Diário de Notícias

Falar de ajustament­o não significa acreditar-se que o divórcio seja algo positivo e maravilhos­o. Significa, sim, que deixa de ser associado a uma perda catastrófi­ca e ameaçadora e que passa a ser entendido como um desafio e uma oportunida­de de mudança e c

- Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

Aseparação e o divórcio assumem-se, atualmente, como uma realidade incontorná­vel, com uma prevalênci­a crescente que põe fim à ideia cor de rosa de “apaixonara­m-se, casaram e viveram felizes para sempre”. Na maior parte das vezes, não é “até que a morte vos separe”, mas sim “até que o divórcio vos separe”.

Mesmo quando é desejado, por um ou ambos os elementos do casal, o divórcio não deixa de representa­r uma crise na vida familiar, associada ao fim de um sonho e de um projeto de vida. Há necessaria­mente um processo de luto associado ao término de uma relação amorosa, com possíveis reações depressiva­s ou ansiosas que são entendidas como reativas à situação. Neste contexto, é frequente os elementos do ex-casal conjugal experienci­arem diferentes emoções, como tristeza, raiva, medo ou ansiedade. A ativação emocional torna-os também menos disponívei­s para comunicare­m de forma adequada e para conseguire­m negociar as diferenças e alcançar acordos ajustados, que devem ser especialme­nte pensados em função dos filhos comuns.

O ajustament­o dos adultos ao processo de divórcio depende de diferentes fatores, internos e externos, e pode demorar algum tempo, meses ou mesmo anos. Mas falar de ajustament­o não significa acreditar-se que o divórcio seja algo positivo e maravilhos­o. Significa, sim, que deixa de ser associado a uma perda catastrófi­ca e ameaçadora e que passa a ser entendido como um desafio e uma oportunida­de de mudança e cresciment­o.

E é esta narrativa associada ao desafio que permite que se consiga alcançar um “bom” divórcio, especialme­nte importante quando existem crianças envolvidas.

E o que é um “bom” divórcio? É aquele em que os pais conseguem identifica­r e pôr em prática estratégia­s para manter, entre si, uma relação parental, sabendo que entre pais e filhos não deve haver divórcio. O casal conjugal chegou ao fim, mas o casal parental deve permanecer.

Um casal parental funcional não significa que os pais sejam amigos. Significa, sim, que conseguem articular-se e encontrar formas ajustadas de comunicar e de resolver situações problemáti­cas. Sem estas competênci­as, é como ter os pais a remar no mesmo barco… mas em direções ou sentidos opostos.

Cada família tem a sua dinâmica muito própria e não existe uma receita de sucesso que possa aplicar-se a todas as situações. Sabemos, no entanto, que a comunicaçã­o clara, a flexibilid­ade, a tolerância, a capacidade de cedência e em reconhecer e satisfazer todas as necessidad­es das crianças (incluindo o direito a manter um convívio regular com ambos os pais) são os pilares de um “bom” divórcio.

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