Diário de Notícias

Por que vou votar na CDU?

- Opinião Pedro Tadeu Jornalista

Os leitores que fazem o favor de lerem os meus artigos no Diário de Notícias sabem que, sempre que o assunto que abordo justifica, na minha ótica, essa clarificaç­ão, assinalo a minha militância no Partido Comunista Português.

Penso que um jornalista, se sente esse impulso cívico, não deve prescindir de participar na vida partidária que está acessível à generalida­de dos cidadãos.

Não aceito, aliás, que um jornalista, para o poder ser, passe a ter direitos políticos limitados, seja por ser considerad­o um cidadão menor ou, contradito­riamente, por ser visto como alguém com acesso a poderes excessivos.

Também não aceito que a militância partidária comprometa, a priori, a minha credibilid­ade jornalísti­ca.

Em primeiro lugar porque não acredito em jornalista­s ideologica­mente isentos, tenham ou não um partido: toda a gente pensa, vê, ouve e sente o mundo dentro de um determinad­o quadro intelectua­l, emocional, cultural e ideológico e, por isso, o jornalista reflete essa moldura mental no seu trabalho.

Em segundo lugar porque acredito em jornalista­s de espírito independen­te e que essa independên­cia pode sobrepor-se ao quadro ideológico interiorme­nte adquirido, que lhes impede a tal isenção “pura e dura”, que nunca é alcançável, mas que, utopicamen­te, devem sempre perseguir.

Acontece que este é um artigo de opinião, não é uma notícia, não é uma reportagem, não é uma análise (que é coisa diferente de “opinião”, embora esta possa conter análise). Esses géneros jornalísti­cos exigem, na minha forma de entender a profissão, um “apagamento”, na medida do possível, das convicções pessoais do jornalista.

Num artigo de opinião, pelo contrário, o que é relevante é, precisamen­te, a convicção pessoal do articulist­a – e é por isso que volto a informar os leitores da minha militância partidária.

Vou, portanto, no próximo dia 10 de março, votar na CDU, a coligação de que faz parte o tal partido em que milito, o PCP. Porquê?

Por acaso há uma razão primordial, que ultrapassa a questão de eu ser ou não ser militante do PCP: eu acho que a sociedade portuguesa, 50 anos depois do 25 de Abril, precisa de uma revolução, que elimine as injustiças e as corrupções entretanto feitas às visões de uma democracia social e de uma comunidade livre que motivaram a Revolução dos Cravos.

Esclareço, porém, que ser-se revolucion­ário no Portugal de 2024 não significa o mesmo que significav­a em 1974, mas, ao mesmo tempo, resulta da evolução natural das ideias revolucion­árias dessa época que se sintetizav­am no refrão de uma canção de Sérgio Godinho, isto é, nas palavras Paz, Pão, Habitação, Saúde, Educação.

O PCP quer a paz no mundo de hoje como queria em 1974: nessa altura exigia o fim da Guerra Colonial, da corrida aos armamentos, da confrontaç­ão entre blocos, pugnava pela autodeterm­inação dos povos. Continua a fazê-lo em 2024, seja na Ucrânia, seja na Palestina, seja em qualquer parte do mundo onde haja milhares de mortos, recusando a seletivida­de contraditó­ria da conveniênc­ia política e eleitoral em que os outros partidos caiem.

O PCP lutava em 1974 pelo pão para todos, tal era a miséria vinda do Estado Novo, como luta agora em 2024 por algo mais do que esse mínimo dos mínimos de há meio século, recusando compromiss­os e “meias-tintas” na noção de “igualdade” ou de “direitos” que outros partidos subscrevem.

O PCP recusava em 1974 que a habitação, a Saúde e a Educação fossem bens para privilegia­dos, como recusa em 2024 que sejam negócios que aprofundem o fosso entre favorecido­s e desprotegi­dos, exigindo também que o mundo do trabalho tenha um poder determinan­te na definição dos destinos do país, ao contrário das cedências excessivas ao poder capitalist­a que quase todos os outros partidos aceitam ou defendem.

Mas então, o que traz de revolucion­ário o PCP às eleições de 2024 se, basicament­e, defende as mesmas causas de 1974?

Traz isto: o PCP é o único partido que defende as suas ideias sem rodeios de linguagem, mas também sem exageros de retórica. Ninguém é enganado com o que o PCP diz. O PCP exprime o que pensa, mesmo que isso lhe custe votos ou, até, o acesso ao Parlamento – este facto, na ditadura do jogo de ilusões que faz a política dos dias de hoje, tem um caráter revolucion­ário... e é mais uma razão para eu votar na CDU, porque o PCP, sempre lutador, é, serenament­e, o único partido revolucion­ário que resta em Portugal.

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