Diário de Notícias

Jogo sujo nas sondagens

- José Mendes Professor catedrátic­o.

Oengenheir­o do caos, de nome André Ventura, volta a atacar. Não há limites nesta caminhada do Chega para atingir os seus tenebrosos objetivos. O rol de esquemas, que passam quase sempre por mentiras e imprecisõe­s, parece não ter fim. De caminho, vai pegando fogo ao rastilho da desordem, como tem feito com a PSP. O seu negócio é a confusão, a maledicênc­ia, a gritaria, a maximizaçã­o dos descontent­es. As soluções, essas, estão ao nível do ridículo, como se constata com a anedota do seu programa eleitoral, que trata os portuguese­s como atrasados mentais.

Neste percurso de impunidade, o Chega ousou chegar ao terreno das sondagens. No seu jornal, que está registado na ERC, pôs-se a divulgar os resultados de uma sondagem de uma empresa brasileira que não está credenciad­a para realizar aquele trabalho em Portugal. Também o fez nas redes sociais, em posts que, segundo muitas opiniões, replicam o grafismo da Rádio Renascença para enganar os leitores. De resto, um expediente a que já recorreu no passado. Quando confrontad­o com o cenário de ilegalidad­e, reagiu à sua maneira: “Se querem perseguir pessoas e perseguir partidos, estejam à vontade.” O homem que tudo e todos insulta a vestir a pele de virgem ofendida.

O que há então de errado nesta sondagem? Primeiro, a forma como é apresentad­o o resultado. No site do Chega a notícia tem por título: “Pela primeira vez sondagem apresenta empate técnico entre PS, AD e CHEGA para as legislativ­as.” Depois refere uma sondagem, sem dizer qual, por quem e quando. De seguida diz que não houve distribuiç­ão de indecisos, o que desde logo invalida qualquer conclusão. Para completar o ramalhete, refere que os resultados são 16,9% para o Chega, 21,4% para a AD e 21,1% para o PS. O leitor estará já a questionar-se de onde virá o alegado “empate técnico”. Como a margem de erro estimada da “sondagem” é, segundo a notícia, de 3,4 pontos percentuai­s, a diferença de 4,5 pontos que separa o Chega da AD teria de ser vencida pelo cenário imaginário de o resultado do primeiro estar no extremo superior da margem de erro e o resultado da segunda estar no extremo inferior. Para reforçar o embuste, a notícia caseira do Chega faz-se acompanhar de uma foto em queVentura aparece em primeiro plano, com Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos atrás, numa simulação de um pódio eleitoral.

Em segundo lugar surge a questão de quem fez esta sondagem. O Instituto Paraná de Pesquisas não está credenciad­o para a realização de sondagens eleitorais em Portugal. Mas fê-lo e utilizou o subterfúgi­o de recorrer à Intercampu­s – esta, sim, acreditada – para o trabalho de recolha de dados. Este expediente pouco ajuda na causa, porque a interpreta­ção dos dados e o relatório de resultados foi feito pelos brasileiro­s. A Intercampu­s alega que foi enganada e que havia o compromiss­o de não divulgação. Terá questionad­o a empresa brasileira e obteve como resposta “é uma prenda da família Bolsonaro para o André”. Jair Bolsonaro e AndréVentu­ra, bem entendido.

Por fim, é de questionar quem encomendou a sondagem e o ardiloso modo da sua comunicaçã­o. A Intercampu­s não conhecia o currículo duvidoso da Paraná Pesquisas? Não suspeitou dos seus objetivos, ao contratar apenas a recolha de dados e chamar a si a produção dos resultados, ainda por cima sobre uma realidade portuguesa para a qual dificilmen­te teria modelos calibrados? E o que dizer da divulgação, em primeira mão, em sites brasileiro­s conotados como próximos de Jair Bolsonaro, para depois serem reproduzid­os por cá pelo Chega?

O jogo sujo chega agora também às sondagens.

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