As polarizadas eleições britânicas
Um governo vigoroso e competente. A frase lia-se num dos textos do DN no dia 28 de fevereiro de 1974, data em que 40 milhões de pessoas iam a votos na Grã-Bretanha. O assunto estava na capa e a manchete resumia a situação. “Heat optimista, Wilson resignado e Thorpe na expectativa”. As eleições foram convocadas de forma antecipada, após uma “irredutível greve dos mineiros”. A importância do pleito eleitoral daquele dia era de dimensão internacional. “Os resultados do escrutínio poderão ter importante consequência não só para a Grã-Bretanha, mas também para a Europa”.
A nação também enfrentava na altura o aumento do custo de vida, inflação e “problemas de uma gravidade sem precedente”. Tanto conservadores quanto trabalhistas tinham propostas para combater o problema, mas a perspetiva não era animadora. “É evidente que não será a vitória de um ou de outro partido que evitará o crescente agravamento dos preços”. Mais desânimo noutro trecho. “Não será tão-pouco o resultado das eleições que susterá a marcha devastadora da inflação”.
O longo texto contextualizava todo o cenário da época e o sistema de votação. “Os candidatos são um pouco mais de dois mil, entre os quais há 125 mulheres (o último parlamento contava 26 deputadas)”.
Havia também a análise da curta campanha eleitoral, de apenas três semanas, considerada não decisiva. “Afinal, quando se pensava que esta seria particularmente ardente, nada se passou que inflamasse o leitor”.
O redator também fazia uma análise dos principais líderes partidários e das intenções de votos. “Todas as sondagens que diagnosticavam o progresso dos liberais colocavam os conservadores à cabeça, com um avanço sobre os trabalhistas de dois a sete por cento”. As sondagens eram destacadas como “fortes” e “fluidez”.
As eleições também suscitavam discussões sobre o facto de haver vários partidos na corrida. “Mostra claramente uma oposição ao sistema bipartidário, que provocou um confronto permanente entre as forças do capital e as do trabalho”.
O resultado foi a vitória da força do trabalho, através do líder Harold Wilson, o resignado, mas sem maioria. E o sistema britânico continua bipartidário.