Arménia e Azerbaijão à procura de caminho para a paz em Berlim
Tensão na fronteira mantém-se após azeris terem recuperado o controlo do enclave do Nagorno-Karabakh, levando à fuga de cem mil arménios.
Os chefes da diplomacia da Arménia e do Azerbaijão reúnem-se hoje e amanhã em Berlim, no âmbito de negociações de paz que têm como pano de fundo a tensão constante na fronteira e as guerras pelo controlo do Nagorno-Karabakh (na década de 1990 e em 2020). O enclave separatista foi reconquistado em setembro do ano passado pelas forças azeris, levando mais de cem mil pessoas de etnia arménia a fugir.
A tensão continua a existir na fronteira, com trocas de acusações mútuas de responsabilidade nos confrontos esporádicos que resultam na morte de soldados. O primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, acusa o presidente azeri, Ilham Aliyev, de procurar a “guerra total” e de ter planos expansionistas – em especial a região arménia de Siounik, visando ligar o enclave azeri de Nakhichevan ao resto do Azerbaijão.
Algo que Aliyev, reeleito já este mês para um novo mandato após 20 anos no poder (sucedeu ao falecido pai em 2003), nega querer fazer. O líder azeri, considerado um aliado próximo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, decidiu antecipar as eleições para capitalizar a explosão de popularidade após a rápida recuperação do controlo do Nagorno-Karabakh. Este enclave foi anexado ao Azerbaijão em 1921, pelo poder soviético, mas era habitado sobretudo por arménios, que procuravam a independência.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, reuniu-se com ambos à margem da Conferência de Segurança de Munique, tendo obtido o compromisso dos dois lados na resolução dos seus diferendos “pacificamente e sem recurso à violência”. A reunião dos chefes da diplomacia, em Berlim, faz parte dos esforços da Alemanha de continuar à procura de uma solução que evite um novo conflito no Cáucaso.
“Espero que progresso seja alcançado como resultado desta reunião”, disse ontem Pashinyan, num encontro em Atenas com o primeiro-ministro grego. Kyriakos Mitsotakis mostrou-se, por seu lado, disponível para ajudar a Arménia a virar-se mais para o Ocidente, após anos de ligação à Rússia.
No ano passado, a Arménia realizou um exercício militar conjunto com os EUA e também prometeu acelerar as reformas para reforçar a sua parceria com a União Europeia – o que irritou Moscovo. Erevan acusou depois os russos de nada terem feito para ajudar a travar a ofensiva militar azeri que permitiu recuperar o controlo do Nagorno-Karabakh, levando mais de cem mil arménios a fugir para a Arménia.
Na semana passada, Pashinyan foi ainda mais longe, anunciando a suspensão da participação na Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma aliança militar liderada por Moscovo, considerando que o bloco tinha falhado o seu país nos últimos anos.
Nikol Pashinyan com Olaf Scholz e Ilham Aliyev, em Munique.