Discurso sobre o estado da união é prova de vida para Joe Biden
Presidente e mais do que provável candidato a novo mandato joga a sua imagem na mensagem anual aos senadores e representantes. Além de discordar das suas políticas, eleitorado norte-americano desconfia das suas capacidades devido à idade.
Na tradição instituída de o presidente norte-americano apresentar um balanço presencial às duas câmaras do Congresso, Joe Biden inovou em 2023 ao fazê-lo em março, um ano depois de a ala extremista dos republicanos também ter rompido com o passado ao depreciar o discurso com apupos e provocações, receita repetida no ano passado. Mas se então os analistas consideraram que o democrata saiu por cima, as circunstâncias agora são outras. Decorrem as primárias democratas e republicanas para a escolha dos candidatos às presidenciais de novembro e Biden, apesar dos números favoráveis da economia do país, não consegue deixar para trás a impopularidade. Aos 81 anos, a idade pesa para os eleitores, pelo que mais do que o conteúdo é a forma como Joe Biden se apresentar hoje à noite que fará a diferença. Um teste de fogo para a perceção pública num dos momentos em que terá maior audiência.
“Vai ser um momento extremamente importante para ele”, reconheceu a assessora de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, ao antever o discurso sobre o estado da união de Joe Biden. “Está desejoso de falar sobre as realizações que fez nos últimos três anos e também sobre a visão que tem para o país.”
Os indicadores da economia são positivos – o fator crucial para a reeleição de um chefe de Estado dos EUA –, em sentido inverso à popularidade de Joe Biden, que ao fim do sexto mês na Casa Branca não voltou a ter uma maioria de eleitores a aprovar o seu trabalho. Nas mais recentes sondagens, a margem de reprovação varia entre 8% (Morning Consult) e 16% (YouGov/Economist). Já a sondagem Gallup demonstra que a sua administração vai em contramão em temas como a imigração (67% contra), o Médio Oriente (62%), os assuntos externos em geral (61%), mas também a economia (61%). Dados já de si preocupantes, mas mais ainda se se juntarem estudos de opinião sobre a idade e as capacidades do democrata. Apenas 20% dos norte-americanos dizem-se extremamente ou muito confiantes nas suas capacidades mentais e em contrapartida 63% dizem-se pouco ou nada confiantes (Associated Press-NORC). Os resultados não são muito mais favoráveis para o provável candidato republicano, Donald Trump, que aos 77 anos é visto com desconfiança por 57% dos norte-americanos e com confiança por 28%. Noutra sondagem (Quinnipiac University), 67% pensa que Biden é demasiado velho para poder cumprir um segundo mandato com eficácia, ao passo que 41% pensa o mesmo de Trump.
“O discurso é um exercício de equilibrismo na corda bamba, e isto para um presidente cuja posição não tem sido muito segura”, disse à NBC News Jeff Shesol, que foi chefe adjunto da equipa que redigia os discursos do presidente Bill Clinton. “Para muitos observadores, o objetivo do exercício é ver se ele tropeça. Não é tanto o que ele diz, mas a forma como o diz.” Para Patrick Gaspard, diretor do grupo de reflexão Center for American Progress, “a vivacidade está, naturalmente, no centro das atenções”. Em declarações ao Politico, este antigo funcionário da administração de Barack Obama é da opinião que as pessoas não se vão recordar do que se diz, mas vão lembrar-se de como se vão sentir.
Quanto ao discurso, é esperado que Biden faça um balanço dos investimentos nas infraestruturas, que lance o projeto de uma reforma fiscal para aliviar a classe média e penalizar as grandes empresas e que apresente as eleições como a escolha entre o progresso por si representado e a ameaça à democracia – e aos aliados como a Ucrânia – que seria a vitória de Trump. Um tema espinhoso será Gaza. Sem cessar-fogo acordado, o democrata terá de pesar as palavras, tendo em conta a impopularidade do apoio militar a Israel.
Convites recusados
É tradição a primeira-dama convidar para as galerias da Câmara dos Representantes pessoas ligadas a temas a que o presidente faz menção. Neste ano estará Kate Cox,