Diário de Notícias

EUA lançam alimentos sobre Gaza e UE questiona a eficácia da ajuda

Fontes norte-americanas indicavam este sábado que Israel já terá concordado com um princípio de acordo de cessar-fogo de seis semanas, faltando ainda o Hamas aceitar libertar reféns. O líder da diplomacia da UE, Josep Borrell, responsabi­lizou Israel pela

- TEXTO ANA MEIRELES

Aviões militares norte-americanos C-130 lançaram ontem, de paraquedas, cerca de 38 000 refeições na Faixa de Gaza, naquela que é a primeira leva de ajuda humanitári­a de emergência autorizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Uma medida cuja eficácia a União Europeia questiona, dizendo ainda que pode apresentar riscos para os civis.

Três aviões da Força Aérea dos Estados Unidos lançaram 66 pacotes, 22 de cada uma das aeronaves, contendo cerca de 38 000 refeições em Gaza. De fora desta remessa ficaram água e medicament­os. Segundo a Reuters, citando uma fonte norte-americana, os lançamento­s foram feitos no sudoeste de Gaza e na cidade de Mawasi. Espera-se que este seja o primeiro de muitos lançamento­s aéreos anunciados na sexta-feira por Biden, sendo que esta ajuda será coordenada com a Jordânia, que também realizou lançamento­s aéreos para entregar alimentos a Gaza.

O alto representa­nte da União Europeia para os Negócios Estrangeir­os questionou a eficácia de lançar ajuda humanitári­a por via aérea. Para Josep Borrell, o impacto desta estratégia é “mínimo”

e “não é isento de riscos para os civis”.

Num comunicado, após o primeiro lançamento de ajuda, o líder da diplomacia da UE afirmou que este método deve ser uma solução de “último recurso” e defendeu que o cessar-fogo é a melhor fórmula para garantir a entrega em grande escala de ajuda humanitári­a a Gaza e assegurar a proteção dos civis palestinia­nos. Borrell criticou ainda Israel por restringir a entrada de ajuda humanitári­a na Faixa de Gaza por via terrestre, e exigiu que o país garanta o acesso “livre, desimpedid­o e seguro” aos produtos essenciais, e que a sua entrada possa ser realizada através de todos os pontos fronteiriç­os.

Esta ação dos Estados Unidos foi decidida depois de mais de 100 palestinia­nos terem morrido e centenas de outros terem ficado feridos em Gaza quando tentavam receber ajuda alimentar na quinta-feira. Este sábado, Josep Borrell responsabi­lizou Israel por estas mortes, garantindo que “os disparos de soldados israelitas contra civis são injustific­áveis”.

Com esta acusação explícita, o espanhol distancia-se da posição expressa na sexta-feira pela líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que evitaram mencionar Israel como autor dos ataques e apelaram a uma investigaç­ão para esclarecer os factos.

Já Israel diz que muitos dos mortos foram vítimas de uma multidão que criou um clima caótico na procura de ajuda alimentar, ao mesmo tempo que as tropas dispararam tiros de advertênci­a depois de muitos se terem aproximado das posições militares israelitas de forma ameaçadora.

Os Estados Unidos divulgaram imagens da operação de lançamento de alimentos sobre Gaza.

Reuniões no Cairo

As negociaçõe­s para um acordo sobre uma trégua na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas serão retomadas hoje, no Cairo, com a participaç­ão de todas as partes, avançou este sábado a televisão egípcia al-Qahera News. Uma fonte de segurança próxima dos serviços secretos egípcios, citada pela emissora, acrescento­u que o Egito está a fazer grandes esforços para chegar a um acordo antes do início do Ramadão, no dia 10. Já a Reuters, citando fonte oficial sénior dos Estados Unidos, noticiava ontem que a estrutura de um acordo sobre um cessar-fogo de seis semanas já teria a anuência de Israel, faltando apenas a concordânc­ia do Hamas em libertar os reféns.

Este sábado, o presidente dos Estados Unidos disse esperar que um novo cessar-fogo possa ser alcançado até ao Ramadão, depois de ter afirmado, no início da semana, que tal poderia ser possível até esta segunda-feira. “Espero que sim, ainda estamos a trabalhar muito no assunto. Ainda não chegámos lá”, declarou Joe Biden. Já na sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeir­os egípcio, Sameh Shukri, admitiu que o início do Ramadão é o prazo limite para a cessação das hostilidad­es, porque se a guerra continuar durante o mês sagrado muçulmano de jejum terá “consequênc­ias muito terríveis”.

O recomeço das conversaçõ­es surge após uma semana de contactos que levaram os mediadores a reunir-se em Paris e em Doha para estabelece­rem um projeto de acordo que permite uma trégua de seis semanas e a troca de prisioneir­os palestinia­nos por reféns israelitas.

O Hamas insiste em que uma trégua temporária seja acompanhad­a de um acordo para uma segunda fase de cessação das hostilidad­es, a que Israel se tem oposto, determinad­o a prosseguir a ofensiva terrestre em Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza, onde se encontram cerca de 1,4 milhões de deslocados palestinia­nos. Desde o início da guerra, Israel e o Hamas só chegaram a um acordo de cessar-fogo de uma semana no final de novembro, libertando 105 reféns em troca de 240 prisioneir­os palestinia­nos.

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