Diário de Notícias

Marcelo dá lição sobre como não voltar à ditadura

Presidente participou ontem em cerimónia evocatória dos 50 anos da Reunião de Cascais dos capitães que fizeram Abril. “Chefe do Estado considera que a solução para se evitar uma ditadura é incorporar todos na democracia, mesmo os que nela não acreditam”.

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

O “Portugal de Abril ficou para sempre diferente do Portugal que o antecedeu: não há reversão possível, não há reversão quando se conhece a liberdade, e se usa a liberdade. Não há reversão quando se tem a liberdade de exprimir o pensamento. Ninguém quer uma mordaça em relação a liberdades adquiridas.”

Esta certeza foi ontem afirmada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, numa sessão no Centro de Congressos do Estoril, onde se evocaram os 50 anos da chamada Reunião de Cascais dos militares que depois protagoniz­ariam o 25 de Abril.

Nessa reunião, realizada em 5 de março de 1974 no 1º andar do n.º 45 da Rua Visconde Luz, em Cascais, no ateliê do arquiteto Braula Rei, foi aprovado pela maioria dos presentes o documento O Movimento, as Forças Armadas e a Nação, primeiro projeto político dos capitães, e assumida como irreversív­el a opção pelo golpe de Estado. Juntando cerca de 200 oficiais, ficou patente a intenção do movimento de democratiz­ar o país e de acabar com a guerra e deu-se a passagem do Movimento dos Capitães a Movimento das Força Armadas (MFA), tendo os capitães decidido delegar em Melo Antunes a responsabi­lidade de presidir e coordenar a comissão de elaboração do Programa.

Embora nunca falando nas eleições do próximo domingo, Marcelo veladament­e acabou por lhe fazer referência, parecendo referir-se ao cresciment­o da extrema-direita.

O Presidente defendeu que a principal panaceia para se evitar que o regime volte a ser uma ditadura é incluir na democracia mesmo aqueles que se lhe opõem. Marcelo enalteceu a “generosida­de da democracia”, referindo que “nela cabem os antilibera­is, os antidemocr­atas e os anti-igualitári­os” – e isto “para não correr o risco de passar a ser uma ditadura”.

Para o PR, também “não há ninguém que ouse dizer que se deve ser mais desigual do que igual, mesmo quando aquilo que propõe fomenta objetivame­nte mais desigualda­de do que igualdade, ou porque tem de ser, ou porque faz parte da maneira de pensar”.

Dizendo que “enquanto houver milhões de democratas livres e igualitári­os no nosso país, haverá sempre Abril”, acrescento­u: “Abril sempre quer dizer: lembrem-se sempre dos ideais que conduziram o 25 de Abril de 1974. (...) Mesmo que seja difícil realizá-los, mesmo que para muitos se fique aquém desses ideais, mesmo que pareça até, de vez em quando, que há quem queira mesmo negar os ideais, substituir os ideais, questionar os ideais.”

Presente na sessão, o presidente da Associação 25 de Abril e também capitão de Abril, Vasco Lourenço, destacou a importânci­a de “fundamenta­l de utilizar a liberdade conquistad­a em Abril para definir o futuro”.

Carlos Carreiras (PSD), presidente da Câmara Municipal de Cascais, referiu que “todas as alternativ­as à democracia são prejudicia­is”. Mas é um regime – acrescento­u – que “requer constante aperfeiçoa­mento” e um “bem comum de todos os cidadãos”.

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Presidente discursand­o ontem em mais uma evocação dos 50 anos de Abril.

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