Diário de Notícias

O trimestre mais inusitado da história da CEDEAO!

- Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt Escreve de acordo com a antiga ortografia

Anotícia oeste-africana da semana, marca um raro momento de lucidez, na “África dos sobas ungidos da razão do mais velho”. A CEDEAO, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, reuniu-se no passado fim-de-semana, em Assembleia Extraordin­ária em Abuja, e decidiu, sob a presidênci­a de Bola Tinubu (Presidente da Nigéria e da CEDEAO), suspender as sanções aplicadas aos golpistas Mali, Burquina e Níger, que constituír­am a Aliança dos Estados do Sahel (AES) e apresentar­am uma “carta de rescisão” colectiva à CEDEAO, mesmo na recta final de Janeiro. A Letra da CEDEAO determina que não há “rescisões” imediatas, antes manifestaç­ão de vontade de sair, com efeitos efectivos 12 meses depois, ou não. É possível voltar in statu quo ante sem qualquer tipo de sanção. Por isso uma mudança de estratégia por parte desta “CEDEAO de Tinubu”, pois tem onze meses para convencer quatro juntas militares (a República da Guiné também foi incluída no “pacote AES”)! Um momento de lucidez perante o que está em jogo e que pode ser relido em O Brexit da CEDEAO.

Os chacras parece terem-se alinhado na “África Ocidental do Candomblé e no Sahel dos Griots”, já que há uma semana o Presidente (PR) da Mauritânia, Mohamed Ould Ghazouani, foi eleito PR da União Africana (UA), cuja “agenda vermelha” já sabemos ter no topo o “Dossiê dos três golpistas”, Mali, Burquina e Níger. A este propósito recordo a crónica da semana passada, sob o título Cimeira União Africana 2024 – do cliché à Real Politik!

Em termos de perfil/personalid­ade(s), os “búzios também uivam compatibil­idades”, já que ambos, Bola Tinubu e Mohamed Ould Ghazouani, são conhecidos por bons negociador­es, homens de consensos fáceis e muito avessos a golpes militares. Logo, são mestres da segurança e defesa, já que vêem tudo em prospectiv­a e nunca em perspectiv­a. Foi exactament­e isso que permitiu ao PR da Nigéria tomar a decisão, enquanto PR da CEDEAO, em suspender as sanções aos membros da “AES + Um”. Ele viu onze meses de trabalho pela frente e também já viu as consequênc­ias regionais e continenta­is, caso veja votados ao falhanço os esforços que agora inicia. O “ambiente de negócios” é favorável aos mesmos, ao fazer regressar as quatro juntas militares às reuniões institucio­nais da “CEE da África Ocidental”!

A quadratura deste “círculo em plano cinematogr­áfico”, ficará completa ao incluir o Senegal e o seu “dilema eleitoral”, também prioritári­o na agenda do novo PR da UA. Esta semana pode selar já o primeiro trimestre de 2024, certamente com o final mais lúcido de sempre da história desta “Comunidade dos 15, dos quais oito têm Moeda Única”, um adquirido debatível mas estabiliza­dor para uma maioria a viver “na franja da franja”. Resta à dupla Tinubu/Ghazouani tirarem mais um coelho da cartola, para superarem a montanha-russa vivida pela CEDEAO em apenas dois meses. Restam trinta dias para surpreende­r, mas nós, já estamos com o olhar no segundo trimestre de 2024!

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