Ventura pegou no volante e fez ligação direta entre imigração e crime ao som de Gipsy Kings
Almoço-comício que juntou 350 apoiantes num dos distritos onde o Chega espera ser o partido mais votado no próximo domingo serviu a André Ventura para recuperar temas como a prisão perpétua e a deportação de criminosos.
Terminado o almoço-comício no Centro Nacional de Exposições (CNEMA), em Santarém, após a maioria dos 350 presentes tirarem fotografias consigo, aguardando na “fila ordenada” que dava voltas entre as mesas do espaço que recebeu a passagem da campanha pela “verdadeira capital do Chega”, André Ventura partiu ontem à tarde para Portalegre com a ideia de que está nas mãos dos eleitores promover neste domingo “a maior mudança desde o 25 de Abril de 1974”.
Para tal mudança, defendeu o presidente do Chega, contribuirá o resultado eleitoral do seu partido, que previu vir a ser o mais votado em Santarém, Portalegre, Beja e Faro. “Os outros tiveram 50 anos e o país está como está. Estou a pedir-vos uma oportunidade”, apelou, entusiasmando quem “à hora de almoço de um dia de semana”, como foi realçado várias vezes, encheu a sala de refeições para ouvir o líder que diz estar em condições de mudar Portugal.
Embalado por sondagens que oscilam entre a duplicação e a triplicação dos 7,18% de 2022, Ventura chegou a Santarém sorridente, no arranque de uma última semana de campanha eleitoral a sul do Tejo, em distritos onde conta eleger tantos deputados quanto a dúzia que constitui o atual grupo parlamentar. Recebido pelo cabeça de lista, Pedro Frazão, pegou no volante da velha carrinha Bedford que transporta a sua propaganda eleitoral, e conduziu o veículo vermelho dezenas de metros, em marcha lenta, fazendo um círculo para voltar ao local de partida “sem atropelar jornalistas”. No final do exercício de condução de pesados, para o qual disse estar habilitado, só se queixou da direção. “Mas o país também está perro e vamos conseguir pô-lo a andar”, acrescentou.
Dentro do recinto, onde entrou com a sala cheia de apoiantes vindos de todo o Ribatejo, ouviu Jay C, o cantor que anima a campanha do Chega, interpretar Stand by Me antes de passar para o mais apropriada, em terra de tauromaquia, El Toro (Enamorado de la Luna), um êxito dos Gipsy Kings. Ainda mais empolgada ficou a sala com A Cabritinha, de Quim Barreiros, ao ponto de o próprio AndréVentura dar uns passos de dança com a vice-presidente do partido, Marta Silva, com o deputado Rui Paulo Sousa a juntar-se ao baile.
Na hora dos discursos, o presidente da distrital de Santarém, José Dotti – que começou por pedir para não levarem as bandeiras do Chega, “pois o orçamento é curto –, apontou a meta de passar de um para três deputados, ainda que “devamos ser cautelosos, pois a única sondagem válida é o voto”. E Pedro Frazão, a quem em 2022 “deu quase tanto gozo quanto ter sido eleito” contribuir para o PCP e o Bloco de Esquerda ficarem de fora, elevou a fasquia, dizendo que “é possível” quatro, apesar de o círculo só eleger nove. E de estar a perder população, o que o atual deputado diz estar relacionado com a vontade de “substituir a nossa população pela entrada massiva de imigrantes”.
Aquecido o auditório, Ventura optou pela segurança quando todos esperavam agricultura, sobretudo após Frazão dividir críticas entre a “incompetente” e “mentirosa” ministra Maria do Céu Antunes, e o cabeça de lista da Aliança Democrática em Santarém, Eduardo Oliveira e Sousa, por este se juntar a um PSD “que aceita a subjugação dos interesses agrícolas aos histerismos ambientalistas”.
Depois de a caravana eleitoral do PS ter sido vítima de carteiristas em Guimarães, o líder do Chega comentou que “é irónico que os que andam a assaltar o país há anos sejam eles próprios assaltados”. E desse episódio partiu para o caso de um imigrante a quem o Supremo Tribunal de Justiça revogou a ordem de expulsão após cumprir pena por violação, tendo apontado como solução penas muito mais duras. “Não descansarei até criminosos deste tipo ficarem na cadeia a vida toda”, disse Ventura, defendendo a reintrodução da prisão perpétua, à qual acrescentou a deportação de criminosos “que nunca lá porão os pés neste país”.