Lee Satterfield “Diplomacia é ter conversas difíceis, mas é também saber usar o poder suave para chegar às pessoas”
Convida a ver o chefe da Diplomacia, Antony Blinken, tocar blues (disponível no YouTube), prova de como as artes e a educação são encaradas como trunfos pela política externa americana. Lee Satterfield, subsecretária de Estado dos Assuntos Educacionais e
Vamos começar por falar de educação, e da força da educação nos Estados Unidos. Mesmo o rankingde Xangai, feito pelos chineses, coloca oito universidades americanas no top 10 mundial, com Harvard em primeiro lugar. Em termos de educação universitária, pode-se dizer que os Estados Unidos são claramente o número um no mundo?
O nosso sistema de educação é muitíssimo procurado em todo o mundo e temos muito orgulho em dizer que os Estados Unidos são o destino número um para a maioria dos estudantes, que querem ir para lá e estudar nas nossas universidades. São bem vindos e nós valorizamos o papel que os estudantes internacionais desempenham nas universidades americanas. Parte do meu trabalho no Gabinete de Educação e Cultura do Departamento de Estado é encorajar mais estudantes a virem estudar nos EUA. Nós queremos mais estudantes portugueses nas nossas universidades, com os nossos estudantes, queremos que façam parte da comunidade e, que muito mais do que a educação, formem relações dentro dessa comunidade no nosso país. Também queremos que mais americanos venham estudar para Portugal, essa é outra das nossas prioridades. Pensamos que os laços entre os nossos dois países serão mais fortes se criarmos mais oportunidades para os jovens se juntarem e serem eles a resolver os desafios globais. Isso, fora do sistema de governo a governo, que é aquilo que fazemos tradicionalmente no Departamento de Estado, mas usando o poder suave, a educação, a cultura, as artes, a música, o cinema… Tudo isso são oportunidades para unir as pessoas naquilo a que chamamos “diplomacia de pessoa a pessoa”.
Sei que antes da pandemia estávamos a atingir um número muito bom de alunos portugueses nos Estados Unidos e vice-versa e que esse número está agora a recuperar. É importante para os EUA não apenas receberem jovens estudantes, mas também enviarem os vossos jovens para o estrangeiro? Certamente. Nós acreditamos na abertura de oportunidades para os estudantes dos EUA. Queremos que mais americanos tenham uma perspetiva global e possam aprender uns com os outros numa outra cultura, numa outra comunidade. Por exemplo, o programa Fulbright é uma forma de partilhar o conhecimento, a ciência, a tecnologia americanos, principalmente com países amigos?
Sem dúvida. Na verdade, estive com um grupo de bolseiros nesta minha visita a Lisboa. Os estudantes que estão neste momento a estudar em Portugal vindos dos Estados Unidos são incríveis! Estive com um grupo de antigos alunos e a Comissão Fulbright. É certamente uma oportunidade de termos uma relação bilateral entre os EUA e Portugal. É um programa extremamente forte que vai aqui no seu 64.º ano.
O programa foi criado por um senador do Arkansas, William Fulbright, logo após a Segunda Guerra Mundial. Foi algo de novo nos EUA nessa altura ou faz parte de uma tradição? Bom, foi há mais de 75 anos e evolui ao longo dos anos. Agora, estamos a fazer mais por expandir as áreas temáticas. Por exemplo, falámos sobre expandir as oportunidades no campo das ciências. Um dos bolseiros, de Portugal, disse-me que precisamos de fazer mais em relação à ciência espacial. Sei que Portugal tem um programa forte de ciência espacial. A embaixadora [Randi Charno Levine] esteve a falar comigo sobre isso e disse que temos de encontrar mais meios para conjugar os programas Fulbright nesse campo, uma vez que estamos a tentar fortalecer os laços científicos. Eu penso que a grande história da Fulbright é a de continuar a evoluir, continuar a responder a certas questões cruciais do seu tempo. É um programa com mais de 75 anos, e às vezes as pessoas podem pensar que isso significa ser velho e bafiento, mas é precisamente o contrário. É um compromisso envolvente e evolutivo para as pessoas no campo académico que tratam das questões mais desafiantes. Quando me encontrei com este grupo de indivíduos, depois de uma agenda tão preenchida, só me acalmei e refleti quando vi este grupo de estudantes portugueses e americanos reunidos a falarem dos seus projetos específicos e do impacto que este programa tinha. Não apenas o impacto que tinha neles pessoalmente, e o que estava a fazer por eles e pelas carreiras, mas também pelo que eles faziam nas suas comunidades e pelo interesse que demonstravam por elas. É um programa fantástico. Tenho muito orgulho nele. Estamos a falar muito de educação, mas assistiu ao Festival L’USAfonia, que mostrou a força da música, outro exemplo de poder suave americano – tal como o cinema. Qual a importância para a imagem dos EUA desta exibição das artes?
É muito importante. Esta administração, o presidente [ Joe] Biden e o Secretário [Antony] Blinken, têm usado o poder suave e a ideia de aproximar as pessoas através da cultura, mostrando as coisas que partilhamos todos e fazendo disso uma prioridade desta administração. Na verdade, em setembro, o Secretário Blinken lançou a Iniciativa Global de Diplomacia Musical e instituímos uma tutoria para aqueles que na indústria musical (não apenas os criadores de canções e letristas) querem fazer parte do mundo da música e que vão ter uma tutoria sediada na American Recording Academy dirigida a pessoas de todo o mundo que queiram aprender mais sobre a área criativa e económica da música. Portanto, o que estamos a tentar fazer é fundir o conjunto único de competências americano com a sua cultura, seja Hollywood no cinema, a American Recording Academy na música, e impulsionar as pessoas e ligá-lo à indústria e à economia criativa. É uma iniciativa que tem várias ramificações e uma é unir as pessoas pelo poder da música, pois não há nada mais poderoso que a música, o cinema, a arte. A cultura une-nos.