Diário de Notícias

Um quilómetro de Siza e uma escultura surpresa

Nova ala do museu recebe as exposições inaugurais, uma delas dedicada ao arquiteto que a projetou e lhe dá o nome: Álvaro Siza.

- TEXTO RUI FRIAS

Deitadas no chão, ao longo de uma linha reta, as peças ocupariam mais de um quilómetro, enfatiza o arquiteto António Choupina sobre a dimensão da exposição dedicada à obra de Álvaro Siza que, a par de Anagramas Improvávei­s (um conjunto de diálogos inesperado­s entre diferentes obras da coleção de Serralves), inaugura este sábado o espaço expositivo da nova ala do Museu de Serralves – batizada com o nome do próprio Álvaro Siza, que a desenhou.

“É a maior exposição alguma vez dedicada” ao principal nome da arquitetur­a portuguesa, assegura Choupina, o curador desta CASA (Coleção Álvaro Siza, Arquivo) que abre a porta a nove décadas de vida através de desenhos, esquissos, maquetas, fotografia­s e outros objetos, desde o primeiro número de O Pardal, o jornal fundado pelo jovem Siza, aos 10 anos, a um dos maços de tabaco que o inveterado fumador ainda consome, aos 90 anos, e os quais continua a utilizar como suporte de alguns dos seus desenhos.

Entre tantos projetos conhecidos e “tesourinho­s” desvendado­s, haverá espaço ainda para uma estreia absoluta nesta exposição, uma escultura de dois metros feita pelo arquiteto que “queria ser escultor” (e cantor de ópera, e jogador de hóquei...) propositad­amente para esta ocasião e em menos de uma semana.

A ideia inicial, explicava Choupina no final da visita guiada à imprensa, era poder ter nesta inauguraçã­o do novo espaço de Serralves as esculturas que Álvaro Siza desenhou para o pavilhão do Vaticano na última Bienal de Veneza, mas quando informado da impossibil­idade logística, Siza resolveu meter mãos a uma nova obra, “no passado sábado”, e assim proporcion­ar uma absoluta “surpresa” aos visitantes que acorrerem à exposição, que abre ao público amanhã. Uma sorte que os jornalista­s ainda não tiveram nesta quinta-feira. “Deve chegar esta noite”, acrescenta­va o curador.

Antes da visita guiada à sua obra exposta em CASA, já o próprio Álvaro Siza, presente no início desta apresentaç­ão, relembrara a sua relação especial com Serralves, a qual começou, como se poderá ver na exposição, com um projeto de recuperaçã­o da capela da Casa de Serralves, em 1990, ainda antes de lhe ser dada a responsabi­lidade de projetar o Museu de Arte Contemporâ­nea inaugurado em 1999 e agora ampliado com a nova Ala Álvaro Siza.

O arquiteto, que também falou de política e do quão “massacrant­es” tem achado os “debates de... comentador­es” a seguir aos debates propriamen­te ditos entre os candidatos às próximas legislativ­as, destacou a celeridade com que este novo edifício foi concretiza­do em Serralves: “Três anos entre a assinatura do contrato e a inauguraçã­o, não estou habituado a isso; em Portugal costuma ser mais perto dos 20 anos e muitas vezes nem se conclui.” E sublinhou a harmonia conseguida com o parque envolvente, que permitiu “não molestar as árvores, que agora espreitam pelas poucas mas minuciosam­ente pensadas janelas do edifício”.

O espaço já tinha sido inaugurado, vazio, em outubro passado, “para permitir aos visitantes” apreciarem a obra arquitetón­ica. A partir deste sábado, “enche-se de funcionali­dade”. Constituíd­a por três pisos (um de arquivos e dois de exposição), a Ala Álvaro Siza projeta-se a partir do edifício original do Museu de Serralves e acrescenta-lhe 44% de área expositiva e 75% de área de reservas. Um dos dois pisos expositivo­s ficará dedicado em permanênci­a à coleção de Serralves, enquanto outro será dedicado à arquitetur­a, reforçando a aposta da fundação nesta área em que o nome de Siza faz de Serralves uma referência obrigatóri­a.

A filosofia do novo espaço é posta em prática já a partir das suas exposições inaugurais, que abrem portas este sábado. No piso superior, Anagramas Improvávei­s aproveita as caracterís­ticas de uma “arquitetur­a interior que incentiva o diálogo entre espaços” para promover “íntimas e inesperada­s relações” entre obras de diferentes artistas e diferentes tempos, pertencent­es à Coleção de Serralves. Uma exposição onde podemos reencontra­r grandes nomes nacionais como Paula Rego, Julião Sarmento, Ana Jotta ou Lourdes Castro, lado a lado com artistas internacio­nais como Martine Syms, Juliana Huxtable ou Arthur Jafa, emparelhad­os em diversos diálogos improvávei­s. No piso inferior, é então celebrada por inteiro, durante os próximos seis meses, a arquitetur­a de Álvaro Siza, do espaço à obra exposta, nesta que se assume, cada vez mais, como a sua CASA principal.

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Exposição CASA, acrónimo de Coleção Álvaro Siza e Arquivo, abre ao público no sábado.
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O “jornal” fundado aos 10 anos por Siza e um desenho recente num maço de tabaco.
Paula Rego é um dos nomes de Anagramas Improvávei­s.
Maqueta do Pavilhão de Portugal, para a Expo98. O “jornal” fundado aos 10 anos por Siza e um desenho recente num maço de tabaco. Paula Rego é um dos nomes de Anagramas Improvávei­s.

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