A portuguesa salva das chamas e o porteiro herói no balanço de um incêndio que fez 10 mortes
Entre as vítimas mortais do incêndio em prédio de Valência está um jovem casal e os seus dois filhos.
EmValência, por entre o choque, procuram-se respostas que ajudem a perceber como foi possível um edifício residencial de 14 andares arder por completo num par de horas, ao final do dia de quinta-feira, deixando um rasto trágico de pelo menos dez mortos, segundo o balanço feito ontem ao final da tarde pelas autoridades espanholas. Entre eles, uma família completa composta por um jovem casal e os respetivos dois filhos (uma criança de dois anos e um outro bebé com 15 dias).
Enquanto a investigação procura descobrir a causa do fogo e recaem dúvidas sobre o revestimento do edifício, entre os 105 sobreviventes entretanto realojados temporariamente em hotéis, sobram histórias para contar. Como a de Sara, a portuguesa que foi resgatada de uma varanda juntamente com o companheiro belga Amar; ou a de Julián, o porteiro herói que ajudou a salvar muitos moradores do prédio.
Durante mais de duas horas Sara e Amar estiveram presos na varanda de um dos 138 apartamentos do edifício em chamas no bairro Campanar, em Valência. Momentos de aflição que foram seguidos em direto nas televisões e no local pelas centenas de pessoas que assistiam da rua ao avanço assustador das chamas pelo prédio. O resgate do casal luso-belga foi visto em direto, terminando com aplausos aos bombeiros que arriscaram a vida para os salvar. “Estamos vivos. É o que importa”, afirmou ontem a portuguesa aos meios de comunicação no local.
“A atuação dos bombeiros foi incrível”, agradeceu Sara, ainda a recuperar do pesadelo que viveu no dia anterior. A portuguesa lembrou aos jornalistas espanhóis o que ela e Amar viveram durante aquelas horas rodeados de chamas. “A situação, do ponto de vista emocional, era muito forte e stressante para nós. Não queríamos morrer queimados”, frisou, lembrando que os bombeiros estavam a tentar apagar as chamas ao redor da varanda ao mesmo tempo que os tentavam salvar. “Disseram-nos que estavam a tentar apagar o fogo tanto nos pisos de cima como nos pisos por baixo da varanda”.
A portuguesa e o belga viviam no prédio há pouco mais de um ano. Tinham alugado um apartamento no sétimo andar. “Por causa dos nossos empregos, podíamos ter vivido em qualquer parte do mundo, mas escolhemosValência pela sua qualidade de vida. Não esperávamos que algo assim nos pudesse acontecer”, confessou Sara.
Entre os sobreviventes está também o casal ucraniano Dymitro Hambarov e OksanaVolkova, que ali chegara em outubro passado, fugido da guerra na Ucrânia. “O prédio não tinha alarme de incêndio , nenhum alarme tocou. Não tivemos tempo de levar quase nada”, lamentou Dymitro, à reportagem do El Mundo.
Muitos dos sobreviventes poderão agradecer a sorte a Julián, porteiro do edifício que detetou o que estava a acontecer logo nos primeiros minutos do incêndio e andou de porta em porta a avisar os vizinhos. “Ele bateu de porta em porta ao maior número possível de pessoas. Encontrei-o nas escadas. Graças a ele muitas pessoas foram salvas”, contou ao Las Provincias o proprietário de um dos apartamentos, Manuel.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou ao Rei de Espanha condolências e solidariedade pelas consequências do incêndio.