Diário de Notícias

Voto sobre Gaza gera caos no Parlamento britânico

Mais de 60 deputados exigem saída do speaker Lindsay Hoyle, que pediu desculpas por ir contra as convenções parlamenta­res.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Odebate sobre um cessar-fogo na Faixa de Gaza acabou por ficar para segundo plano no Parlamento britânico. Tudo por causa de uma decisão do líder da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, que foi contra as convenções parlamenta­res e acabou por prejudicar o Partido Nacionalis­ta Escocês (SNP, na sigla em inglês) e poupar o líder do Labour, Keir Starmer, a uma rebelião interna. O speaker, trabalhist­a até ser eleito para este cargo em 2019, pediu desculpa, mas ontem mais de 60 deputados exigiam a sua demissão.

“Cometi um erro. Nós cometemos erros. Eu assumo os meus”, disse Hoyle, justifican­do as suas ações com a preocupaçã­o com a segurança dos deputados, após vários terem sido alvo de ameaças. “Nunca quero passar pela situação em que atendo o telefone e descubro que um amigo, de qualquer lado, foi assassinad­o por terrorista­s”, disse emocionado. “Também não quero um ataque a esta casa.”

No Parlamento britânico há os chamados “dias da oposição”, nos quais a agenda é estabeleci­da pelo Labour (17 dos 20 dias anuais, na atual legislatur­a) ou pelo SNP (os restantes três dias). Na quarta-feira, o dia era dos nacionalis­tas escoceses, que resolveram colocar a votação uma moção a exigir um “cessar-fogo imediato” em Gaza. O Labour apresentou uma emenda à moção, defendendo um “cessar-fogo humanitári­o imediato”, enquanto o governo conservado­r defendeu uma “pausa” nos combates.

Sendo o dia do SNP e havendo uma emenda do Governo, a convenção parlamenta­r ditava que só esta seria debatida. Mas isso deixaria o Labour numa posição difícil –

Lindsay Hoyle Líder da Câmara dos Comuns

não podiam apoiar o texto do Governo porque este vai contra a linha do partido, mas a abstenção também não era opção, com a ameaça de várias demissões. E muitos deputados iriam querer votar na moção do SNP. Quando Hoyle decidiu que todas as emendas seriam debatidas, incluindo a do Labour, evitou um problema a Starmer – que negou ter feito qualquer pressão. Mas gerou o caos.

O SNP acusou o speaker de lhes roubar a iniciativa e o líder do partido em Londres, Stephen Flynn, disse que lhe retirava a confiança. Já os conservado­res acusaram-no de favoritism­o, quando deve ser isento. O primeiro-ministro, Rishi Sunak, criticou-o e disse que a decisão de ir contra a convenção foi “muito preocupant­e”. Pelo menos 67 deputados já tinham assinado ontem uma carta a pedir a sua demissão. Um voto de não confiança pode custar-lhe o cargo de speaker.

No final, com os nacionalis­tas escoceses e os conservado­res quase todos a sair da sala, acabou por ser aprovada só a emenda do Labour – sem uma votação individual, mas por aclamação quase unânime.

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