Plano de Netanyahu para a Faixa de Gaza tem uma página
PM israelita faz depender reconstrução do enclave com o fim dos grupos armados.
Mesquita de al-Huda, em Rafah, destruída por Israel.
Há muito pressionado para apresentar a sua visão sobre a Faixa de Gaza pós-guerra, o primeiro-ministro israelita partilhou, por fim, com o gabinete de segurança, o seu plano, de uma única página. Benjamin Netanyahu condiciona a reconstrução do enclave à sua total desmilitarização, bem como à sua administração por civis sem ligações aos inimigos de Israel.
“O documento de princípios do primeiro-ministro reflete um amplo consenso público sobre os objetivos da guerra e a substituição do Hamas em Gaza por uma alternativa civil”, lê-se num comunicado do gabinete de Netanyahu. O plano propõe que a reconstrução do enclave devastado pela ofensiva militar de Israel dependa da total desmilitarização, ou seja, do fim dos grupos armados como as brigadas al-Qassem (braço armado do Hamas) e as brigadas al-Quds (da Jihad Islâmica). Também prevê que a administração do território passe das mãos dos islamistas para representantes locais “que não estejam filiados em países ou grupos terroristas e que não sejam apoiados financeiramente por estes”. Não faltou quem de imediato apontasse como exemplo (falhado) o dos Estados Unidos no Iraque pós-Saddam Hussein. Por outro lado, o documento parece vedar a Autoridade Palestiniana – o executivo liderado por Mahmoud Abbas –, pelo menos na sua forma atual, de administrar o território, uma vez que aquela entidade atribui subsídios a condenados por terrorismo em Israel, bem como a familiares.
“O dia após o Hamas”, assim se chama o documento, estabelece a desmilitarização e a desradicalização como objetivos a atingir a médio prazo, contando para isso com a participação de outros países árabes. Para garantir o controlo de Gaza, Netanyahu propõe que as forças israelitas mantenham liberdade de ação a médio prazo, e uma presença na fronteira entre o enclave e o Egito, em cooperação com o Cairo, mas também com Washington. Também prevê a concretização do projeto em curso de criar uma zona tampão de segurança no lado palestiniano da fronteira da Faixa, que estará em vigor “enquanto houver necessidade de segurança”. A longo prazo, Netanyahu rejeita o “reconhecimento unilateral” do Estado palestiniano e diz que um acordo só será alcançado através de negociações diretas entre as duas partes, porém, mais uma vez não identifica quem é a parte palestiniana.
Embora não dependa de Telavive, Netanyahu prevê o encerramento da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), que Israel acusa de dar cobertura ao Hamas, e a sua substituição por outros grupos de ajuda internacional.
A Autoridade Palestiniana rejeitou o documento e o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken voltou a recusar a “reocupação” de Gaza por Israel, bem como a redução do território, tal como previsto com a referida zona tampão.