É certo que, na última década e meia, a Super Terça-Feira tem vindo a perder alguma força, devido às alterações nos calendários dos partidos.”
Se tal acontecer, fica muito difícil para Nikki manter a narrativa da continuidade em jogo. Mas, na verdade, se o fizer não será caso inédito. Isso aconteceu, por exemplo, com Ted Cruz e, sobretudo, John Kasich nas primárias republicanas de 2016 ( Trump já tinha a nomeação mais que assegurada e ambos prosseguiram quase até ao fim); John McCain em 2000, depois de já ser claro que tinha perdido para GeorgeW. Bush – e, curiosamente, oito anos depois McCain viria mesmo a obter a nomeação, o que dará em parte razão à tese de Nikki de que valerá a pena continuar.
Outros casos de quem se recusou a desistir, mesmo sabendo que já tinha perdido: Howard Dean nas primárias democratas de 2004 (Kerry já tinha os delegados), John Edwards em 2008 (quando todos já só olhavam para o histórico duelo Obama vs Hillary), Newt Gingrich e Rick Santorum em 2012 (com Mitt Romney já mais do que nomeado).
E, claro, houve também o caso admirável de Bernie Sanders, nas primárias democratas de 2016, que partiu de uma posição idêntica à de Nikki em 2024 (com muito poucos pontos percentuais, apenas um dígito) e atingiu 45% do campo democrata, perante a superfavorita Hillary Clinton (que havia arrancado como uma espécie de vencedora antecipada e chegou à Convenção Democrata com uns apertados 55% de votos, mas percentagem bem maior de delegados, graças aos notáveis do partido).
Nikki precisava de fazer um caminho idêntico – mas é quase certo que não chegará aos 45% de Sanders em 2016. O desafio que está a fazer ao favorito dominador é, mesmo assim, comparável, embora as lógicas de “tribo” de republicanos em 2024 e democratas em 2016 sejam completamente distintas.