Problemas e soluções para o machismo
Amais vasta e a mais mal utilizada das reservas de inteligência dos Estados Unidos. É o que se lia no início de um artigo publicado no DN a 3 de março de 1974. A notícia dava nota a um relatório recém-divulgado, que expunha as dificuldades de acesso das mulheres ao mercado de trabalho qualificado e às universidades.
O texto abria o segundo caderno do jornal com o título “Uma comissão americana quer reabilitar a mulher para algumas profissões que lhe eram vedadas”. O relatório a que se referiam tinha 285 páginas e mostrava, entre outros dados “surpreendentes”, que as mulheres eram apenas 13% das pessoas com doutoramento no país.
O mesmo público também era menos de 1/4 do corpo docente das universidades americanas. Nas empresas, havia ainda o problema de que muitas não aceitavam a presença de profissionais mulheres. O Instituto de Tecnologia da Califórnia foi um dos que passaram a “aceitá-las”, mas as contratadas tiveram que esperar um ano para que o regulamento interno fosse alterado com a “permissão”.
O documento deixava claro que o problema não era exclusivo dos
Estados Unidos. “Como na Europa, o acesso das mulheres a profissões altamente especializadas depara-se ainda com obstáculos e reticências na grande nação americana, embora seja o país do progresso técnico”.
O vasto relatório não apontava só os problemas, mas também as soluções. Uma delas era “empurrar” as alunas para as disciplinas científicas no ensino primário e secundário. A outra solução passava por incentivar que as raparigas estudassem em escolas apenas para meninas. A ideia parece segregadora, mas tinha lógica, amparada num estudo realizado por psicólogos escolares. O motivo é que as raparigas sentiam-se menos “contestadas” pelos rapazes. Para a falta de mulheres na docência, a solução apresentada também tinha uma razão curiosa: que trabalhassem apenas meio período, para “permitir-lhes” ter uma “vida familiar normal”.
Por fim, outro trecho do documento era apresentado como um “esclarecimento para a derradeira dúvida”. Afinal, as mulheres são ou não capazes? “As mulheres têm capacidade intelectual absolutamente igual à dos homens”. Agora, 50 anos depois de 1974, há ainda quem queira dizer o contrário.