Situação em Cascais é mais preocupante do que Ordem dos Médicos antecipava
Bastonário visitou ontem a unidade – uma Parceria Público-Privada – e relatou a falta de recursos e um “olhar muito económico e financeiro” na gestão.
Obastonário da Ordem dos Médicos disse ontem que a situação que encontrou numa visita ao Hospital de Cascais é mais preocupante do que antecipava e que os problemas afetam outras especialidades além da neurologia. “O cenário que nos foi descrito foi o de uma espiral preocupante que vai além das informações que nos tinham sido remetidas antes da reunião. Há dificuldades em recursos humanos, não só na neurologia”, explicou Carlos Cortes, em declarações à agência Lusa.
O bastonário visitou ontem o Hospital de Cascais – uma Parceria Público-Privada – e reuniu com o Conselho de Administração, a Comissão de Internos e vários profissionais, na sequência de denúncias de um grupo de médicos do hospital sobre a falta de capacidade de resposta em neurologia. “O que surpreendeu a Ordem dos Médicos é que os problemas do Hospital de Cascais vão muito além da neurologia e muitas especialidades expressaram as suas enormes dificuldades”, relatou o responsável. De acordo com o bastonário, os problemas afetam serviços como medicina interna, urologia, gastrenterologia, urgência, cardiologia, pediatria e radiologia.
Carlos Cortes sublinhou ainda que o Hospital de Cascais vai aumentar, em breve, a área de referenciação, que passará de abranger cerca de 320 mil habitantes para 450 mil habitantes. “O Hospital de Cascais está com dificuldades, vai aumentar a sua área de influência em 130 mil habitantes, mas não vai aumentar em termos de recursos humanos. É uma missão impossível, uma equação difícil de resolver”, alertou.
Além da falta de recursos humanos – o serviço de neurologia, por exemplo, é composto apenas por uma médica –, Carlos Cortes diz que foram relatados problemas com equipamento obsoleto e relacionados com o próprio ambiente no hospital. “O ambiente que os médicos referiram não é de governação clínica, mas de um olhar muito económico e financeiro. Obviamente é importante, mas não podemos esquecer que, em primeiro lugar, estas instituições, independentemente do seu modelo de organização, têm como missão os cuidados de saúde de qualidade”, sublinhou.
Numa carta aberta divulgada na terça-feira, um grupo de médicos do Hospital de Cascais anunciou a entrega de declarações de escusa de responsabilidade por falta de condições para assegurar em segurança a prestação de cuidados adequados aos doentes do foro neurológico. Entretanto, amanhã os trabalhadores do hospital de Cascais têm agendada uma greve, exigindo a negociação da regulamentação coletiva de trabalho, que assegure horários de 35 horas e contratação de recursos humano. A paralisação foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas. Após 14 anos a gerir a parceria público-privada (PPP) do Hospital de Cascais, a Lusíadas Saúde desistiu do novo concurso, em 2022, por já não estar garantida a sustentabilidade económica. O concurso acabou por ficar para os espanhóis da Ribera Salud.