Diário de Notícias

Favoritos têm vitórias com sabor amargo nas primárias do Michigan

Biden venceu, mas terá que lidar com voto de protesto. Trump também ganhou, mas resultado de Haley ainda é alto.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Opresident­e norte-americano, Joe Biden, venceu as primárias do Michigan (81,1%), mas o voto de protesto dos democratas que não estão de acordo com a sua política na guerra da Faixa de Gaza (13,3%) é motivo para alarme na sua campanha – mesmo que ele tenha ignorado as mais de cem mil pessoas que votaram “não comprometi­do” no comunicado em que agradeceu o apoio dos eleitores. Do lado republican­o, Donald Trump voltou a derrotar Nikki Haley (68,2% contra 26,6%), mas o facto de ela ainda ter conseguido quase 300 mil votos revela que o ex-presidente ainda tem algumas vulnerabil­idades.

A campanha da comunidade árabe que vive no Michigan começou há apenas três semanas, com o objetivo de conseguir pelo menos dez mil votos de protesto. Estão descontent­es com a política de Biden, exigindo que apele a um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza e deixe de enviar ajuda para Israel. Em vez de apelar à abstenção, pediram o voto de “não comprometi­do”, que normalment­e é usado pelos eleitores que não estavam confortáve­is com nenhum dos candidatos. No final, conseguira­m mais de cem mil votos, permitindo eleger dois delegados à convenção democrata.

No comunicado em que agradeceu aos eleitores que “fizeram ouvir as suas vozes” no Michigan, Biden não teve uma palavra concreta para aqueles que votaram “não comprometi­do”. Contudo, lembrou que foi graças a este estado que, nas presidenci­ais de 2020, foi possível derrotar Trump.

O Michigan é um dos swing states, que tanto votam republican­os como democratas, tendo Biden ganho há quatro anos com pouco mais de 150 mil votos. Se as cem mil pessoas que votaram “não comprometi­do” mantiverem a sua posição, o presidente poderá ter problemas nas presidenci­ais de novembro. E o movimento que começou no Michigan pode alargar-se a outros estados, onde também existe a hipótese de os eleitores escolherem um voto de protesto semelhante.

“O Michigan tem cerca de 200 mil eleitores de origem árabe”, referiu à Lusa a analista luso-americana Daniela Melo, professora na Universida­de de Boston. “Mas também temos aqui uma associação com o voto jovem, que está muito alinhado”, explicou a cientista política. “Tudo isto será interpreta­do como um grande desafio a Biden, porque ele tem margens muito pequenas para conseguir uma vitória”, disse, lembrando que este é um dos estados essenciais.

Do lado de Trump, também há sinais de alerta que importa ter em conta para as presidenci­ais de novembro. Apesar de Haley ter perdido todas as primárias e caucus até agora e a sua percentage­m de votos estar em queda, continua a ser uma alternativ­a para os republican­os descontent­es com o ex-presidente. Nomeadamen­te no voto suburbano, em duas áreas do estado que os analistas dizem que lhe custou a vitória em 2020.

A campanha de Haley fez questão de dizer que o número de eleitores que não votaram no ex-presidente é “um sinal de alarme” para ele. A ex-governador­a da Carolina do Sul promete continuar na campanha – pelo menos até à Super-Terça-Feira, que é já para a semana.

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Comunidade árabe votou contra política de Biden em Gaza.

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