A paródia “colossal” de Ivone Silva no Parque Mayer
A célebre Ivone Silva – ribatejana nascida em 1935 e que se estreou no teatro de revista em 1963, com Gente Nova em Bikini, de César de Oliveira, Rogério Bracinha e Francisco Nicholson, no Teatro ABC – chega ao ano da Revolução dos Cravos como nome maior dos frequen-tadíssimos teatros de Lisboa. Em fevereiro de 1974 está como primeira figura da revista Ver, Ouvir e... Calar, ao lado do não menos mítico Eugénio Salvador. É no Teatro Maria-Vitória, o mais antigo do Parque Mayer, inaugurado em 1922.
O espetáculo teve direito a reclame no DN de há exatamente meio século, numa página de anúncios quase toda dedicada aos teatros da capital. “Vá rir e divertir-se com os seus artistas preferidos!!!”, lê-se.
Com assinatura de Aníbal Nazaré, João Nobre, Henrique Santana e Henrique Parreirão, Ver, Ouvir e... Calar tinha-se estreado em outubro de 1973. Aparecia descrita no anúncio como “a sensacional revista da gargalhada” e nela brilhavam também Mariema, Cidália Moreira e Henrique Santana.
Aqui obteve Ivone Silva a consagração com o número “Simplesmente Maria”. Aliás, “um colossal número”, classificava o anúncio no DN de 25 de fevereiro de 1974 (uma segunda-feira).
Ao que regista a base de dados do Centro de Estudos de Teatro (da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), Ivone Silva tinha cinco personagens: Cleópatra, Padre, Mulher da Limpeza, Aluno e Simplesmente Maria.
No ano anterior, o folhetim radiofónico Simplesmente Maria, da Rádio Renascença, adaptação de um original peruano, tinha parado o país e haveria de se prolongar muito para além do 25 de Abril.
Agora a revista glosava o êxito da “rapariga portuguesa filha de família humilde que deixa a sua aldeia distante”, como se ouvia à época nas ondas da rádio. À moda de Ivone Silva, uma paródia magnética: “Quando eles virem na televisão a cara que tem a Maria, acham logo muito bem que o Alberto tivesse casado com outra.”
O espetáculo tinha sessões às 20h45 e às 23h00, além de matiné às 16h00. Só para maiores de 18 anos. “Atenção: o descanso da companhia é na quarta-feira.” Tratava-se da Companhia Giuseppe Bastos e Vasco Morgado.
Poucas semanas depois da Revolução o título é alterado para Ver, Ouvir e... Falar. A censura tinha caído.