Votar pela liberdade
Pela falta de formação, de ética, ou de competência, [este Governo] acabou por viver os dois anos em que governou numa permanente situação de sobressalto e constantemente a ser confrontado com atitudes de abuso de confiança e de poder.
Portugal vai escolher um novo Governo no próximo dia 10 de março. Fomos chamados a votar desta vez, não porque o Governo anterior tivesse chegado ao fim da legislatura, mas porque a contínua e persistente cadeia de acontecimentos de incompetência e de abuso de confiança foram tais que, no momento em que surgiu uma ligeira suspeita que envolvia colaboradores diretos do primeiro-ministro e eventualmente o próprio primeiro-ministro, num processo de influências indevidas, o líder do Governo não teve qualquer possibilidade de se manter no cargo e apresentou a sua demissão.
Convém lembrar que este Governo beneficiava de uma maioria absoluta que lhe deveria ter dado estabilidade governativa, mas que, seja pela falta de formação, de ética, ou de competência, acabou por viver os dois anos em que governou numa permanente situação de sobressalto e constantemente a ser confrontado com atitudes de abuso de confiança e de poder.
No meu entendimento, o que levou a assistirmos a esta situação descontrolada de desgovernação está claramente ligado com um tema que a sociedade em que hoje vivemos – das redes sociais e do imediatismo, do individualismo e da autoverdade – não tem tempo nem consciência para pensar nem discutir o que é a contraposição entre duas propostas de vida para uma sociedade democrática.
Uma proposta que considera fundamental uma aceitação de um conjunto de princípios e valores que suportam e fundamentam o funcionamento das instituições, para assegurar a vivência de uma democracia que considera a pessoa na sua integração na sociedade.
Uma outra pretende que a simples vontade de cada um – sem grandes condicionamentos morais e promotora da desconstrução dos valores humanos que foram a base do desenvolvimento das sociedades que desaguaram na democracia ocidental – é baseada no relativismo e no individualismo, promovendo a ditadura da maioria e uma censura do pensamento sempre e quando não está de acordo com o que essa maioria determinou.
Por um lado, temos a filosofia primeiro e a democracia depois.
Ao assumir um conjunto de valores humanos aceites por todos e que nunca podem ser postos em causa, permite-se uma verdadeira vivência da liberdade em que é completamente aceite o livre pensamento.
Por outro, temos uma democracia que antecede a filosofia.
Nesta solução tudo passa a ser possível e isso leva a que, para assegurar o controlo da evolução da sociedade, a maioria assuma uma visão autocrática da verdade, censura o livre pensamento e interfere na vida íntima dos cidadãos.
A primeira baseia-se no compromisso fundacional da sociedade, que todos aceitam, baseando-se na verdade científica e no conhecimento da humanidade, enquanto a segunda baseia-se no relativismo, sempre inconstante e que avança baseado apenas na vontade da maioria e que nunca necessita de prova científica para afirmar as suas novas verdades.
É esta a decisão que vamos tomar no próximo dia 10 de março.
Se queremos continuar a construir a sociedade com valores que nos permite reforçar a democracia, ou se apostamos no individualismo e na relatividade das propostas das verdades fraturantes nunca provadas e que trarão de volta o autoritarismo e nos diminuirão a liberdade.
Eu voto pela liberdade e pela pessoa humana.