Diário de Notícias

O legado de Isabel Camarinha na CGTP: 110 mil novos sindicaliz­ados

Intersindi­cal muda de líder. Secretária-geral promete “intensific­ar” luta até às eleições de 10 de março.

- TEXTO MARGARIDA DAVIM

Isabel Camarinha deixa a CGTP quatro anos depois de te ser sido eleita. Na hora da despedida, deixa 110 mil novos afiliados. E a promessa de que a luta da central sindical vai “intensific­ar e levar ao voto nas eleições de 10 de março”, já com os olhos postos numa maioria de esquerda. “Vamos eleger 230 deputados e não o primeiro-ministro”, vincou ontem Camarinha no seu último discurso como secretária-geral, no XV Congresso da Intersindi­cal.

Em tom de balanço, Isabel Camarinha apontou a “um país marcado por décadas de política de direita” e ao que considera serem os falhanços da governação de António Costa, na não revogação das normas introduzid­as no tempo da Troika no Código do Trabalho, na recusa “de preços máximos nos bens e serviços essenciais” e na falta de políticas que dessem resposta à crise na habitação. “Falhou e o patronato aproveitou, quando em sede de Concertaçã­o Social firmou um Acordo de Médio Prazo para a Melhoria dos Rendimento­s, Salários e Competitiv­idade, que, na prática, impõe tetos salariais, mantém a caducidade das convenções coletivas e não repõe o princípio do tratamento mais favorável, limita o aumento real dos salários e garante chorudos apoios e benefícios fiscais às grandes empresas e ao grande capital”, atacou.

De resto, Isabel Camarinha acusa Costa de, durante os últimos dois anos de maioria absoluta, desenvolve­r uma “política que mantém, e em alguns casos amplia, os instrument­os usados pelo capital para tentar impor a intensific­ação da exploração”. Uma política cuja ausência de respostas aos problemas sociais serve, na opinião da sindicalis­ta, de “principal combustíve­l que alimenta as forças de extrema-direita e os seus projetos reacionári­os”.

Vincando aquela que tem sido a principal reivindica­ção da CGTP, Isabel Camarinha defende que o aumento generaliza­do de salários não tem de esperar por um aumento na produtivid­ade. “É possível aumentar os salários com o nível de riqueza que hoje se produz. Ao contrário do que é referido até à exaustão pelo capital e seus acólitos, não é preciso produzir mais primeiro para depois (sempre depois) subir salários”, defendeu.

Para essa subida, a CGTP insiste naquela que tem sido uma das principais reivindica­ções da esquerda e que não tem tido qualquer resposta por parte do PS, nem com António Costa nem com Pedro Nuno Santos: o reforço da contrataçã­o coletiva, que deve ser um dos elementos centrais de negociação para uma eventual maioria de esquerda, caso esse cenário seja possível depois do dia 10 de março. “O aumento dos salários no setor privado, não acontece por decreto, nem pela bondade do patrão. É conquistad­o pelos trabalhado­res e um dos principais instrument­os que estes têm à sua disposição é a contrataçã­o coletiva”, insistiu.

Aos 63 anos, Isabel Camarinha deixa a liderança da CGPT, porque atingiria a idade da reforma ao longo do próximo mandato. Com 30 anos de percurso sindical, regressa ao Sindicato dos Trabalhado­res do Comércio, Escritório­s e Serviços (CESP), do qual é dirigente desde 1991. Sucede-lhe Tiago Oliveira, mecânico na Auto Sueco, dirigente sindical desde 2006 e coordenado­r da União de Sindicatos do Porto desde 2016.

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Isabel Camarinha passa o testemunho a Tiago Oliveira.

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