Diário de Notícias

Cali Vibes. Gwen Stefani reinou no festival que celebra reggae, praia e erva

Não há festival que marque mais o espírito da Califórnia do que o Cali Vibes, em Long Beach. Músicos fumam erva em palco, há culinária de classe mundial e um grande esforço de sustentabi­lidade para minimizar o impacto do evento.

- TEXTO ANA RITA GUERRA

Q “uantos de vocês fumam erva?”, perguntou o rapper Wiz Khalifa perante uma multidão eletrizada pelo reaparecim­ento do sol na marina de Long Beach. “Façam barulho!”, incentivou o músico, enquanto soavam os primeiros acordes de Roll up no palco principal do festival Cali Vibes, que decorreu este fim de semana na cidade costeira a 40 km de Los Angeles.

Khalifa deu um dos concertos mais arrebatado­res dos três dias do evento, cantando com um charro na mão e fazendo várias referência­s ao culto da erva, que faz parte do espírito da Califórnia. “Se vocês querem fumar com o Wiz Khalifa, façam barulho!”, disse, depois de pôr toda a gente a dançar com You and Your Friends. “Eu também quero fumar com vocês.”

O aroma de canábis que permeou o espaço do festival, por onde passaram 75 mil pessoas ao longo de três dias, é uma ode à cultura local. Não há festival que represente melhor o espírito da Califórnia do que o Cali Vibes, onde se celebra reggae, hip-hop e ska, praia, surf e skate, erva e sabores de todas as partes do mundo.

“California­Vibrations, ou CaliVibes, é um festival único de música e estilo de vida do Sul da Califórnia”, descreve a promotora responsáve­l pela organizaçã­o, AEG Worldwide, que detém a Goldenvoic­e. É a mesma casa por detrás do icónico Coachella, que invadirá o deserto california­no em menos de dois meses.

Aqui, com vista para a água no parque Marina Green, a estrela da edição 2024 foi Gwen Stefani, que encabeçou o cartaz de sábado à noite. Por vezes chamada de “rainha de Orange County”, a vocalista dos No Doubt – que voltarão a tocar juntos no Coachella, em abril – empolgou a multidão com uma seleção dos seus melhores singles a solo e vários dos hits da banda. Foi o caso de Spiderwebs, Sunday Morning e Just a Girl, canções que têm quase 30 anos mas continuam a fazer saltar os amantes de ska, da balada Don’t Speak, que projetou os

No Doubt para a fama mundial, e de singles de Stefani como Hollaback Girl e Sweet Escape. A cantora, de 54 anos, percorreu quilómetro­s no palco principal e ainda presenteou os fãs com a apresentaç­ão do seu novo single com o marido, Blake Shelton, que tocou com ela Purple Irises. Também Sean Paul fez uma aparição para cantar Light my Fire, single que os dois lançaram em 2022. Alguns fãs tinham esperança de que o resto dos No Doubt aparecesse para uma música, mas essa reunião será definitiva­mente um exclusivo do Coachella.

Fora dos palcos, por onde passaram bandas como The Interrupte­rs, Rebelution e Stick Figure e os lendários Ice Cube, Sublime e The Roots, o festival teve uma extensa área de tendas e expositore­s dedicados à canábis. Era possível comprar flor ou charros pré-enrolados, mas também descobrir mais sobre organizaçõ­es como a American Weed Co., que é detida por veteranos do exército norte-americano e faz advocacia para a legalizaçã­o federal da erva. Também estavam presentes a Weed Maps, uma espécie de Google Maps dos dispensári­os de canábis, Catalyst, cujo mote é #WeedForThe­People, a Royal Blunts e a Cannabis Talk 101, um programa de rádio dedicado a tudo o que rodeia o cultivo e consumo da planta.

Gastronomi­a do mundo

Outro dos destaques foi a oferta culinária do festival, muito além da comida rápida e pouco saudável que costuma estar disponível nestes eventos. Os cerca de 40 fornecedor­es de comes e bebes ofereceram pratos com sabores desde o Havai e Polinésia à Jamaica, com um grande foco em comida vegana. Por exemplo, os hambúrguer­es veganos da Monty’s Good Burger ou o churrasco havaiano vegano da Lucky Catsu. “Há imensas opções veganas aqui, o que nem sempre é o caso”, disse ao DN Jaime Nack, consultora e parceira de sustentabi­lidade da AEG Worldwide. “Não só as pessoas recebem a sua comida numa embalagem compostáve­l, como também podem comer exclusivam­ente à base de plantas”, sublinhou.

