Ida de Passos Coelho a Faro estava programada há mais de uma semana
Antigo primeiro-ministro entrou na campanha para dar apoio a Luís Montenegro e ao cabeça de lista Miguel Pinto Luz, numa participação que pôs termo ao “tabu” da sua ausência e pretendeu “esvaziar o discurso do Chega”. Para o encerramento deve ficar o aind
Quando ouviu de Pedro Nuno Santos, no debate televisivo entre os líderes da Aliança Democrática e do PS, que “não é por acaso que não traz Pedro Passos Coelho à campanha”, já Luís Montenegro havia combinado com o último primeiro-ministro do PSD que ele seria a estrela do comício que a coligação de centro-direita faria em Faro na segunda-feira seguinte.
Ausente do Congresso do PSD, a 25 de novembro, com Cavaco Silva a aparecer no encerramento para apoiar o líder social-democrata, e também da cerimónia de assinatura do acordo da Aliança Democrática, da Convenção “Por Portugal” e da apresentação do programa eleitoral, Passos Coelho começava a “gerar ruído” numa campanha em que a maioria das sondagens indicam elevadas possibilidades de vitória de centro-direita. E o momento e lugar da sua entrada na campanha eleitoral estiveram longe de serem escolhidos por acaso.
Diversos responsáveis da coligação que junta PSD, CDS-PP, PPM e independentes realçaram ao DN que a opção pelo segundo dia do período oficial de campanha – em vez de uma aparição mais tardia, como a tradicional descida do Chiado para a Baixa de Lisboa, na sexta-feira que antecede o dia de reflexão – visou evitar que a entrada em cena de Pedro Passos Coelho “ofuscasse a campanha de Luís Montenegro”. E que esta fosse contaminada por potenciais efeitos secundários da presença do antigo primeiro-ministro, sobretudo a memória dos cortes de salários e pensões, que permitiu a António Costa capitalizar, em três legislativas consecutivas, a mensagem “foi mais longe do que a Troika exigia”.
Quanto à opção pelo Algarve, onde Passos Coelho passa habitualmente férias na Manta Rota – e “apadrinhou” o antigo líder parlamentar Luís Montenegro, então recém-eleito para a presidência do PSD, na Festa do Pontal de 2022 –, foi decisivo o apoio ao cabeça de lista da AD, Miguel Pinto Luz. O vice-presidente da Câmara de Cascais, é próximo do vencedor das legislativas de 2011 e 2015, tendo sido secretário de Estado das Infraestruturas no seu Governo.
Além disso, Faro é um dos distritos em que o crescimento eleitoral da AD depende não só de suplantar o PS – que há dois anos elegeu cinco dos nove deputados do círculo –, mas também o Chega, que volta a ser encabeçada pelo seu líder parlamentar, Pedro Pinto. A necessidade de conter o crescimento do partido de André Ventura a sul, nomeadamente no Algarve e no Alentejo, tornou mais estratégica a entrada em cena de Passos Coelho.
Numa intervenção em que pediu “força política” para o futuro governo de Luís Montenegro, deixando implícito o apelo a uma concentração de votos que eleve a AD (com ou sem ajuda dos deputados da Iniciativa Liberal) à maioria absoluta, o antigo primeiro-ministro disse que “precisamos de um país aberto à imigração, mas também um país seguro”. Uma referência recebida com críticas e equiparada à retórica de extrema-esquerda pelos partidos de esquerda – levando o líder parlamentar social-democrata, Miranda Sarmento, a contrapor, num debate feito ontem pela Rádio Observador, a mensagem de que a AD defende
“portas abertas e não escancaradas à imigração –, mas que na coligação é vista como uma incursão no eleitorado potencial do Chega.
“Passos Coelho esvaziou o discurso do Chega”, defendeu ao DN um dos principais responsáveis da AD, apontando que até os ataques às palavras do ex-líder social-democrata servem para consolidar a ideia de que “estamos a falar para o país e o PS está a falar para nós”.
Em sentido contrário, outro ex-ministro social-democrata referiu que a presença de Passos Coelho veio mostrar que “os três partidos da direita têm um líder que não se está a candidatar a estas eleições”. Uma afirmação consubstanciada no facto de Luís Montenegro, André Ventura e Rui Rocha terem votado em Passos Coelho em 2011 e 2015, sendo que mesmo o líder centrista Nuno Melo o fez na segunda ocasião, quando PSD e CDS foram a votos na coligação pré-eleitoral Portugal à Frente.
Barões assinalados
Depois de Passos Coelho, a AD prepara a entrada na campanha de outros históricos do partido. O primeiro militante do PSD, Francisco Pinto Balsemão, participou no comício de Cascais, na pré-campanha, e as listas de deputados têm alguns “barões”, como o ex-ministro José Pedro Aguiar-Branco, cabeça de lista por Viana do Castelo e potencial futuro presidente da Assembleia da República.
O próximo domingo marcará a participação do ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, que receberá Luís Montenegro na Figueira da Foz, autarquia a que preside enquanto independente, estando para já incerto que também se junte à campanha da AD o seu antecessor à frente do Governo de Portugal, Durão Barroso.
O último dia da campanha, na descida do Chiado, deve ficar marcado pela participação do ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da
República, Cavaco Silva.