Xabi Alonso. O que se tornou no treinador da moda
Vai numa série de 33 jogos sem perder ao comando do Bayer Leverkusen, líder da liga alemã. Aprendeu com Mourinho, Guardiola e Ancelotti, e é apontado a Bayern e Liverpool.
Ofinal da época vai ter uma dança de treinadores em alguns dos mais poderosos clubes da Europa e há um nome consensual que emerge, o de Xabi Alonso, técnico espanhol de 42 anos que comanda o Bayer Leverkusen, o líder da liga alemã que ainda não perdeu esta temporada – leva uma incrível série de 33 jogos consecutivos sem derrotas.
Xavi Hernández já anunciou que vai deixar o Barcelona; Jürgen Klopp vai dizer adeus ao Liverpool e Thomas Tuchel não vai continuar em Munique a orientar o Bayern. Nos dois últimos casos, Xabi Alonso é apontado como o favorito ao lugar.
De origem basca, e revelado pela Real Sociedad, Xabi ficou conhecido por gentleman nos seus tempos de jogador (pela elegância no meio-campo e pela educação dentro e fora de campo), ele que foi internacional espanhol e figura do Liverpool, Real Madrid e Bayern Munique, uma grande carreira que lhe valeu, entre outros troféus, duas Champions (2004-05 pelo Liverpool e 2013-14 pelo Real Madrid), e ainda dois Europeus (2008 e 2012) e um Mundial (2012) pela Espanha.
Xabi foi quase sempre uma extensão dos seus treinadores dentro do campo e teve grandes mestres, entre eles Rafa Benítez, Pep Guardiola, José Mourinho e Carlo Ancelotti. E por isso ninguém tinha dúvidas de que se iria destacar neste cargo.
Recentemente, numa entrevista, o brasileiro Kaká, que foi seu colega no Real Madrid, confessou que Xabi dava indicações aos jogadores dentro do relvado e tinha um caderno com anotações com muitos dos ensinamentos que recebeu de treinadores. Mas a fama atual não surgiu de um ano para o outro.
Terminou a carreira de jogador no verão de 2017, aos 35 anos, no Bayern Munique. Decidiu manter-se ligado ao futebol como treinador e começou por baixo, tornando-se técnico dos sub-14 do Real Madrid em 2018. Um ano depois aceitou regressar a casa, à sua Real Sociedad, para treinar a equipa B dos bascos, onde ficou durante três anos.
Surpreendentemente, já decorria a época 2022-23, quando surgiu um convite irrecusável: render o suíço Gerard Seone no Bayer Leverkusen. Pôs imediatamente mãos à obra, com uma profunda revolução na forma de jogar da equipa, levando o clube dos lugares de descida ao sexto lugar na Bundesliga.
Os resultados estão à vista esta época, com o Bayer Leverkusen bem lançado para sagrar-se campeão – neste momento é líder do campeonato, já com o poderoso Bayern Munique bem distante. E fez história na sexta-feira, tornando-se no primeiro treinador de um clube alemão a atingir 33 jogos consecutivos sem perder – 29 vitórias e quatro empates pelo Leverkusen e um impressionante registo de 97 golos marcados.
Tiki-taka
egegenpressing
Tal como Guardiola no Bayern, também colocou ao serviço do Leverkusen as suas ideias, os seus projetos táticos, um modelo híbrido que tira o melhor proveito do tiki-taka e do gegenpressing, um futebol muito apoiado na posse de bola capaz de mediante uma intensa pressão aos adversários ganhar a bola e iniciar rápidos ataques. Tudo isto dando liberdade aos jogadores, numa equipa que confunde os adversários pela capacidade de improviso.
Esta questão da liberdade, aliás, foi dada como exemplo há poucas semanas por Thomas Müller, histórico do Bayern Munique, depois do Leverkusen ter dado uma lição ao gigante alemão: “Falta-nos liberdade. Vejam o Leverkusen, onde se vê que nem tudo é planeado. O Grimaldo é lateral esquerdo e aparece à direita, correm riscos, enquanto nós jogamos do jogador A para B e para C e ninguém arrisca.”
Por falar em Grimaldo, o ex-defesa do Benfica é um bom exemplo de como Xabi é capaz de tirar o melhor rendimento dos jogadores – o espanhol tem 10 golos e 11 assistências nesta temporada, e é uma das peças chave desta equipa que se destaca por jogar num 3-5-2, desdobrando-se em 5-4-1 ou 5-2-3 dependendo das ações do jogo.
“Ele dá confiança aos jogadores e mostra a cada um a missão dentro do campo. Não é de gritar com os jogadores da linha lateral e berrar a toda a hora. Se algo não sai da maneira como ele quer, fala connosco num tom calmo. É adepto de um jogo dinâmico, mas sem pressa”, contou Arthur, o único brasileiro do plantel do Leverkusen.
A premonição de Mourinho
Os ensinamentos de treinadores como Rafa Benítez, Pep Guardiola, José Mourinho e Carlo Ancelotti estão bem presentes no trabalho de Xabi Alonso. Mas, na verdade, este gosto pelo jogo e pelas táticas vem de tenra idade, quando com oito ou nove anos estava de volta dos brinquedos e o pai, numa sala ao lado, preparava os jogos da Real Sociedad. O pai é Miguel Ángel Alonso, conhecido por Periko Alonso, antigo internacional espanhol que chegou a representar o Barcelona.
“Sempre tive uma enorme curiosidade pelo trabalho dos treinadores e por isso aproximava-me deles. Isso aconteceu sobretudo nos anos em que joguei no Bayern Munique”, contou Xabi Alonso, que está a cumprir a profecia feita há muitos anos por José Mourinho: “É um metrónomo. Acredito que quando pendurar as chuteiras dará um grande treinador. Faz-me lembrar Guardiola quando jogava: já age como uma espécie de treinador em campo.”
O contrato com o Bayer Leverkusen é válido até 2026, mas apesar de o clube já ter desmentido a existência de uma cláusula que o permitia sair livre para Liverpool, Real Madrid e Bayern Munique, o CEO do emblema alemão já veio dizer que não lhe irá cortar as pernas. “Não é preciso ter uma cláusula. Temos uma excelente relação com Xabi e ele sabe que somos um clube sério. Não vamos obrigar ninguém a ficar se não o quiser”, referiu Fernando Carro. E ao que tudo indica, o divórcio amigável vai mesmo acontecer no final da época, resta saber se o treinador da moda irá na direção de Munique ou de Liverpool.