Um laboratóri­o de sustentabi­lidade

Esta vertente foi importante no Cali Vibes não apenas porque há uma grande população vegetarian­a e vegana no Sul da Califórnia, mas também porque o festival tem uma grande componente virada para a sustentabi­lidade. Por ser a uma escala mais pequena do que outros festivais da Goldenvoic­e, como o Coachella, é possível testar iniciativa­s que depois podem ser alargadas e repetidas em eventos maiores. “As lições que são aprendidas nos festivais regionais mais pequenos podem depois ser implementa­das noutros”, explicou Jaime Nack.

Uma das principais iniciativa­s do Cali Vibes é que não há garrafas de água de plástico à venda. Há estações de água filtrada gratuita, onde os festivalei­ros podem encher as suas próprias garrafas reutilizáv­eis, e água em latas. Porque “o alumínio pode ser infinitame­nte reciclado”, indicou a responsáve­l.

Para cervejas e outras bebidas alcoólicas, os bares usam os copos resistente­s r.Cups, que apresentam em letras gordas a mensagem “por favor retorne o nosso copo a um contentor r.cup”. Os copos são lavados e reutilizad­os nos próximos dias e festivais.

Além disso, há 21 estações de lixo e reciclagem, com “embaixador­es” Green Team, que monitoriza­m o que vai para dentro de cada contentor – lixo, plástico, papel, material orgânico. “Queremos garantir que tornamos isto o mais fácil possível. É por isso que o sistema está codificado em várias cores”, referiu Nack. O resultado é que o festival praticamen­te não tinha lixo no chão e a imagem de caixotes com copos de plástico vazios até ao bordo era inexistent­e.

O Cali Vibes também apostou em painéis solares e em geradores alimentado­s a baterias elétricas. Nos espaços dedicados a tendas e expositore­s, uma fila foi dedicada a organizaçõ­es sem fins lucrativos que promoveram iniciativa­s de economia circular, como a conversão de tecidos em peças únicas, a transforma­ção de restos de merchandis­ing em novos itens e a experiênci­a de marcas que vendem champô e amaciador a quem traga a sua própria embalagem. “Gostamos de incluir a educação como parte do nosso processo”, disse a consultora e parceira. “Estamos a implementa­r todas estas coisas em parceria com a cidade e os espaços nas comunidade­s locais.” E nesta comunidade, que vive à beira de água e celebra a natureza como parte da sua identidade, a sustentabi­lidade entrou no léxico do entretenim­ento.

Foram ontem revelados os vencedores da 10.ª edição dos Sophia Estudante, os prémios que premeiam as curtas-metragens feita nas escolas de todo o país. Uma festa de cinema organizada pela Academia de Cinema Portuguesa e que levou a Albufeira a equipa de Rabo de Peixe para dar as “dicas” de um sucesso mundial ....

Ontem em Albufeira o cinema português júnior teve mais uma página de ouro. Os dez anos dos Prémios Sophia Estudante culminaram na atribuição dos troféus que premeiam as curtas-metragens feitas em contexto escolar. Uma festa levou ao auditório da cidade algarvia estudantes de cinema de todo o país numa atmosfera de grande emoção num evento promovido pela Academia Portuguesa de Cinema.

Mais do que a competição de um festival, os Sophia Estudante são já um momento anual relevante para as escolas de cinema e audiovisua­l. Oportunida­de também para todos os cinéfilos verem de forma gratuita curtas-metragens de animação, experiment­ais, documentai­s e de ficção. Foram quatro dias que também incluíram exposições de cartazes, debates e masterclas­ses.

A Universida­de Lusófona venceu o Sophia mais esperado, o de melhor filme de ficção para uma comédia de João Ferreira, O Incidente da Galinha, uma história de uma galinha de ovos de ouro. Esta curta-metragem tem a presença do conceituad­o ator Nuno Nolasco. Nessa competição, o júri terá ignorado O Sorteio, de Lucas Torres e Lourenço Barjona, uma exaltante distopia de um futuro onde a falta de sustentabi­lidade climática faz com que em Portugal se tomem medidas drásticas quanto ao excesso de população. Na competição dos melhores filmes de mestrado, a Lusófona também triunfou com Uma Mãe vai à Praia, de Pedro Hasrouny, um dos títulos com maior aceitação entre o público estudante. 52 Hz, de Diana Rodrigues, venceu o prémio de melhor animação. De recordar que João Gonzalez, em 2016 venceu o mesmo Sophia com Nestor, muito antes das andanças nos Óscares.

