Liga quer baixar impostos para reter talento e usar apostas para aumentar competitividade
Futebol profissional gerou receitas de 987 milhões de euros na época 2022-23. Relatório sobre impacto social, cultural e económico mostra que os clubes dependem da venda de jogadores e avisa que é preciso valorizar o adepto.
Ofutebol profissional português registou receitas superiores a 987 milhões de euros na época 2022-23. Foram mais 74 milhões do que na temporada anterior, segundo o Anuário do Futebol Profissional, um estudo da EY que sustenta o plano estratégico da Liga Portugal para 2023-2027 em quatro eixos fundamentais: “Profissionalização da indústria, novas competições e formatos, alteração do perfil do adepto e intensificação das preocupações e sociais e éticas”.
Segundo os dados que constam do relatório que retrata o impacto económico, cultural e social do desporto rei em Portugal, ontem apresentado no Porto, a indústria do futebol contribuiu com 667 milhões de euros para o Produto Interno Bruto (PIB), mais 50 milhões do que na época anterior.
“Temos um grande contributo para o PIB, produzimos muitos postos de trabalhos, e pagamos muitos impostos. Por isso, reclamamos o direito de sermos olhados com uma verdadeira indústria. Vamos solicitar a descida dos custos de contextos, é fundamental para a nossa competitividade e sustentabilidade”, disse Helena Pires, diretora executiva da Liga Portugal, defendendo que “a indústria do futebol tem de ser olhada de forma diferente pelo contributo que dá ao país”.
A forma como isso pode acontecer terá de ser ainda debatida entre os 34 clubes que competem nos dois principais campeonatos e espera-se por um novo Governo (será eleito no dia 10 de março), mas o organismo liderado por Pedro Proença não tem dúvidas: Para aumentar a competitividade é preciso baixar os impostos, nomeadamente a tributação aplicada aos salários (48% a partir dos 75 mil euros), que têm impedido a “retenção de talento” e “incapacitado” os clubes portugueses de competir com emblemas internacionais.
Repensar a distribuição das receitas das apostas desportivas, “tornando-a mais justa” e “menos contestada”, é uma das propostas para aumentar as próprias receitas da entidade e ajuproduto os clubes a serem mais competitivos, uma vez que as equipas ditas mais pequenas conseguiriam ter mais verbas daí resultantes e investir mais e melhor nos plantéis. Se os lucros foram de 948 milhões de euros, a despesa foi quase idêntica, na ordem dos 918ME.
Reter talento e aumentar a competitividade são assim duas condições base para melhorar o e levar mais adeptos aos estádios, gerando também mais bilhética e receitas indiretas ao nível do merchandising. Na época passada, cerca de 3, 5 milhões de pessoas marcaram presença nos estádios em jogos da I Liga (média de 51%), a que se somam as 338 mil que assistiram a partidas da II Liga (27%). Para melhorar este cenário, o organismo sugere “conhecer o adepto, analisar
os seu hábitos de consumo, geografia e poder de compra”.
505 milhões em vendas de jogadores para o estrangeiro
A principal fonte de receita ainda são as vendas de jogadores. São as transferências, principalmente as internacionais, que alimentam os cofres dos clubes portugueses. Em 2022-23, este mercadar do rendeu 505 milhões de euros e foram transferidos 227 jogadores para ligas estrangeiras, o que prova, segundo a Liga Portugal, a internacionalização do futebol português. Até porque os negócios internos, ou seja, entre clubes portugueses, diminuíram.
O fim das limitações da pandemia permitiu a recuperação económica e gerar emprego. De acordo com o documento, as duas ligas profissionais foram diretamente responsáveis por 3504 postos de trabalho, incluindo 930 jogadores de 18 equipas do principal campeonato, que receberam 269 milhões em salários.
“Somos uma das indústrias de maior relevância a nível nacional e com um papel preponderante na promoção do país no estrangeiro. A Liga Portugal defende por isso mesmo que chegou o momento de vermos finalmente reconhecido o papel deste setor no tecido económico e social português, garantindo ao futebol profissional as mesmas condições que são dadas a outras indústrias nacionais e àqueles com quem temos de competir a nível internacional”, defendeu Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, entidade que pelo oitavo ano consecutivo apresentou resultados operacionais positivos, registando-se receitas recorde de cerca de 24 milhões de euros.
O estudo da EY sustenta o plano estratégico da entidade para 2023-2027 em quatro eixos fundamentais: “Profissionalização da indústria, novas competições e formatos, alteração do perfil do adepto e intensificação das preocupações e sociais e éticas”. Incluindo a centralização dos direitos audiovisuais: “A centralização dos direitos será um passo muito importante para o crescimento do futebol em Portugal. Atualmente, as receitas da televisão correspondem a cerca de 20% do setor, mas muito concentradas em três clubes. Acreditamos que a centralização pode construir um produto melhor e com maior valor associado, podendo contribuir para uma distribuição mais equitativa entre os clubes”, disse Miguel Farinha, da EY Portugal, Angola e Moçambique.