Diário de Notícias

Opções de Schmidt e falta de agressivid­ade foram pecados capitais do Benfica no Dragão

- TEXTO ANDRÉ CRUZ MARTINS dnot@dn.pt

A goleada sofrida frente ao FC Porto acentua a contestaçã­o ao treinador alemão. Álvaro Magalhães não compreende algumas das decisões que têm sido tomadas, enquanto Zoran Filipovic avisa que para se jogar no Benfica não basta ter qualidade. Apesar do momento difícil, os dois antigos futebolist­as encarnados ainda acreditam no título.

Agoleada de 5-0 sofrida no Estádio do Dragão frente ao FC Porto acentuaram as críticas ao treinador do Benfica. As opções táticas de Roger Schmidt são cada vez mais questionáv­eis e algumas debilidade­s ficaram bem visíveis nos dois últimos jogos, com o Sporting para a Taça de Portugal (derrota 1-2) e, agora, no clássico para a I Liga, que terminou em desastre. Neste momento, há já quem peça a cabeça do treinador alemão, que em março de 2023 renovou contrato até final de julho de 2026.

Álvaro Magalhães, histórico jogador dos encarnados, está convencido de que “se o Benfica não for campeão, Roger Schmidt estará mais fora do que dentro do clube”, acrescenta­ndo que, “como sempre acontece, os resultados é que mandam”. E nesse contexto recorda que no clube “até já houve casos de treinadore­s que foram campeões e não continuara­m na época seguinte”. Mais comedido é Zoran Filipovic, antigo avançado das águias, pois considera que “a decisão da continuida­de ou não do treinador terá de ser tomada por Rui Costa no final da temporada”.

Álvaro Magalhães admitiu ao DN que “os jogadores nunca se encontrara­m” no clássico do Dragão, no qual “o FC Porto foi muito forte”, razão pela qual “fez uma grande exibição e mereceu a vitória”. Por sua vez, Filipovic critica a forma apática como os encarnados abordaram a partida, sublinhand­o que “os jogadores do FC Porto entraram muito mais agressivos, uma qualidade que é necessária nestes grandes jogos” – afinal, “para se jogar com a camisola do Benfica não basta apenas ser bom jogador, mas sim mostrar agressivid­ade e motivação”.

Por outro lado, Álvaro Magalhães, antigo defesa-esquerdo que foi adjunto de Giovanni Trapattoni em 2004/05, assumiu não entender a forma como Roger Schmidt tem gerido os futebolist­as, sobretudo no lado esquerdo da defesa. “Não tenho dúvidas de que Carreras seria melhor opção que Morato – aliás, viu-se isso no Dragão, em que foi lançado ao intervalo

A goleada sofrida no Dragão fez aumentar as críticas às opções tomadas por Roger Schmidt. – e a verdade é que num contexto muito difícil, com a equipa a perder por 0-2, entrou bem e teve algumas boas iniciativa­s”, explica, defendendo que o jovem espanhol seja “opção inicial durante uma meia dúzia de partidas, pois os jogadores só podem mostrar a sua qualidade se forem aposta firme”.

Outro tema que gera perplexida­de a Álvaro Magalhães é a forma como têm sido geridos os pontas-de-lança. “Arthur Cabral chegou pesado e teve muitas dificuldad­es no início da época e eu fui um dos que o critiquei, mas a verdade é que ele continuou a ser aposta, mesmo quando jogava mal, e com isso ganhou confiança e começou a marcar alguns golos. Precisamen­te na altura em que estava no seu melhor momento, muito moralizado, deixou de ser opção. Não se compreende”, lamenta.

Zoran Filipovic, que também foi treinador-adjunto do Benfica ao lado de Artur Jorge, compreende que “por vezes, consoante o adversário, Roger Schmidt opte por um ataque móvel, sem avançado fixo”, mas entende que “Rafa, um jogador muito importante na equipa, deve jogar atrás de um ponta-de-lança, para aparecer mais de trás, como aconteceu no Dragão, só que desta vez as coisas não resultaram”.

“Nada está perdido”

Alguns minutos depois da hecatombe no Dragão, Rui Costa apareceu a pedir desculpa aos adeptos, algo que não mereceu a concordânc­ia de Álvaro Magalhães. “Nestes momentos é sempre muito difícil para um presidente saber o que dizer, mas por vezes o melhor é falar o menos possível”, argumentou.

Apesar de o Sporting estar agora na liderança da I Liga, com um ponto de avanço sobre o Benfica (e ainda com o jogo em atraso com o Famalicão), Álvaro continua a acreditar que o Benfica pode voltar a ser campeão, até porque, garante, “este será um campeonato disputado até final”.

“É verdade que o Sporting é um pouco mais favorito, pois está em primeiro lugar, com alguma vantagem, mas continuo a acreditar que o Benfica pode chegar ao título. E o próprio FC Porto não está totalmente afastado, tendo ganho fôlego para lutar pelo segundo lugar”, realça, deixando um alerta: “Muitas vezes, existem equipas que começam muito bem e fazem primeiras voltas fabulosas, mas a verdadeira decisão só acontece na segunda volta, quando as coisas ficam ainda mais difíceis, nomeadamen­te frente a equipas que precisam urgentemen­te de pontos e que conseguem dificultar muito a vida aos grandes, como se viu no Sporting-Farense.”

Filipovic também pensa que nada está perdido para o clube da Luz, embora admita que “o Sporting está a jogar bem”. De qualquer forma, realça que “ainda faltam muitas jornadas e tudo poderá acontecer”.

Elogios a João Neves

Quem está nas boas graças dos benfiquist­as e destas duas figuras do clube em particular, é o médio João Neves. Álvaro Magalhães diz que se trata de “um miúdo que dá tudo em campo, sempre com sangue, suor e lágrimas e, depois da derrota no Dragão, foi ele a dar a cara, pois não tem medo e não foge, mesmo atravessan­do um momento muito complicado, devido à morte da mãe”.

Zoran Filipovic também tece rasgados elogios a João Neves, que qualifica como “um miúdo incrível, grande jogador e que, para além disso, adora o Benfica e sente muito o clube”.

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