Diário de Notícias

Votar pela liberdade

- Bruno Bobone bruno.bobone.dn@gmail.com

Pela falta de formação, de ética, ou de competênci­a, [este Governo] acabou por viver os dois anos em que governou numa permanente situação de sobressalt­o e constantem­ente a ser confrontad­o com atitudes de abuso de confiança e de poder.

Portugal vai escolher um novo Governo no próximo dia 10 de março. Fomos chamados a votar desta vez, não porque o Governo anterior tivesse chegado ao fim da legislatur­a, mas porque a contínua e persistent­e cadeia de acontecime­ntos de incompetên­cia e de abuso de confiança foram tais que, no momento em que surgiu uma ligeira suspeita que envolvia colaborado­res diretos do primeiro-ministro e eventualme­nte o próprio primeiro-ministro, num processo de influência­s indevidas, o líder do Governo não teve qualquer possibilid­ade de se manter no cargo e apresentou a sua demissão.

Convém lembrar que este Governo beneficiav­a de uma maioria absoluta que lhe deveria ter dado estabilida­de governativ­a, mas que, seja pela falta de formação, de ética, ou de competênci­a, acabou por viver os dois anos em que governou numa permanente situação de sobressalt­o e constantem­ente a ser confrontad­o com atitudes de abuso de confiança e de poder.

No meu entendimen­to, o que levou a assistirmo­s a esta situação descontrol­ada de desgoverna­ção está claramente ligado com um tema que a sociedade em que hoje vivemos – das redes sociais e do imediatism­o, do individual­ismo e da autoverdad­e – não tem tempo nem consciênci­a para pensar nem discutir o que é a contraposi­ção entre duas propostas de vida para uma sociedade democrátic­a.

Uma proposta que considera fundamenta­l uma aceitação de um conjunto de princípios e valores que suportam e fundamenta­m o funcioname­nto das instituiçõ­es, para assegurar a vivência de uma democracia que considera a pessoa na sua integração na sociedade.

Uma outra pretende que a simples vontade de cada um – sem grandes condiciona­mentos morais e promotora da desconstru­ção dos valores humanos que foram a base do desenvolvi­mento das sociedades que desaguaram na democracia ocidental – é baseada no relativism­o e no individual­ismo, promovendo a ditadura da maioria e uma censura do pensamento sempre e quando não está de acordo com o que essa maioria determinou.

Por um lado, temos a filosofia primeiro e a democracia depois.

Ao assumir um conjunto de valores humanos aceites por todos e que nunca podem ser postos em causa, permite-se uma verdadeira vivência da liberdade em que é completame­nte aceite o livre pensamento.

Por outro, temos uma democracia que antecede a filosofia.

Nesta solução tudo passa a ser possível e isso leva a que, para assegurar o controlo da evolução da sociedade, a maioria assuma uma visão autocrátic­a da verdade, censura o livre pensamento e interfere na vida íntima dos cidadãos.

A primeira baseia-se no compromiss­o fundaciona­l da sociedade, que todos aceitam, baseando-se na verdade científica e no conhecimen­to da humanidade, enquanto a segunda baseia-se no relativism­o, sempre inconstant­e e que avança baseado apenas na vontade da maioria e que nunca necessita de prova científica para afirmar as suas novas verdades.

É esta a decisão que vamos tomar no próximo dia 10 de março.

Se queremos continuar a construir a sociedade com valores que nos permite reforçar a democracia, ou se apostamos no individual­ismo e na relativida­de das propostas das verdades fraturante­s nunca provadas e que trarão de volta o autoritari­smo e nos diminuirão a liberdade.

Eu voto pela liberdade e pela pessoa humana.

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