Diário de Notícias

“As mulheres têm muita força”, vai ouvindo Mariana Mortágua pelas ruas

A coordenado­ra do BE começou o dia em Lisboa a defender a importânci­a de dar mais direitos aos imigrantes e seguiu para uma arruada na Morais Soares, onde ouviu uma idosa enervar-se quando falou da direita.

- TEXTO MARGARIDA DAVIM FOTOS REINALDO RODRIGUES / GLOBAL IMAGENS

Adília tem 92 anos e está à espera de Mariana Mortágua, com a filha e a neta, à porta do estabeleci­mento onde as duas trabalham, na Rua Morais Soares, em Lisboa. Abraça Mariana e repete: “As mulheres têm muita força”. A candidata retribui o carinho. “É votar para ganhar”, responde-lhe. “Eu gostava, eu gostava. É para mandar fora a direita”, diz Adília, que se enerva e ruboriza ao falar no que passou noutros tempos. “Sofri muito com a direita”, grita, alterada. “Calma, avó, calma”, grita-lhe a neta, antes de explicar a Mortágua que uns dias antes “o seu colega do PSD quis entrar aqui na loja” e não o deixou.

A arruada entre a Paiva Couceiro e a Praça do Chile vai quase no fim. No percurso, quase só mulheres, muitas delas mais velhas, aproximara­m-se para desejar sorte a Mariana Mortágua. “As mulheres são muito fortes”, foi ouvindo, sempre com um sorriso, na maior parte das vezes com um abraço. Com Catarina Martins ao lado e a irmã, Joana Mortágua, mais atrás, no meio de um grupo ruidoso de militantes, que levaram bandeiras e bombos para animar um desfile que aconteceu quase todo num passeio estreito, sem muito espaço para outros contactos que não com as pessoas que estavam à porta das lojas e com quem Mariana Mortágua nem sempre conseguia falar à vontade, tal era o aparato de jornalista­s e câmaras de televisão que a rodeava.

Pela primeira vez, a campanha bloquista (à semelhança do que se está a passar noutras) é acompanhad­a por duas equipas de cada canal televisivo. Isso significa que, em muitos casos, há dez câmaras à volta de uma bolha que se desloca pelas ruas, tornando difícil o contacto com as pessoas que passam na rua e não fazem parte da comitiva de campanha. “É muito difícil sequer chegar perto”, queixa-se um jornalista que, a custo, passa o gravador por entre operadores de câmara, microfones e fotógrafos, para tentar apanhar as declaraçõe­s do dia.

Mariana Mortágua volta a falar sobre a importânci­a de devolver aos professore­s do tempo de serviço. O BE defende que todo o tempo

São sobretudo mulheres, muitas mais velhas, que se aproximam de Mariana Mortágua. acordo à esquerda por mais salário, habitação, Educação e Saúde”.

O dia começou no espaço apertado da associação Solidaried­ade Imigrante.

congelado durante o tempo da troika seja pago num só ano. E ataca a ideia do voto útil, defendendo o “voto por convicção”. Já o tinha feito no dia anterior, voltará segurament­e a fazê-lo nos dias que restam até ao domingo. “O PS vai apertar no discurso do voto útil”, comenta ao DN um dirigente bloquista. O BE reage lembrando as

crises que a maioria absoluta socialista deixou na habitação, na Saúde e na Educação.

Os folhetos que são distribuíd­os dizem que “o PS não tem soluções”, recordam que “a direita esteve junta no Governo de Passos Coelho e Paulo Portas, agora quer juntar-se de novo”. A solução, lê-se, está num “caminho de mudança assente num

“Se o senhorio não tem juízo”

“Se o senhorio não tem juízo, se pagas mais do que é preciso, vota na Mortágua, vota na Mortágua. É pra votar, é pra votar, se isto está a custar”, cantam os militantes bloquistas, roubando a melodia a O Corpo É Que Paga, de AntónioVar­iações. Mortágua sorri. O cântico é novo e junta-se a outras palavras de ordem “anticapita­lista” e “contra a exploração”.

Na caravana vai Anabela Rodrigues, a número quatro da lista por Lisboa (um lugar dificilmen­te elegível), que é filha de imigrantes, negra e ativista pela imigração. De manhã foi ela que traduziu para inglês as palavras que Mariana Mortágua disse aos que esperavam para ser atendidos no centro da associação Solidaried­ade Imigrante. Eram pouco mais de uma dúzia, todos com histórias difíceis de muito trabalho e demasiada burocracia para conseguire­m autorizaçõ­es de residência.

“Muitos e muitas dos que vimos aqui não vão poder votar”, diz Belinha,

como também é conhecida a ativista, explicando que esse direito muitas vezes não está ao alcance mesmo de quem já cá nasceu.

“Conheço uma rapariga que vai votar agora pela primeira vez aos 26 anos e nasceu em Portugal”, conta ao DN, explicando que as mudanças que já foram feitas na lei ainda não resolveram tudo.

À saída, Mortágua fala às câmaras, para atacar discursos como o de Passos Coelho que associa imigração a inseguranç­a. “Estas pessoas contribuem para a Segurança Social com 1600 milhões líquidos. Por cada um euro que recebem pagam sete”, frisa, apontando o dedo à direita que “quer mais imigrantes clandestin­os, mais imigrantes precários”.

Só recusa falar do Chega. As únicas palavras que lhe arrancam sobre o partido de André Ventura são para apontar o dedo às falhas na lista de financiado­res. “A luta contra a corrupção exige que todos os partidos tenham regras claras”, vinca. E promete repeti-lo todos os dias até ao fim da campanha.

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