“Motivos razoáveis” para crer que houve violações no ataque do Hamas
Relatório da ONU fala em “provas claras e convincentes” de agressões sexuais a reféns. Israel critica “tentativa de silenciar” investigação. Kamala Harris pede cessar-fogo imediato. “Estamos numa janela temporal onde podemos conseguir um acordo para a lib
Um relatório das Nações Unidas concluiu que há “motivos razoáveis” para acreditar que houve violência sexual, incluindo violações em grupo, em pelo menos três locais durante o ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro. Israel denuncia “tentativa de silenciar” as conclusões por parte da organização.
A investigação, liderada pela representante especial do secretário-geral para a Violência Sexual em Cenários de Conflito, Pramila Patten, refere que as vítimas foram mortas na maioria dos incidentes, havendo o relato de, pelo menos, duas violações de cadáveres. Há também “provas claras e convincentes” de agressões sexuais a reféns. O mesmo relatório dá conta ainda de violência sexual contra palestinianos, da parte das forças de segurança e colonos israelitas.
O Governo israelita chamou, entretanto, para consultas o seu embaixador na ONU, Gilard Erdan, depois do que considerou uma “tentativa de silenciar”, por parte da organização, o“grave relatório sobre violações em massa” cometidas pelo Hamas durante os ataques – durante os quais cerca de 1200 pessoas morreram e 240 foram raptadas. Em causa o facto de o secretário-geral da ONU, António Guterres, não ter convocado de imediato o Conselho de Segurança, face a estas conclusões.
Cessar-fogo imediato
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, juntou-se ontem aos apelos feitos na véspera pela vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, que pediu um “cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza. A número dois da Administração de Joe Biden tinha previsto reunir ontem com um dos elementos do Gabinete de Guerra israelita, Benny Gantz, defendendo que “estamos numa janela temporal onde podemos conseguir um acordo para a libertação dos reféns” e lembrando que “todos queremos que este conflito acabe o mais rapidamente possível”.
“Junto-me ao apelo da vice-presidente Kamala Harris para um cessar-fogo imediato em Gaza. Não deverá haver nenhum obstáculo para uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas nesse sentido”, escreveu Borrell numa mensagem no X (antigo Twitter). “A vice-presidente disse, com razão, que demasiadas pessoas foram mortas e instou Israel a permitir um acesso humanitário sem entraves. Está na hora de o Conselho de Segurança agir”, insistiu.
Os EUA já travaram, com o seu direito de veto, três resoluções do Conselho de Segurança a pedir um cessar-fogo em Gaza. A Assembleia-Geral da ONU estava ontem reunida a discutir, entre outros temas, o último veto norte-americano, a 20 de fevereiro. Washington argumentou que a proposta apoiada pelos países árabes poderia interferir nas negociações em prol de um acordo pela libertação de todos os reféns detidos pelo movimento islamita palestiniano Hamas.
As negociações para um cessar-fogo foram ontem retomadas no Cairo, apesar da decisão dos israelitas de não estarem presentes. Telavive
Destruição no campo de refugiados de Nur Shams, na Cisjordânia ocupada, após um raide israelita.
exige que o grupo terrorista palestiniano dê uma lista dos reféns que ainda estão vivos, com o Hamas a dizer que não o pode fazer porque não sabe – pedindo um cessar-fogo para poder contactar os grupos que estão com os reféns por toda a Faixa de Gaza e proceder ao levantamento. Segundo o Hamas, pelo menos 70 dos ainda cerca de 120 reféns já terão morrido nos ataques israelitas.
Maior operação em Ramallah
À margem da situação em Gaza, onde continuam os bombardeamentos, a violência tem também aumentado na Cisjordânia ocupada, com as forças israelitas a realizarem na noite de domingo para segunda-feira a maior operação em vários anos em Ramallah, segundo os palestinianos. Pelo menos um jovem de 16 anos morreu, tendo sido detidas duas pessoas procuradas e apreendido “material de incitação espalhado pelo Hamas”.
Israel disse ter rebentado um motim durante uma operação antiterrorista. Pedras e cocktails molotov foram atirados contra os soldados israelitas, que responderam com tiros. O adolescente que morreu foi atingido no pescoço e no peito, de acordo com a agência de notícias palestiniana WAFA.
Segundo as autoridades israelitas, foram detidas 13 pessoas em operações em toda a Cisjordânia. Desde o início da guerra em Gaza, pelo menos 3400 pessoas foram presas na região, incluindo alegadamente 1500 com ligações ao Hamas, referiu o Jerusalem Post. Contas diferentes tem a Sociedade de Prisioneiros Palestinianos, que diz que foram detidas 55 pessoas numa só noite, com cerca de 7400 detidos desde o início da guerra.
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, chegou ontem à Turquia, onde tem previsto hoje um encontro com o presidente Recep Tayyip Erdogan. “A Turquia tem fornecido extensa ajuda humanitária a Gaza em coordenação com o Egito desde o início dos ataques de Israel... Neste âmbito, as operações de ajuda humanitária também serão discutidas durante as reuniões”, disse uma fonte diplomática à Reuters.