Diário de Notícias

“Ventos de mudança” em Itália? Aliança de centro-esquerda vence candidato de Meloni na Sardenha

Primeira-ministra disse que “derrotas são sempre uma deceção, mas também uma oportunida­de para refletir e melhorar". Direita defende que resultado não põe em causa governo. Foi a primeira derrota para Meloni desde que foi eleita, em setembro de 2022. A 10

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Oprimeiro teste à aliança de centro-esquerda entre o Movimento 5 Estrelas (M5S) e o Partido Democrátic­o (PD) foi um sucesso na Sardenha, com Alessandra Todde a derrotar o candidato apoiado pela direita, Paolo Truzzu, por apenas 0,4 pontos (menos de três mil votos). Nunca uma mulher foi presidente regional desta ilha do Mediterrân­eo e Todde consegue o cargo naquela que é também a primeira derrota eleitoral para a coligação de governo de Giorgia Meloni.

“O vento está a mudar e algumas pessoas nem apostavam que pudéssemos chegar tão longe”, disse a líder do PD, Elly Schlein, que se juntou na sede de campanha de Todde, em Cagliari, ao ex-primeiro-ministro e líder do M5S, Giuseppe Conte. Este considerou o resultado eleitoral uma “derrota pessoal” para Meloni, insistindo que a união da oposição é possível e é a única forma de derrotar a coligação de extrema-direita.

A primeira-ministra, que lidera o governo dos seus Irmãos de Itália com a Liga de Matteo Salvini e a Força Itália do falecido Silvio Berlusconi (agora liderada por Antonio Tajani), reagiu nas redes sociais. “As derrotas são sempre uma deceção, mas também uma oportunida­de para refletir e melhorar. Também aprenderem­os com isto”, indicou, depois de um comunicado dos líderes dos três partidos da coligação ter deixado claro que as eleições na Sardenha não representa­m uma “queda do apoio no governo de centro-direita”.

Conte falou de “um dia inesquecív­el”, felicitand­o aquela que é a primeira chefe de governo regional do seu partido, além da primeira mulher a governar a Sardenha. “Estou muito feliz e muito orgulhosa. Acredito que hoje podemos escrever uma página na história da Sardenha”, disse Todde, de 55 anos, defendendo que a aliança entre os dois maiores partidos da oposição é “o único caminho viável a seguir” para derrotar a extrema-direita.

A nova líder regional fez carreira fora de Itália (já viveu em oito países diferentes), após formar-se em Ciências da Informação e Informátic­a pela Universida­de de Pizza. Entrou para a política em 2019, candidatan­do-se (sem sucesso) pelo M5S às eleições europeias, acabando por chegar a vice-presidente do partido e a vice-ministra no governo de Mario Draghi.

Acordo amplo em Abruzzo

Por a candidata ser de um partido antissiste­ma e radical na sua génese, outros dois partidos – o Itália Viva do ex-primeiro-ministro e antigo líder do PD Matteo Renzi e o Ação do ex-ministro da Indústria Carlo Calenda – boicotaram um acordo mais amplo na Sardenha, com alguns dos votos do centro-esquerda (8,6%) a acabar num terceiro candidato independen­te, o ex-presidente regional Renato Soru (2004-2009). No final, Todde teve 45,4% dos votos e Truzzu teve 40%.

Mas nas eleições regionais de 10

Giuseppe Conte, do Movimento 5 Estrelas, Alexandra Todde e a líder do Partido Democrátic­o, Elly Schlein. de março em Abruzzo, os quatro devem avançar unidos com mais outros pequenos partidos contra a coligação de governo. Nessa corrida, o atual presidente regional Marco Marsilio procura a reeleição, frente ao professor universitá­rio e economista Luciano D'Amico. As sondagens apontam para a vitória de Marsilio, mas antes das eleições de domingo na Sardenha, as pesquisas também colocavam Truzzu com uma vantagem de quatro pontos que não se confirmou.

Truzzu, que é presidente da câmara de Cagliari desde 2019, assumindo pessoalmen­te a derrota apesar de ainda estar a estudar pedir a recontagem dos votos. “A leitura do resultado é simples. Estas não foram eleições influencia­das por fatores nacionais e a prova é o resultado em Cagliari, que votou contra mim”, disse. Na capital da Sardenha, a diferença entre os dois candidatos foi de mais de oito pontos percentuai­s, ou 20 mil votos.

Mas Truzzu, dos Irmãos de Itália, foi uma escolha pessoal de Meloni, que optou por não apoiar a reeleição do atual presidente regional Christian Solinas, do Partido Sardo de Ação, que tinha o apoio da Liga de Salvini. A divisão no campo da direita, com a possibilid­ade de Solinas avançar sozinho, acabou contudo por desaparece­r, com o anúncio de que estava a ser investigad­o por corrupção. A Liga acabaria por apoiar Truzzu, com Solinas a optar por desistir, mas isso deixou cicatrizes na coligação.

Salvini, vice-primeiro-ministro e titular da pasta da Indústria, lamentou que quase metade dos eleitores não tenha votado na Sardenha – a participaç­ão foi de 52%. “Quando mudas de candidato a meio é mais difícil”, admitiu, recusando contudo apontar culpas. O líder da Liga mostrou-se confiante de que em Abruzzo o resultado será diferente e, em relação ao governo, disse que se mantém “firme”.

A nível nacional, a direita governa ainda 14 regiões, havendo mais três eleições ainda este ano além de Abruzzo – Basilicata, Piemonte e Úmbria. Além disso, há as eleições europeias em junho, com o partido de Meloni à frente nas sondagens.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal