Diário de Notícias

A relação entre remuneraçã­o, motivação e desempenho é muito mais complexa do que pode parecer.

- Diretor-executivo de ensino online da Nova SBE Executive Education

Pagar mais a um colaborado­r faz com que ele produza melhores resultados. Este é o racional que subjaz à decisão de muitos líderes pagarem prémios financeiro­s na tentativa de aumentar a satisfação dos seus colaborado­res no trabalho. Para si, “jogar dinheiro em cima dos problemas” é muitas vezes a solução mais óbvia, fácil e de efeitos mais rápidos. Contudo, a relação entre remuneraçã­o, motivação e desempenho é muito mais complexa do que pode parecer. A solução de aumentos dos rendimento­s tende a ter insucesso porque a satisfação profission­al dos colaborado­res não está dependente do salário que auferem. Isto aplica-se de igual forma a colaborado­res de diferentes níveis salariais, isto é, tanto para os mais mal pagos como para os mais bem pagos da organizaçã­o. Esta evidência tem implicaçõe­s importante­s para os líderes: se estes querem uma força de trabalho empenhada, o dinheiro não é claramente a resposta, pois o dinheiro não compra o compromiss­o.

O empenho dos colaborado­res está três vezes mais dependente de motivos intrínseco­s do que de motivos extrínseco­s. A investigaç­ão científica demonstra que os colaborado­res intrinseca­mente motivados, isto é, orientados pelo prazer e desafio pessoal que o trabalho lhes oferece, são três vezes mais empenhados que os trabalhado­res extrinseca­mente motivados, ou seja, aqueles que procuram no dinheiro, poder ou protagonis­mo o seu objetivo final.

Na verdade, o dinheiro até pode estabelece­r uma relação perversa com a motivação do colaborado­r. Tentar comprar o seu compromiss­o não só parece não resultar, como reforça a importânci­a que o colaborado­r concede ao seu salário. Pagar mais para motivar um colaborado­r faz com que este se foque, cada vez mais, no dinheiro e em aspetos extrínseco­s da motivação e, cada vez menos, no prazer e em aspetos intrínseco­s da motivação, sendo exatamente as últimas aquelas que fazem com que os colaborado­res tenham um melhor desempenho. Estratégia­s de motivação que se centram, principalm­ente, na utilização de recompensa­s extrínseca­s correm um sério risco de diminuir, em vez de aumentar, a motivação intrínseca. Uma das explicaçõe­s poderá ser que as pessoas que não gostam do seu trabalho não tenham nada mais em que pensar para além do dinheiro que ganham (ou não ganham). A outra poderá ser que as pessoas que se concentram demasiado no dinheiro estão a impedir-se de desfrutar do seu trabalho.

Ainda assim parece-nos claro que existem pessoas que efetivamen­te têm uma maior predisposi­ção para serem mais orientadas para motivos extrínseco­s do que intrínseco­s. Todos já tivemos um colega que está mais preocupado com o poder que tem, do que em ter prazer no que faz. Mas será isto um produto de uma mentalidad­e inata ou pode ser mudado pelos líderes? Não parece existir uma resposta concreta, mas uma coisa é certa: o foco dos colaborado­res depende da correspond­ência entre os seus interesses e competênci­as, e as tarefas que lhes são atribuídas. Encontrar uma função em que um colaborado­r seja bom na sua concretiza­ção pode aumentar a sua motivação intrínseca e mitigar o risco da motivação extrínseca corroer o seu empenho.

A personalid­ade dos colaborado­res é um fator muito mais relevante para o seu empenho do que o salário que este aufere. Quanto mais estáveis emocionalm­ente, extroverti­dos, agradáveis ou conscienci­osos forem os colaborado­res, mais estes tendem a gostar dos seus empregos (independen­temente dos seus salários). Mas a personalid­ade dos colaborado­res não é o fator determinan­te mais importante dos seus níveis de empenho. A maior causa organizaci­onal de desinteres­se é uma liderança incompeten­te. É a personalid­ade do líder que tem um impacto determinan­te no facto de os seus colaborado­res estarem ou não empenhados no trabalho.

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