Diário de Notícias

“Ninguém quer uma guerra entre NATO e Rússia”

Olaf Scholz anunciou investigaç­ão à divulgação pela televisão russa de uma conversa entre oficiais do exército alemão.

- TEXTO ANA MEIRELES

Ochanceler alemão afirmou ontem que a União Europeia não vai enviar militares para a Ucrânia, uma hipótese levantada pelo presidente francês Emmanuel Macron, e que ninguém quer uma guerra entre a NATO e a Rússia. “Na reunião de segunda-feira, em Paris, deixámos bem claro: a NATO, ou qualquer um dos nossos países, não participar­á nesta guerra. Não vamos enviar soldados europeus para a Ucrânia, não queremos uma guerra entre a NATO e a Rússia”, garantiu Olaf Scholz, no encerramen­to do congresso do Partido Socialista Europeu, em Roma, acrescenta­ndo que é necessário “fazer de tudo para evitar” uma guerra entre os dois blocos.

No entanto, Olaf Scholz considerou que a paz hoje só é possível se a Rússia retirar as suas tropas do território ucraniano ocupado, uma possibilid­ade que considera praticamen­te impossível enquanto Vladimir Putin achar que “consegue ganhar alguma coisa” no campo de batalha. Por isso, continuou o chanceler alemão, é preciso assegurar que “a Ucrânia não fique sem dinheiro, sem armamento e munições” para continuar a tentar repelir a invasão russa.

De Paris veio ontem a garantia do chefe da diplomacia francesa de que não existe qualquer fratura entre a França e a Alemanha, apesar das divergênci­as evidentes entre Macron e Scholz sobre a Ucrânia. “Não há qualquer conflito franco-alemão, estamos de acordo em 80% das questões”, garantiu Stéphane Séjourné ao Le Monde.

Na conferênci­a de apoio a Kiev, organizada segunda-feira por Paris, o chefe de Estado francês pareceu apontar implicitam­ente a mira a países como a Alemanha, que durante muito tempo hesitou em entregar certas armas pesadas a Kiev. “Falei com a minha homóloga alemã, Annalena Baerbock, e vamos encontrar-nos na próxima terça-feira, em Paris. Há vontade de dialogar. Não há qualquer drama, uma vez que temos o mesmo objetivo de apoiar a Ucrânia”, continuou Séjourné.

Fuga de informação

Olaf Scholz anunciou ontem também que a Alemanha está a investigar uma fuga de informação de oficiais do exército que discutiram assuntos confidenci­ais relacionad­os com a guerra na Ucrânia. “Trata-se de um assunto muito sério e é por isso que está a ser investigad­o com muito cuidado, muito minuciosam­ente e muito rapidament­e”, afirmou Scholz durante uma visita a Roma.

O anúncio de Scholz surgiu depois de um porta-voz do exército alemão ter indicado que as Forças Armadas germânicas estão a investigar uma suposta escuta de uma conversa entre vários oficiais de alta patente da Força Aérea, tornada pública sexta-feira pela imprensa russa, temendo-se que este possa não ser caso único. Segundo o Der Spiegel, o governo está alarmado com a possibilid­ade de a conversa gravada ser real e de ter havido outras escutas de conversas internas nas forças armadas.

A emissora estatal russa RT publicou na sexta-feira uma gravação áudio de 30 minutos em que o chefe da força aérea alemã, Ingo Gerhartz, é alegadamen­te ouvido a falar com vários oficiais de alta patente sobre a possibilid­ade de fornecer mísseis Taurus à Ucrânia. Os interlocut­ores discutem, entre outras coisas, as opções técnicas para destruir a ponte de Kerch, que liga a península da Crimeia ao continente, ou os depósitos de armas russos com este armamento, embora reconheçam que não há ‘luz verde’ para o fornecer.

A publicação da conversa surge num momento sensível para o governo de Scholz, que esta semana causou controvérs­ia ao afirmar que Berlim não pode entregar o Taurus à Ucrânia, sob o risco de se tornar um participan­te direto no conflito.

 ?? ?? O chanceler alemão recusou a ideia de enviar soldados para Kiev.
O chanceler alemão recusou a ideia de enviar soldados para Kiev.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal