Falar de ajustamento não significa acreditar-se que o divórcio seja algo positivo e maravilhoso. Significa, sim, que deixa de ser associado a uma perda catastrófica e ameaçadora e que passa a ser entendido como um desafio e uma oportunidade de mudança e c
Aseparação e o divórcio assumem-se, atualmente, como uma realidade incontornável, com uma prevalência crescente que põe fim à ideia cor de rosa de “apaixonaram-se, casaram e viveram felizes para sempre”. Na maior parte das vezes, não é “até que a morte vos separe”, mas sim “até que o divórcio vos separe”.
Mesmo quando é desejado, por um ou ambos os elementos do casal, o divórcio não deixa de representar uma crise na vida familiar, associada ao fim de um sonho e de um projeto de vida. Há necessariamente um processo de luto associado ao término de uma relação amorosa, com possíveis reações depressivas ou ansiosas que são entendidas como reativas à situação. Neste contexto, é frequente os elementos do ex-casal conjugal experienciarem diferentes emoções, como tristeza, raiva, medo ou ansiedade. A ativação emocional torna-os também menos disponíveis para comunicarem de forma adequada e para conseguirem negociar as diferenças e alcançar acordos ajustados, que devem ser especialmente pensados em função dos filhos comuns.
O ajustamento dos adultos ao processo de divórcio depende de diferentes fatores, internos e externos, e pode demorar algum tempo, meses ou mesmo anos. Mas falar de ajustamento não significa acreditar-se que o divórcio seja algo positivo e maravilhoso. Significa, sim, que deixa de ser associado a uma perda catastrófica e ameaçadora e que passa a ser entendido como um desafio e uma oportunidade de mudança e crescimento.
E é esta narrativa associada ao desafio que permite que se consiga alcançar um “bom” divórcio, especialmente importante quando existem crianças envolvidas.
E o que é um “bom” divórcio? É aquele em que os pais conseguem identificar e pôr em prática estratégias para manter, entre si, uma relação parental, sabendo que entre pais e filhos não deve haver divórcio. O casal conjugal chegou ao fim, mas o casal parental deve permanecer.
Um casal parental funcional não significa que os pais sejam amigos. Significa, sim, que conseguem articular-se e encontrar formas ajustadas de comunicar e de resolver situações problemáticas. Sem estas competências, é como ter os pais a remar no mesmo barco… mas em direções ou sentidos opostos.
Cada família tem a sua dinâmica muito própria e não existe uma receita de sucesso que possa aplicar-se a todas as situações. Sabemos, no entanto, que a comunicação clara, a flexibilidade, a tolerância, a capacidade de cedência e em reconhecer e satisfazer todas as necessidades das crianças (incluindo o direito a manter um convívio regular com ambos os pais) são os pilares de um “bom” divórcio.