Íntimo e bem sentido é o vencedor do melhor documentár­io, Défilement, de Francisca Miranda, cineasta que narra as vivências da sua família através de filmagens de home-movies e fotografia­s de família. Mas o melhor filme visto nesta safra de obras feitas o ano passado terá sido Seres Vivos, de Margarida Fonseca, feita em contexto de filme de fim de curso na ArCo. Uma história sobre três irmãs que flutuam num mar mágico algures entre Cascais e o Guincho, na Poça. O filme venceu na categoria experiment­al. “É uma obra com ressonânci­as biográfica­s e trabalha a memória, a relação com a natureza e a maneira como nos relacionam­os com os entes mais queridos. Foi filmado num sítio lindo e só foi possível filmar quando a maré estava vazia, caso contrário seria perigoso, daí um dos temas ser sobre saber flutuar”, contou a realizador­a momentos a seguir a ter recebido o prémio.

Para a direção da Academia, esta edição foi a mais bem sucedida de sempre: “para os alunos isto é muito importante, sobretudo aqui no Algarve, onde ficam todos E com os debates e os workshops recebem muita informação. Mas não são os únicos a aprender, nós também aprendemos com os filmes deles. Com este contacto com os estudantes, nós da Academia, os cineastas convidados e os atores, percebem o que eles querem, o que eles sugerem...É um incentivo para fazer mais e melhor. Para o ano aqui em Albufeira vamos fazer mais e melhor e talvez surja um novo prémio, para os trailers...é mais um passo”, revela o presidente Paulo Trancoso. Tony Costa, o diretor de fotografia que coordena os Sophia Estudante, fala da importânci­a da masterclas­se dos atores e criador de Rabo de Peixe, Augusto Fraga: “Ele falou dessa importânci­a de se pensar a ficção televisiva como cinema, falou muito dessa ideia de se filmar com uma só câmara. É importante os alunos terem em mente que para televisão ou plataforma­s a abordagem não pode ser de encher chouriços para que possam surgir muitos episódios. É fundamenta­l a intuição artística. O Augusto Fraga salientou que a primazia é filmar com qualidade e exigência”.

Curiosamen­te, na sua masterclas­se, o açoriano Augusto Fraga confessou estar arrependid­o de não ter inicialmen­te acreditado na qualidade das empresas portuguesa­s de efeitos visuais, tendo inclusive referido que a imjuntos. posição do recurso nacional foi da Netflix. Outro dos arrependim­entos do showrunner foi ter morto demasiadas personagen­s “Agora que vamos fazer mais uma temporada claro que alguns vão fazer falta, mas estou mesmo mais motivado para fazer esta nova temporada do que quando comecei a primeira...”, referiu numa sessão que quase esgotou o auditório. Os alunos das diversas escolas puderam também fazer perguntas a atores da série como Adriano Carvalho, José Condessa ou Helena Caldeira.

Outras das estrelas desta 10ª edição dos Sophia Estudante foi Ricardo Pereira. O ator apresentou a cerimónia final ao lado da colega Teresa Tavares e mostrou-se impression­ado com a qualidade do cinema que viu: “saí daqui renovado! Renovado , esperançad­o e orgulhoso com todas estas novas ideias. Vi muitos filmes bons. Tenho muita esperança no futuro do cinema português. É super importante a Academia ter esta aposta nos jovens e agora, dez anos depois, tem ainda de ser aumentada e melhorada, sobretudo para dar melhores condições aos futuros cineastas”.

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Um evento de três dias que juntou muita música reggae, rock e hip-hop no Marina Green Park.
 ?? ?? Os vencedores da 10.ª edição dos Sophia Estudante.
Os vencedores da 10.ª edição dos Sophia Estudante.
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Seres Vivos, uma obra onde o silêncio é de ouro.
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Troféus que premeiam ‘curtas’ feitas em contexto escolar.

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