Moody’s: taxas do BCE vão levar ano e meio a descer e ficam em 2%
Taxas de juro na Zona Euro começam a baixar no segundo trimestre deste ano e devem estabilizar em 2% durante vários anos, antecipa a agência de rating norte-americana.
As taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE), atualmente em máximos, devem começar a descer “no segundo trimestre deste ano”, prevendo-se que este ciclo de alívio monetário possa durar ano e meio, disse ontem a agência de rating Moody’s num seminário virtual no qual apresentou novas previsões para a economia mundial. Findo esse ano e meio, a taxa de juro de referência (de refinanciamento ou refi) da Zona Euro deve estabilizar em 2% durante vários anos, desde que não haja uma nova crise grave.
Desde setembro que esta taxa refi está em 4,5%. Durante mais de seis anos, até à crise inflacionista que rebentou no início de 2022, que as taxas do BCE estiveram em mínimos (0% ou negativas).
Madhavi Bokil, uma das vice-presidentes da Moody’s e economista especializada na área da dívida e da estratégia de crédito, deixou claro que “a economia mundial está a transitar para um equilíbrio pós-pandémico, com uma normalização constante da atividade económica nos mercados avançados e emergentes”.
“Uma aterragem suave parece estar ao alcance de várias economias avançadas, devido a políticas eficazes, à melhoria dos equilíbrios entre a oferta e a procura e, devemos dizê-lo, a alguma boa sorte, como os invernos amenos na Europa”, que permitiram domar mais rapidamente a inflação energética e que esta situação não penalizasse ainda mais as economias.
“Para além da robustez da economia dos Estados Unidos (rating Aaa negativo), as recuperações sustentadas e mais fortes do que o previsto após a pandemia em vários países de mercados emergentes contribuem para um quadro de crescimento construtivo”, acrescentou Madhavi Bokil.
Questionada sobre o futuro próximo das taxas de juro, a especialista declarou que “a Reserva Federal dos EUA (Fed) e BCE começarão provavelmente a reduzir as taxas de juro no segundo trimestre”.
“Os riscos geopolíticos e a inflação permanecem como potenciais ameaças às perspetivas. O cenário global de produção e comércio evoluirá em conjunto com as mudanças geopolíticas, mas, no entanto, os riscos financeiros permanecem no nosso radar”, afirmou.
Mas uma coisa parece ser mais clara agora. A economia dos EUA, a maior do mundo, parece estar a aguentar-se melhor do que a europeia, o que pode levar a Fed a resistir durante mais algum tempo do que o BCE a começar a cortar taxas.
A agência de rating prevê que os EUA abrandem um pouco, mas que, ainda assim, consigam crescer 2,1% este ano. A Zona Euro está bem pior: está quase estagnada, devendo avançar uns magros 0,8% em 2024.
Madhavi Bokil constata que “a Reserva Federal dos EUA pode dar-se ao luxo de ser paciente – dada a saúde da economia dos EUA face a uma política monetária restritiva –, mas o fraco contexto económico na Zona Euro sugere que o BCE não adiará por muito tempo a flexibilização da sua política [ciclo de descidas de taxas]”.
“A taxa de inflação subjacente da Zona Euro, isto é, excluindo os preços dos produtos alimentares e da energia, diminuiu pelo sexto mês consecutivo para 3,3% em janeiro, o que implica que as pressões sobre os preços estão de facto a aliviar”, acrescentou.
“Assim sendo, esperamos que o BCE inicie o seu ciclo de redução das taxas no segundo trimestre, com uma elevada probabilidade de que começará a cortar mais ce(Baa1 do do que a Fed”, disse a alta responsável da Moody’s.
A avaliadora da qualidade das dívidas toma nota de que “o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro no quarto trimestre, de apenas 0,1% em relação ao último trimestre de 2022, indica que a atividade económica está mesmo estagnada”.
“Embora a Alemanha continue a ser a principal fonte desta fraqueza, a economia francesa também está a atravessar uma fase de abrandamento. Entretanto, a dinâmica económica continua a ser positiva noutros países, como Itália (rating Baa3 estável), Espanha estável) e Portugal (A3 estável)”, diz a agência de rating.
“A fraqueza na área do euro resulta principalmente dos efeitos duradouros do choque sem precedentes no aprovisionamento energético em 2022, dos efeitos do subsequente ciclo de subida das taxas de juro nos consumidores e na indústria e da fraqueza das exportações, embora em graus variáveis em toda a região”, concluem.
Assim, no que respeita às indicações sobre a orientação futura da política monetária [forward guidance], a Moody’s acredita que os bancos centrais manterão tudo em aberto, continuando a enfatizar a dependência dos dados e adotando abordagens “reunião a reunião” à medida que o ciclo de redução das taxas progride.
“Além disso, dada a dificuldade em estimar as taxas diretoras neutras em 2025, os bancos centrais ainda não estão em posição de se comprometerem com trajetórias específicas para as taxas”, rematam os economistas da Moody’s.
O BCE reúne amanhã, quinta-feira, em Frankfurt, para decidir o que fazer com as taxas de juro e os restantes programas monetários, mas a esmagadora maioria dos observadores da instituição liderada por Christine Lagarde diz que deve ficar tudo na mesma, para já.
A Zona Euro, como um todo, está mesmo estagnada, embora a dinâmica continue a ser positiva noutros países, como Itália, Espanha e Portugal, afirma a Moody’s, no estudo ontem divulgado.