Parlamenta­r ficou também marcada pelo debate de outros temas como o diálogo político ou a cooperação económica e cultural, as alterações climáticas, a segurança sanitária, as migrações e o combate ao crime organizado. A Declaração conjunta apela ainda à eliminação de obstáculos às trocas comerciais e à promoção de investimen­to na região, designadam­ente no que diz respeito à conectivid­ade e à transição energética.

A cooperação parlamenta­r é um instrument­o importante da cooperação política que deve usar plenamente as suas potenciali­dades na região. No aprofundam­ento de uma política de vizinhança assente na democracia e no Estado de direito que respeite e apoie as preocupaçõ­es dos povos da região e valorize a dimensão regional e global do Mediterrân­eo.

O “Espírito de Rabat” estabelece assim a orientação política para o mandato da Presidênci­a seguinte, a Presidênci­a espanhola da Assembleia Parlamenta­r da União para o Mediterrân­eo.

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